Bancada feminina no Congresso cresce menos do que em 2018
Grupo terá nomes fortes do bolsonarismo e estreia de transexuais em 2023
bRasÍlIa e sÃo paUlo Apesar dos novos incentivos a candidaturas de mulheres nas eleições de 2022, a bancada feminina no Congresso cresceu menos do que em 2018.
Em 2023, o número de deputadas passará de 77 para 91. O balanço inclui os dados do Amazonas, único estado que ainda não terminou a apuração dos votos (99,9%).
No Senado, quatro mulheres foram eleitas: as ex-ministras do presidente Jair Bolsonaro (PL) Damares Alves (Republicanos-DF) e Tereza Cristina (PP-MS), a deputada estadual Teresa Leitão (PT-PE) e a ex-deputada federal Professora Dorinha (União-TO).
Nesta eleição, estavam em disputa 27 vagas para o Senado, um terço da Casa. Cada estado elegeu um representante. Em 2018, eram 54 vagas, duas por unidade da Federação.
A bancada final do Senado em 2023 contará com 12 parlamentares mulheres, ou 14,8% do total. O número poderá ser menor, pois há senadoras que hoje ocupam o cargo como suplentes —caso de Eliane Nogueira (PP-PI), mãe do atual ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI).
Se na eleição passada o salto feminino na Câmara foi de 51% —de 51 para 77 parlamentares—, neste ano houve um incremento de 18%, considerado frustrante por especialistas. A nova bancada feminina representará um quinto do total de deputados, número distante da paridade de gênero no Brasil, já que as brasileiras são 52% da população.
A pesquisadora Débora Thomé, especialista em representatividade feminina e uma das responsáveis pela pesquisa +Representatividade, do Instituto Update, afirmou que o resultado era esperado.
“Enfatizamos ao longo deste ano que, enquanto os partidos não apoiarem de forma mais intensa candidaturas femininas, esse cenário irá se manter. Vale tanto para conservadoras quanto para progressistas. É preciso mudar as regras”, disse.
Quatro estados não elegeram nenhuma mulher para a Câmara: Alagoas, Tocantins, Paraíba e Amazonas, este último em contagem preliminar.
Já Acre e Amapá são os estados que proporcionalmente elegeram o maior percentual de mulheres, com 37,5% do total. O terceiro lugar fica com Goiás, onde as seis eleitas são 35,3% da bancada.
A lógica da bancada feminina eleita em 2022 seguiu parecida com o pleito de 2018, quando a expansão foi capitaneada por estreantes, com bolsonaristas de um lado e candidatas negras progressistas de outro, impulsionadas pela “onda Marielle Franco”.
Expoentes dessas categorias, como Carla Zambelli (PLSP), Bia Kicis (PL-DF) e Talíria Petrone (PSOL-RJ), se reelegeram com votações expressivas.
À esquerda, a Câmara terá uma inédita bancada de parlamentares trans. A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) e a vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert (PDT) foram eleitas cada uma com mais de 200 mil votos.
O número de mulheres indígenas também aumentou, de uma para três deputadas. A mais votada foi a coordenadora da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Sônia Guajajara (PSOLSP), seguida por Célia Xakriabá (PSOL-MG) e pela bolsonarista Silvia Waiãpi (PL-AP). A bancada feminina ambientalista será reforçada pela ex-ministra Marina Silva (Rede-SP).
Nas duas Casas, chamam a atenção o aumento de mulheres conservadoras e a derrota de parlamentares consideradas boas articuladoras políticas do centrão. Damares, um dos principais nomes da chamada “ala ideológica” do bolsonarismo, derrotou na disputa pelo senado a também exministra de Bolsonaro Flávia Arruda (PL-DF).
O tímido aumento da bancada acontece a despeito da lei que passou a destinar verba em dobro do fundo partidário e do fundão eleitoral para os partidos por votos em mulheres e negros.
Em 2018 o Supremo definiu que as legendas tinham de repassar a verba de campanha às mulheres proporcionalmente ao número de candidatas —ou seja, ao menos 30%.