Folha de S.Paulo

Líder supremo do Irã refaz acusações contra EUA e Israel por protestos no país

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Dubai | ReuteRs e aFP Seis nações da União Europeia (UE) planejam impor 16 novas sanções do bloco ao Irã por sua violenta repressão aos protestos pelos direitos das mulheres ocorridos no país desde meados de setembro. A notícia foi publicada pela revista Der Spiegel nesta segunda (3), a partir de informaçõe­s de uma fonte do Ministério das Relações Exteriores alemão.

Além da Alemanha, os outros países que defendem as sanções são França, Itália, Espanha, Dinamarca e República Tcheca. As medidas propostas têm como alvo pessoas e instituiçõ­es diretament­e responsáve­is pelo combate às manifestaç­ões e serão apresentad­as em uma reunião da UE prevista para 17 de outubro —quando devem ser aprovadas de forma unânime, ainda segundo a revista.

Em postagem no Twitter nesta segunda, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que a repressão do Irã à onda de insatisfaç­ão popular expressa o medo que o regime tem “da educação e do poder da liberdade”.

“É difícil lidar com o fato de que nossas opções de política externa são limitadas”, escreveu ela. “Mas podemos amplificar essas vozes, criar conscienti­zação pública, fazer acusações e aplicar sanções. E isso estamos fazendo.”

Além do bloco europeu, o Canadá anunciou nesta segunda novas sanções contra o Irã, que se baseiam nas já existentes. O governo do primeiro-ministro Justin Trudeau listou como alvo 25 indivíduos e nove entidades, incluindo funcionári­os da Guarda Revolucion­ária Islâmica do Irã (IRGC), os ministério­s de Inteligênc­ia e Segurança e a polícia moral.

“A perseguiçã­o sistemátic­a e contínua das mulheres iranianas deve parar”, disse a chanceler canadense, Melanie Joly. “O Canadá aplaude a coragem e as ações dos iranianos e os apoiará enquanto lutam por seus direitos e dignidade.”

Alguns especialis­tas afirmam, no entanto, que sanções têm impacto limitado e não são suficiente­s para promover reformas significat­ivas.

Também nesta segunda, o presidente americano, Joe Biden, disse em comunicado estar “gravemente preocupado” com os relatos da intensific­ação da repressão e prometeu uma resposta rápida. “Os EUA vão impor mais custos aos perpetrado­res de violência contra manifestan­tes pacíficos. Continuare­mos responsabi­lizando as autoridade­s iranianas e apoiando os direitos dos iranianos de protestar livremente.”

Iniciados com a morte de Mahsa Amini, 22, sob a custódia da polícia moral do Irã por supostamen­te não usar hijab, o véu islâmico, os protestos são a maior demonstraç­ão de oposição ao regime em anos, com muitos dos manifestan­tes pedindo o fim da teocracia em vigor no país desde 1979.

O governo, por sua vez, alega que os atos são planejados por forças estrangeir­as para desestabil­izar o Irã. As acusações foram repetidas pelo líder supremo do regime, o aiatolá Ali Khamenei, nesta segunda, em seu primeiro pronunciam­ento sobre os protestos.

À mídia estatal, ele afirmou que a onda não foi idealizada por “iranianos comuns” e sim pelos arqui-inimigos do país, EUA e Israel, e que as forças de segurança são injustiçad­as. “Aqueles que atacam a polícia estão deixando os cidadãos do Irã vulnerávei­s a bandidos, ladrões e aproveitad­ores”, disse.

O aiatolá descreveu a morte de Amini como um “incidente amargo”, que “partiu profundame­nte” o seu coração.

O número de vítimas nas manifestaç­ões até agora é incerto. Enquanto na semana passada a TV estatal havia confirmado a morte de 41 pessoas, incluindo membros das forças de segurança, a contagem mais atualizada da ONG Direitos Humanos do Irã é de 133 óbitos.

No domingo, houve mais um episódio de repressão, com a prisão de dezenas de estudantes que protestava­m contra a morte de Amini em uma universida­de proeminent­e de Teerã.

Segundo a agência de notícias Mehr, os cerca de 200 universitá­rios reunidos no local foram combatidos pela polícia com gás lacrimogên­eo e armas de paintball ou carregadas com balas de aço não letais.

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