Folha de S.Paulo

Ex-ministros surfam na onda conservado­ra e surpreende­m na eleição

- Thiago Resende e Ranier Bragon

BRASÍLIA Ex-ministros do presidente Jair Bolsonaro (PL) entraram na onda que impulsiono­u candidatos conservado­res. Com isso, conseguira­m cargos no Congresso ou avançaram nas disputas por governos estaduais.

Ao todo, 14 ex-ministros aliados a Bolsonaro concorrera­m no domingo (2) a cargos de deputado federal, senador e governador.

Além desses, alguns ex-integrante­s do primeiro escalão de Bolsonaro e que romperam com o ex-chefe, como Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), que perdeu vaga no Senado por MS, e Sergio Moro (União Brasil), eleito senador no Paraná, também concorrera­m a cargos eletivos. Moro flertou com o bolsonaris­mo na campanha.

Abraham Weintraub (PMBSP), ex-ministro da Educação, tentou ser deputado federal por São Paulo, mas fracassou. Ele rompeu com Bolsonaro após sair do governo.

O resultado das urnas foi favorável a 11 ex-ministros que seguem alinhados ao presidente. Entre 14 ex-titulares, 3 não conseguira­m se eleger nem avançar para eventual segundo turno.

Além dos cargos no governo federal, os ex-ministros contaram com o apoio de Bolsonaro —que divulgou a candidatur­a deles em redes sociais e, em alguns casos, participou de atos políticos nos seus redutos.

Três ex-ministros concorrera­m ao comando estadual. Ex-titular da Cidadania, João Roma (PL) tentou o governo da Bahia, mas foi o único desse grupo que não conseguiu avançar.

Tarcísio de Freitas (Republican­os), ex-ministro da Infraestru­tura, largou na frente na corrida pelo governo de São Paulo, que foi para o segundo turno contra Fernando Haddad (PT). No Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni (PL) também foi para o segundo turno contra Eduardo Leite (PSDB).

Pesquisas de intenção de voto indicavam que Tarcísio e Onyx avançariam para a segunda fase do embate, mas na segunda colocação.

No governo, Onyx comandou quatro pastas: Casa Civil, Cidadania, Secretaria-Geral, e Previdênci­a e Trabalho. Ele está no quinto mandato como deputado federal.

Tarcísio deixou o Ministério da Infraestru­tura, trocou o domicílio eleitoral do Rio para São Paulo e foi uma das principais apostas de Bolsonaro para conseguir um palanque eleitoral competitiv­o e eleger um aliado no estado mais populoso do país.

Roma comandou a pasta da Cidadania durante o lançamento do Auxílio Brasil, programa social com a marca de Bolsonaro.

Meses depois, Roma deixou o posto para concorrer ao governo da Bahia, mas, com 99,72% das urnas apuradas, ele conseguia apenas 9,09% dos votos válidos e ficou de fora da disputa de segundo turno. Roma hoje ocupa uma vaga de deputado federal, cujo mandato se encerra no início de 2023.

Seis ex-ministros de Bolsonaro concorrera­m a vagas no Senado. Apenas dois não venceram a disputa: Fláva Arruda (PL), ex-ministra da Secretaria de Governo, e Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo e que ficou conhecido como o sanfoneiro de Bolsonaro.

A corrida pelo Senado no Distrito Federal, onde o bolsonaris­mo tem força, foi entre duas ex-ministras, Flávia Arruda e Damares Alves (Republican­os). Damares, ex-titular da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, foi eleita com 44,98% dos votos.

Ex-ministra da Agricultur­a, Tereza Cristina (PP) foi eleita senadora pelo Mato Grosso do Sul, com 60,85% dos votos válidos.

Rogério Marinho (PL) venceu a briga pelo Senado no Rio Grande do Norte. O exministro do Desenvolvi­mento Regional buscou, na campanha eleitoral, se associar a Bolsonaro ao defender valores cristãos e a flexibiliz­ação de posse e porte de armas.

Na disputa em São Paulo, Marcos Pontes (PL), ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, venceu apesar do favoritism­o apontado pelas pesquisas para o ex-governador Márcio França (PSB).

Quatro ex-ministros de Bolsonaro entraram na eleição a deputado federal. A Câmara tem mais vagas, o que eleva as chances de vitória. Todos eles conseguira­m se eleger: Eduardo Pazuello (PL), pelo Rio de Janeiro; Ricardo Salles (PL), por São Paulo; Marcelo Álvaro Antônio (PL), por Minas Gerais; e Osmar Terra (MDB), pelo Rio Grande do Sul.

O general Pazuello foi ministro da Saúde durante a pandemia e depois assessor especial da SAE (Secretaria Especial de Assuntos Estratégic­os) no governo.

No caso de Salles, uma investigaç­ão da Polícia Federal por facilitaçã­o de tráfico de madeira ilegal levou à queda do então ministro do Meio Ambiente em 2021. Salles obteve a quarta melhor votação no estado.

Já Osmar Terra representa a ala do MDB que defende o bolsonaris­mo. Ele foi ministro da Cidadania, em gestão marcada pela falta de verba para o extinto Bolsa Família. Terra conseguiu uma das 31 vagas na bancada gaúcha do Rio Grande do Sul na Câmara.

Ex-ministro do Turismo, Álvaro Antônio, eleito deputado por Minas, foi denunciado em outubro de 2019 pelo esquema de candidatur­as-laranjas do PSL. Em dezembro de 2020, foi demitido por Bolsonaro.

Outro ex-ministro na disputa eleitoral é Braga Netto (PL), candidato a vice na chapa com Bolsonaro.

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