Militares sem farda fiscalizam eleição e preparam um relatório para o TSE
TCU, por sua vez, diz que auditores não constataram irregularidades em seções eleitorais visitadas
A fiscalização das Forças Armadas do primeiro turno das eleições deve ser consolidada em um relatório a ser encaminhado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nos próximos dias.
O documento terá informações sobre diversas etapas da auditoria do processo eleitoral, incluindo a checagem de boletins de urna (BUs), principal motivo de atrito entre o Ministério da Defesa e corte eleitoral às vésperas do pleito.
Neste domingo (2), militares de 153 municípios foram a seções para tirar fotos de cerca de 400 boletins de urna. Os arquivos foram enviados para uma equipe de técnicos das Forças Armadas concentrada no Ministério da Defesa, em Brasília.
A equipe fará a checagem desses dados. O objetivo é verificar se os votos registrados nos boletins de urna são os mesmos que chegam ao TSE.
Abordado pela imprensa após votar em Brasília, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, não quis comentar a fiscalização.
A conferência dos votos deveria ser finalizada ainda na noite deste domingo (2), mas o resultado da checagem será mantido em segredo no Ministério da Defesa até a conclusão do relatório.
A pasta informou ao TCU (Tribunal de Contas da União) na sexta-feira (30) que, se encontrar divergências nos números, um relatório será encaminhado ao TSE para que o próprio tribunal adote as providências para análise do caso.
O tribunal de contas também fez uma fiscalização própria e informou que os auditores que acompanharam as votações em 540 seções eleitorais e visitaram os tribunais regionais eleitorais não constataram irregularidades.
O grupo, composto por servidores concursados do TCU, acompanhou o teste de integridade nas urnas eletrônicas. O processo tem por objetivo confirmar se os votos registrados nas urnas são os mesmos calculados nos boletins de urna ao final da votação.
A equipe de auditores de plantão agora checa os dados coletados nos boletins gerados em 4.161 urnas eletrônicas selecionadas aleatoriamente. Essa amostra, segundo o TCU, tem grau estatístico de confiabilidade de 99%. Os dados serão comparados aos divulgados pelo TSE.
Em caso de falhas, uma resolução da corte eleitoral prevê que as entidades fiscalizadoras poderão solicitar a verificação extraordinária dos sistemas eleitorais, desde que sejam “relatados fatos e apresentados indícios e circunstâncias que a justifiquem”.
Além da cotejamento dos boletins de urna com os dados registrados no TSE, em outra frente do trabalho, os militares também acompanharam a realização do teste de integridade em todos os estados.
As equipes das Forças Armadas na fiscalização tinham, em média, quatro pessoas. Ao final do teste, os grupos finalizaram relatórios com os resultados do teste de integridade, que ficarão com técnicos para a consolidação final.
Durante todo o dia, os militares se comunicaram com os técnicos das forças por mensagens pelo aplicativo Signal. Segundo relatos feitos à Folha, as equipes de fiscalização foram instruídas a enviar os boletins de urna e atualizar constantemente as fases do teste de integridade pela ferramenta.
Para evitar exposição, os militares foram orientados a realizar as etapas da fiscalização sem fardas.
A participação das Forças Armadas na fiscalização do pleito foi inédita neste ano e causou mal-estar entre o governo e o TSE. Ex-presidente do tribunal, o ministro Alexandre de Moraes incluiu os militares na CTE (Comissão de Transparência Eleitoral) e na lista de entidades fiscalizadoras do pleito.
O objetivo inicial era reduzir as críticas que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fazia às urnas eletrônicas, mas o efeito foi o contrário: o mandatário aumentou os ataques ao sistema eleitoral e usou os questionamentos para desacreditar a Justiça Eleitoral.
Apesar das insinuações golpistas de Bolsonaro, generais ouvidos pela Folha afirmaram que a atuação das Forças Armadas não busca promover uma ruptura institucional. Segundo eles, a tentativa é ajudar no aprimoramento do processo eleitoral.