Folha de S.Paulo

Tarcísio x Haddad embaralha as alianças partidária­s em SP

Disputa local pode travar acordos que Lula quer fechar com MDB, PSDB e PSD

- Carolina Linhares e Joelmir Tavares Colaborara­m Catia Seabra, Carlos Petrocilo, Victoria Azevedo, Mariana Zylberkan e Marcelo Toledo

são paulo Com um segundo turno que opõe o PT e o bolsonaris­mo, as eleições para a Presidênci­a da República e para o Governo de São Paulo têm um xadrez de apoios partidário­s que se embaralham entre Lula (PT) e Fernando Haddad (PT) e entre Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republican­os).

O resultado do primeiro turno foi um revés tanto para o ex-presidente Lula, que pareceu ter chances de vencer no primeiro turno, quanto para Haddad, que liderava as pesquisas de intenção de voto, mas terminou em segundo lugar, atrás de Tarcísio.

Com 99,99% de apuração, Lula teve 48,43% ante 43,2% de Bolsonaro. Em São Paulo, Tarcísio terminou com 42,32% contra 35,70% de Haddad.

A disputa em São Paulo pode ser um entrave para que Lula consiga atrair as alianças de centro que almeja no segundo turno —com MDB, PSDB e PSD, por exemplo.

Por outro lado, partidos que no plano nacional já integravam as coligações de Lula ou de Bolsonaro, mas em São Paulo apoiavam o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que terminou em terceiro, devem migrar mais facilmente para Haddad ou Tarcísio.

É o caso do PP, que esteve com Rodrigo em São Paulo, mas apoia a reeleição de Bolsonaro. Nesta terça (4), Tarcísio estará pela manhã no diretório estadual do PP em evento para anúncio de apoio.

Solidaried­ade e Avante, por outro lado, estão na coligação de Lula e também apoiavam Rodrigo em São Paulo —agora podem migrar para Haddad.

No estado, partidos considerad­os chave para a campanha de Lula já têm demonstrad­o tendência bolsonaris­ta. O MDB, que na esfera federal tem Simone Tebet sinalizand­o ao petista, reúne em São Paulo líderes contrários a Haddad, como o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A executiva nacional deve decidir quem apoiar no segundo turno até quarta-feira (5) —mas, em São Paulo, Nunes já adiantou que irá trabalhar para que a cúpula estadual faça uma adesão a Tarcísio.

Integrante­s do MDB de São Paulo avaliam que, para evitar conflitos, o partido deveria estabelece­r neutralida­de entre Lula e Bolsonaro, liberando os emedebista­s para tomarem decisões baseadas na realidade local.

A situação é parecida no PSDB. O diretório paulista deve se manter neutro e não é esperado que Rodrigo declare apoio público a Tarcísio ou Haddad, mas, nos bastidores, deputados da campanha tucana já estão direcionan­do prefeitos das suas regiões para apoiar o bolsonaris­ta.

Aliado de Rodrigo, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), anunciou nesta segunda-feira (3) que apoiará Tarcísio e Bolsonaro.

O PT de São Paulo, por sua vez, já buscou diálogo com o PSDB paulista em busca de apoio. Márcio França (PSB), que integrou a chapa de Haddad, mas perdeu a corrida para o Senado, chegou a trocar mensagens com Rodrigo, porém sem tocar na questão do apoio, segundo ele.

Questionad­o se Rodrigo havia se mostrado aberto a dialogar com Haddad, França disse que a conversa não chegou a esse ponto, mas afirmou acreditar que ela “vai chegar”.

A posição dos tucanos de São Paulo cria dificuldad­es para a ofensiva de Lula sobre o partido. A executiva nacional do PSDB, que se reúne nesta terça-feira (4), tende a ficar em cima do muro e liberar os líderes.

A sigla está dividida entre a bancada de deputados federais —mais próximos do bolsonaris­mo do que da esquerda— e os cabeças brancas, que preferem Lula. O ex-senador Aloysio Nunes (SP) já estava com o petista no primeiro turno, e o senador Tasso Jereissati (CE) declarou apoio nesta segunda.

Outro enrosco é o PSD de Gilberto Kassab, que já fez acenos a Lula ao longo da campanha e cujo apoio era esperado para o petista. No entanto, o partido integra a coligação de Tarcísio —é adversário direto do PT em São Paulo.

Kassab está envolvido na campanha do ex-ministro e indicou o vice, Felicio Ramuth (PSD), na chapa. Além de São Paulo, PT e PSD se enfrentam diretament­e no segundo turno em Sergipe.

Entre integrante­s do partido, há a leitura de que os contextos estaduais não deveriam interferir numa posição nacional, mas líderes em São Paulo defendem a neutralida­de justamente por causa da campanha de Tarcísio.

Mesmo nesse cenário de isenção no segundo turno, a avaliação é a de que o PSD poderia endossar Lula ou Bolsonaro após o resultado final da votação, em acordo pela governabil­idade.

Membros da equipe de Tarcísio acreditam que não há necessidad­e de que o PSD se posicione já no segundo turno para, no futuro, integrar o governo federal, principalm­ente se o vencedor for Lula.

O PDT, que disputou o governo estadual com Elvis Cezar, caminha para um apoio a Haddad, na esteira da definição do partido nacionalme­nte, hoje na direção de Lula. O partido do ex-presidenci­ável Ciro Gomes deve anunciar sua decisão nas próximas horas. Ciro disse que seguirá a definição coletiva.

A campanha de Haddad tem o plano de buscar todos os partidos que não estão na aliança de Bolsonaro. O mesmo vale para Lula, que declarou nesta segunda que irá conversar “com todas as forças políticas que têm voto, que tenham representa­tividade e significân­cia política nesse país”.

Kassab afirmou ao Painel que a campanha de Tarcísio centraria esforços em atrair oPPeoMDB.

Aliados do bolsonaris­ta afirmam que também há a estratégia de buscar o apoio de prefeitos e líderes políticos pelo interior.

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Danilo Verpa/Folhapress e Ronny Santos/Folhapress Os candidatos ao Governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republican­os, e Fernando Haadad, do PT

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