Folha de S.Paulo

É muito significat­ivo o que Bolsonaro fez nestas eleições, diz Arthur Lira

Presidente da Câmara critica institutos de pesquisa e afirma que algo precisa ser feito

- Camila Mattoso

BRASÍLIA O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que foi muito significat­ivo o desempenho de Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados na eleição deste domingo (2).

Para ele, Bolsonaro terá, se reeleito, uma base mais sólida no Senado, com mais “conforto” para tomar decisões e aprovar projetos.

“Foi muito significat­ivo o que Bolsonaro conseguiu. Ele elegeu os senadores que quis. PL fez 99 deputados federais. Existia uma avaliação positiva de vitória em 7 estados, mas o presidente foi bem em 13, com o DF. No caso de governador­es também foi excelente. Foi muito significat­iva a eleição que ele fez”, afirmou à Folha.

Para Lira, a eleição ficará mais fácil para Bolsonaro, já que a base nos estados estará mobilizada para a campanha nacional e não das regiões.

Ele criticou os institutos de pesquisas, disse que algo precisa ser feito sobre o assunto, mas descartou encampar a abertura de uma CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito).

“Há muita especulaçã­o. Tenho recebido muitos pedidos de CPI, mas não acho que seja o caso. Precisamos penalizar os institutos que erram, sim. Alguma coisa precisa ser feita. E estou falando de qualquer instituto, não de um específico”, disse o parlamenta­r.

O presidente da Câmara foi reeleito com 219 mil votos.

Lira foi peça chave na campanha, tendo sido o responsáve­l, por exemplo, por conduzir a aprovação no Congresso do pacote de bondades que era acalentado pelo bolsonaris­mo como essencial na sua tentativa de reeleição.

Bolsonaris­tas radicaliza­m discurso sobre fraude eleitoral

OBSERVADOR FOLHA/QUAEST

Paula Soprana, Renata Galf e Patrícia Campos Mello

SÃO PAULO Durante a apuração de votos no domingo (2), bolsonaris­tas radicaliza­ram o discurso de que houve fraude no pleito e que as Forças Armadas precisam agir.

Em grupos de WhatsApp e Telegram, o fato de Jair Bolsonaro (PL) ter recebido mais votos do que apontavam pesquisas de intenção em dias anteriores não surpreende­u.

Para os integrante­s dos grupos, o fato de Bolsonaro ter ficado cinco pontos atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seria prova de irregulari­dades na contagem, pois tinham certeza de que ele estaria na liderança.

O cenário foi detectado pelo Observador Folha/Quaest, que monitora 465 grupos de Telegram e 1.346 de WhatsApp.

Das 17h do domingo até 13h desta segunda (3), palavras como “fraude” e “fraudadas” apareceram 9.321 vezes em grupos bolsonaris­tas no Telegram e 6.232 no WhatsApp. O horário de maior destaque no Telegram foi entre 20h e 22h, com quase um terço das menções.

Já os termos “militares”, “FFAA”, “Forças Armadas” e “Exército” somaram 4.428 menções no Telegram e 2.350 no WhatsApp.

Como a Folha mostrou no domingo, os bolsonaris­tas dizem, sem qualquer evidência, que as pausas de apuração no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foram usadas para recalibrar, de forma fraudulent­a, os votos para Lula.

“A cada 12% de apuração, se Lula sobe 1%, JB desce 0,5%”, diz a mensagem mais viral no Telegram, que segue: “isto acontecend­o, e se confirmand­o, é sinal de algoritmo e fraude eleitoral. As Forças Armadas deverão estar de olho neste acontecime­nto”.

Essa mensagem apareceu no mínimo 200 vezes em grupos de Telegram e foi amplamente difundida no WhatsApp, das 22h de domingo até 13h desta segunda-feira (3).

“Comparem com o resultado oficial. Estamos diante da maior manipulaçã­o da história”, “Urgente: Bolsonaro elege quase todo mundo menos ele? [...] ele, que elegeu tanta gente, não conseguiu se eleger no primeiro turno?” e “A prova de que há fraude é que não se vê, praticamen­te, nenhuma comemoraçã­o, exceto de alguns gatos pingados” são exemplos de mensagens virais no levantamen­to do Observador Folha/Quaest.

Em um dos grupos monitorado­s, cerca de cem participan

“Há muita especulaçã­o. Tenho recebido muitos pedidos de CPI, mas não acho que seja o caso. Precisamos penalizar os institutos que erram, sim. Alguma coisa precisa ser feita

Arthur Lira (PP-AL) presidente da Câmara dos Deputados

tes se reuniram em um chat de áudio no domingo à noite para conversar sobre o pleito. O apelo às Forças Armadas deu o tom central do debate. Uma das presentes disse que eleitores do Nordeste precisaria­m contestar o resultado oficial para que os votos que deram a Bolsonaro fossem validados, já que a tese é de que não teriam sido computados.

Outro defendeu que era preciso ter união e patriotism­o porque as próximas semanas poderiam até gerar uma crise financeira, já que era preciso parar o país a partir de uma missão de Garantia da Lei e da Ordem expressa por Bolsonaro.

Pelos dados da Palver, que monitora mais de 15 mil grupos, das 10 mensagens que mais viralizara­m, 9 eram sobre supostas fraudes eleitorais.

A maioria se referia diretament­e, com imagens, à votação de domingo. O levantamen­to indica que bolsonaris­tas vão manter, ou intensific­ar, a narrativa falsa sobre fraude.

Entre os conteúdos mais compartilh­ados, estão vídeos em que eleitores mostram urnas que supostamen­te estavam “roubando”, já que o nome de Bolsonaro não teria aparecido nas opções. Em outras duas, alguém teria votado ilegalment­e no lugar do eleitor. Além disso, há vídeo de supostas urnas chegando de táxi em uma escola, onde já havia pessoas para manipulá-las.

A narrativa de fraudes não é corroborad­a por observador­es internacio­nais. O chefe da missão da Uniore (União Interameri­cana de Organismos Eleitorais), Lorenzo Córdova, classifico­u a urna eletrônica brasileira como uma “fortaleza da democracia”.

Outra mensagem que viralizou se refere ao fato de muitos senadores e deputados bolsonaris­tas terem sido eleitos, o que seria contraditó­rio com o segundo lugar de Bolsonaro.

Diferentes teorias conspirató­rias têm sido mobilizada­s desde domingo. Algumas reprisam narrativas da eleição de 2014, como a de que as variações nos percentuai­s de cada candidato ao longo da apuração são indicativo de fraude. A exemplo de 2018, circularam diversos vídeos de pessoas que relatam problema na hora de votar, com urnas supostamen­te autocomple­táveis que dariam o número 13.

Há semanas, Bolsonaro faz declaraçõe­s de que seria eleito no primeiro turno. Ele chegou a afirmar que só não teria 60% dos votos se ocorresse algo “anormal” no TSE. Em entrevista à imprensa após a definição do primeiro turno, no entanto, adotou um tom de aceitação, embora tenha dito que aguarda um parecer das Forças Armadas sobre a votação.

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Pablo Valadares - 14.ago.22/Câmara dos Deputados O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL)
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