Economia de baixo carbono gera oportunidades em diversos setores
Atransição para uma economia de baixo carbono vai passar por mudanças nas áreas de transporte, gerenciamento de resíduos, geração distribuída de energia e economia circular. São soluções que vão mudar as cidades e gerar inúmeros benefícios, como mostrou o painel “Novas oportunidades para a transição energética”, conduzido por Francisco Scroffa, executivo responsável pela Enel X no Brasil.
Um dos maiores desafios é a eletrificação do transporte público. Existem hoje no Brasil menos de cem ônibus movidos a bateria em circulação. “É um número ainda insignificante perto do total da frota”, afirmou Iêda Maria Oliveira, diretora da Eletra e coordenadora do grupo de veículos pesados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
“Os caminhões elétricos entraram muito depois no mercado, e a frota atual já passa de mil unidades em circulação no país. Isso mostra que temos ainda muito a fazer e grandes oportunidades para os ônibus”, afirmou Iêda.
Estudos apontam que se os 14 mil ônibus da frota de São Paulo fossem trocados por elétricos, equivaleria a anular todas as emissões geradas pelos carros que circulam na cidade. É como se todos os automóveis fossem retirados das ruas de uma só vez.
“Um dos desafios que se tem na mobilidade é a discussão se é um ou outro que vai prevalecer. É elétrico ou a etanol? É elétrico ou a hidrogênio? Na minha opinião, são todos, porque a grande facilidade que o Brasil tem é essa diversidade da matriz energética e temos que aproveitar isso e não atrasar as oportunidades”, disse Iêda.
A infraestrutura para abastecer os ônibus elétricos, segundo Iêda, é outro entrave que precisa ser resolvido. “As empresas de energia precisam equipar as garagens e as recargas em terminais para atender uma demanda forte de energia em um sistema que funciona 24h por dia, de segunda a segunda”, afirmou.
Mas hoje, segundo Scroffa, já existem tecnologias que permitem o abastecimento e a recarga para que o setor público possa prestar o serviço de mobilidade elétrica. “Um exemplo são os projetos no Chile e na Colômbia, países onde já existem mais de 3.000 ônibus elétricos circulando todos os dias”, afirmou.
GERAÇÃO DISTRIBUÍDA
Outra forma de avançar na transição é com a chamada geração distribuída de energia, caracterizada pela proximidade entre os geradores e os usuários e que funciona como redes neurais, com várias conexões.
“Só a área de micro e minigeração distribuídas cresceu 84% de 2020 para 2021. Isso traz um monte de desafios, mas também uma infinidade de oportunidades de negócios”, disse Giovani Machado, diretor de estudos econômico-energéticos e ambientais da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Segundo Machado, em 2031, a geração distribuída pode chegar a mais de 20% do consumo de eletricidade.
Não é possível falar em descarbonização sem olhar também para a geração de resíduos. Muitos processos produtivos geram resíduos e dar um fim neles representava custo para as empresas. “Hoje, a solução é repensar a lógica disso, para buscar formas de reutilizar e valorizar esses resíduos”, afirmou Leon Tondowski, CEO do Grupo Ambipar, especializado em gestão ambiental.
Segundo Tondowski, cada setor industrial precisa pensar o resíduo de forma individualizada, para encontrar seus próprios caminhos.
Do ponto de vista social, o maior entrave está no pós-consumo, com o descarte de materiais. “Hoje, temos dado uma resposta a esse desafio por meio da integração com cooperativas de catadores. São cerca de 500 as cooperativas que trabalham com a Ambipar”, afirmou Tondowski.
DESMATAMENTO
Como o Brasil pode chegar ao chamado net zero? Um estudo realizado pelo Carbon Disclosure Project (CDP) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aponta que a descarbonização deve necessariamente passar pelo fim do desmatamento e pela conservação das florestas e por uma participação maior das fontes renováveis, como eólica, solar e biomassa, na matriz energética.
“Outro ponto importante são as novas tecnologias, que devem ser implementadas no país de forma socialmente justa, para que possam realmente contribuir com a sociedade e o meio ambiente”, afirmou Luz Dondero, analista de engajamento corporativo do CDP.
Já nos setores de difícil abatimento de emissões, a recomendação de Giovani Machado, da EPE, é o investimento em diferentes tecnologias, como as usadas para captura, uso e armazenamento de carbono, e em inovações, como o hidrogênio verde.
“A transição energética não é uma virada de chave, mas um processo, e precisamos ter um leque de alternativas que ajudem grandes, médias e pequenas empresas, e os consumidores, a reduzirem as emissões”, afirmou Machado.
Transição energética é um tema muito importante, primeiro porque o Brasil é um celeiro de condições e de ofertas de recursos naturais, além de oferecer oportunidades de negócios para produção e uso de energia sustentável e renovável. O Brasil é um porto seguro para investimentos neste setor” Camilla de Andrade Gonçalves Fernandes Diretora de Programa da Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia, que assistiu ao debate