Folha de S.Paulo

Lula recupera maioria dos municípios que deixaram PT em 2018

Candidato retomou 63% dos redutos petistas perdidos na última eleição, com resultado melhor em cidades maiores

- Thiago Fonseca, Raphael Hernandes e Letícia Padua

São Paulo Para garantir a vantagem no primeiro turno das eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contou com a retomada de 226 redutos eleitorais petistas que haviam debandado para outros partidos em 2018. Com 99,9% das urnas apuradas até a conclusão desta reportagem, Lula tinha 48,4% dos votos válidos no domingo (2) e vai para o segundo turno contra Jair Bolsonaro, que tinha 43,2%.

Levantamen­to da Folha avaliou as 357 cidades que votaram majoritari­amente nos candidatos do PT no primeiro turno entre 2002 e 2014, mas optaram por Jair Bolsonaro (PL, então no PSL) ou por Ciro Gomes (PDT) em 2018. A análise leva em consideraç­ão dados até as 23h do domingo.

Houve um empate em Coronel Sapucaia (MS) entre os dois candidatos que vão para o segundo turno, que terminaram com 4.254 votos cada um. A disputa já havia sido apertada em 2018: 40% a 38,6% para Bolsonaro.

No grupo de municípios retomados, Lula obteve 48,3% dos votos válidos. Recebeu mais da metade dos tentos em 156 desses lugares.

Em Ananindeua (PA), a diferença foi a mais apertada: 45,3% dos votos válidos ao petista, ante 43,6% do atual presidente. Em 2018, o capitão reformado obteve o mesmo percentual de votos, superando os 24,8% de Fernando Haddad (PT). Na ocasião, o agora candidato ao governo de São Paulo foi o substituto de Lula, que teve sua candidatur­a barrada pela Justiça.

Por outro lado, a vitória mais expressiva foi em Várzea Alegre (CE), onde Lula ficou com 80% dos votos —Bolsonaro teve 14,5%. Por ali, a vitória em 2018 foi de Ciro Gomes, com 46,3% dos votos (ficou com 4,3% neste pleito).

No primeiro turno de 2018, sete capitais onde o PT reinava preteriram o partido. Elas se concentrar­am principalm­ente na região Norte. Jair Bolsonaro levou Manaus, Belém, Macapá, Porto Velho, João Pessoa e Natal. Além delas, Fortaleza migrou para Ciro Gomes.

Agora, quatro dessas voltaram para o PT: Belém, João Pessoa, Natal e Fortaleza.

Em Manaus, Bolsonaro teve um percentual menor dos votos do que em 2018, mas ainda ficou acima dos 50%. Os 57,3% do primeiro turno da eleição anterior viraram 53,6% agora, ante 37% de Lula.

Foi na capital amazonense que o atual governo viveu um de seus momentos mais críticos durante a pandemia. Em janeiro de 2021, a falta de oxigênio em hospitais provocou caos no sistema de saúde local.

O governador e candidato a reeleição, Wilson Lima (União Brasil), dividiu palanque com o presidente, mas foi vaiado. Sua gestão também foi marcada por crises ambientais e de segurança, bem como suspeitas de corrupção.

No estado de São Paulo, onde os candidatos focaram suas campanhas, o PT conseguiu retomar 20 dos 27 redutos que havia perdido para Bolsonaro em 2018. Mesmo assim, a vantagem nos votos recebidos no estado foi de Bolsonaro.

Francisco Morato, na Grande São Paulo, ilustra bem a retomada petista. Por lá, a situação foi a mais apertada entre os redutos eleitorais do PT com mais de 10 mil habitantes convertido­s na eleição passada —37,4% a 32,6% para Bolsonaro ante Haddad. Agora, Lula conquistou 57,9% dos votos e o atual presidente, 33,5%.

Na outra ponta da lista está Sumaré, na região de Campinas. Por ali, também reduto petista, Bolsonaro ganhou com folga em 2018: 57,2% a 20,6%, uma diferença de 36,6 pontos percentuai­s. Apesar de ter visitado pessoalmen­te a região, Lula não conseguiu reverter a situação por ali: teve 40,1% dos votos, ante 51%.

No geral, o PT conseguiu recuperar municípios mais populosos. Em média, cidades com 74,4 mil habitantes, segundo o Censo de 2010. O bolsonaris­mo prevaleceu em cidades com média de 19,3 mil.

As cidades mantidas por Bolsonaro receberam mais verba federal. O valor médio de transferên­cias per capita foi de R$ 6.000, ante R$ 4.500 naquelas que preferiram Lula, consideran­do todo o atual mandato presidenci­al, com valores até setembro de 2022 e corrigidos pela inflação.

A virada petista aconteceu em locais onde um percentual maior de famílias recebia o Auxílio Brasil. Entre julho e setembro deste ano, 34,2% das famílias nos municípios que optaram mais por Lula receberam o valor, ante 22,6% nas localidade­s bolsonaris­tas.

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