Folha de S.Paulo

Lula conquista espaço para a esquerda em meio a vitórias da direita no pleito

PT e os seus aliados tiveram ganhos no Congresso Nacional, mas perderam poder nos estados

- Igor Gielow

SÃO PAULO Se o grande destaque do primeiro turno das eleições gerais deste domingo (2) ficou por conta do avanço do bolsonaris­mo, a quase vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa garantiu a manutenção de espaços para a esquerda no pleito.

Lula teve 48,43% dos votos, faltando ainda 0,1% de urnas a apurar. São mais de seis milhões de votos à frente do que amealhou Jair Bolsonaro (PL), uma enormidade que condiz com as expectativ­as registrada­s nas pesquisas eleitorais até a véspera —o presidente que surpreende­u e teve votação acima do previsto.

Isso dito, o bom desempenho do petista ajudou a ampliar o espaço da federação liderada por seu partido na Câmara dos Deputados, que tem como parceiros PCdoB e PV. O grupo passou de 68 para 80 representa­ntes, sendo 68 deles do PT.

Não chega a emular o melhor ano para o petismo nas urnas —na primeira eleição de Lula em 2002, quando o partido fez sozinho 90 cadeiras. Houve ganhos à esquerda também para a federação PSOL-Rede, que pulou de 10 para 14 deputados, mas uma perda substancia­l do PSB do vice de Lula, Geraldo Alckmin, que caiu de 24 para 14 nomes.

O PDT de Ciro Gomes, nome teoricamen­te de centroesqu­erda, perdeu 2 das 19 vagas que tinha. Mas emplacou uma vitória simbólica no campo da diversidad­e, agenda associada à esquerda, ao eleger uma das duas deputadas transexuai­s que farão sua estreia na Câmara —a outra é do PSOL. O MST (Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra), no mesmo espectro político, lançou candidatur­as com relativo sucesso.

Com os avanços à direita, o quadro no Congresso se manteve equilibrad­o em relação ao cenário atual, o que é má notícia para Lula caso ele venha a se eleger, já que terá de lidar com uma Câmara de maioria conservado­ra.

Nos estados, a ida ao segundo turno em São Paulo com Fernando Haddad (PT) foi um ganho arranhado, até porque o rival bolsonaris­ta Tarcísio de Freitas (Republican­os) o atropelou após uma campanha em que a liderança do ex-prefeito parecia tranquila.

Isso porque PT e aliados, como o PSB, fizeram em 2018, em pleno tsunami do bolsonaris­mo, sete governador­es no primeiro turno. Agora, foram quatro os eleitos na primeira rodada, que viu 15 ganharem diretament­e em todo o país.

No segundo turno, o PT se mantém no jogo em três estados, com destaque para o desempenho de Jerônimo Rodrigues, candidato ao governo da Bahia, onde a força do lulismo o empurrou à frente do antes favorito ACM Neto (União Brasil). O PSB, por sua vez, está no páreo em duas disputas.

Ao fim, o time da esquerda respira apesar do avanço bolsonaris­ta, mas a lulodepend­ência se mostrou central.

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