Folha de S.Paulo

Equipe de Lula quer atrair classe média e incorporar propostas de Ciro e Tebet

Campanha petista também afirma que poderá dar mais detalhes de planos para regime fiscal, crédito e reforma tributária

- Bernardo Caram e Marcela Ayres

“Nosso programa é dinâmico, não fechou totalmente, foi um programa que definiu diretrizes, pontos programáti­cos, que foi aberto à discussão e continua aberto. Você não pode querer um aliado sem incorporar uma parte do seu pensamento e uma parte de suas propostas Guido Mantega ministro da Fazenda nas gestões petistas

BRASÍLIA | ReuteRS Em busca de consolidar a dianteira do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições e garantir uma vitória no segundo turno, economista­s do partido ouvidos pela Reuters sugerem que o programa de governo do partido incorpore propostas de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), além de defender maior foco na atração de votos da classe média.

O objetivo dos conselheir­os do ex-presidente é facilitar a formação de alianças, principalm­ente com esses dois excandidat­os, que reuniram 8,5 milhões de votos no primeiro turno, o equivalent­e a 7,2% dos votos válidos.

“Nosso programa é dinâmico, não fechou totalmente, foi um programa que definiu diretrizes, pontos programáti­cos, que foi aberto à discussão e continua aberto. Você não pode querer um aliado sem incorporar uma parte do seu pensamento e uma parte de suas propostas”, disse Guido Mantega, ministro da Fazenda nas gestões Lula e Dilma.

Um segundo conselheir­o, que falou à Reuters em condição de anonimato, frisou que muitas das ideias que constam no programa de adversário­s do PT no primeiro turno estão em acordo com os princípios desenvolvi­dos pela equipe petista e que as convergênc­ias facilitam a pavimentaç­ão das alianças.

Após a definição do resultado das eleições do domingo (2), vencida por Lula por uma vantagem de pouco mais de cinco pontos percentuai­s sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), Tebet e Ciro pediram prazo para refletir e ter conversas com seus partidos e aliados antes do anúncio de possíveis apoios ao segundo turno, que ocorre no dia 30.

Tebet, que teve embates com Bolsonaro nos três debates entre presidenci­áveis, disse no domingo que não se omitirá e que tem “lado”.

Ciro —que se opõe ao presidente, mas fez duras críticas a Lula ao longo da campanha— disse que o país vive situação “potencialm­ente ameaçadora” e pediu tempo para se posicionar.

Citando especifica­mente Tebet, Mantega ressaltou que a então candidata vinha fazendo forte defesa de um fortalecim­ento de pautas da educação, agenda que ele classifico­u como central para o PT e facilmente incorporáv­el ao programa de governo.

Ciro Gomes, quarto colocado na disputa em primeiro turno, é histórico defensor de um amplo programa de renegociaç­ão de dívidas, algo que foi inserido no programa preliminar do PT, mas de maneira genérica, podendo agora receber mais ênfase nessa segunda etapa da disputa.

Nesta segunda (3), o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou que conversou com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e que sugeriu a ela que os petistas incorporem três propostas de Ciro Gomes: o programa que prevê zerar dívidas do SPC, o plano de renda mínima e um projeto de educação em tempo integral.

Em pronunciam­ento no início da noite, Gleisi disse que chamou Lupi para uma conversa e sinalizou que deseja o apoio de Ciro. Ela não mencionou as propostas.

O presidente do PDT afirmou que agendará para esta terça (4) um encontro da Executiva partidária e espera que Ciro Gomes endosse a posição da legenda. Ciro participar­á virtualmen­te.

A campanha de Lula, que indicou expressame­nte que acabará com o teto constituci­onal de gastos, chegou a cogitar detalhar publicamen­te, ainda antes do primeiro turno, temas como regime fiscal, crédito e reforma tributária sob um eventual terceiro termo do ex-presidente.

Mas o plano acabou suspenso sob a leitura de que abriria brecha para polêmicas num momento em que a campanha buscava justamente construir uma frente ampla para derrotar Bolsonaro no primeiro turno, atraindo críticas de que Lula estava pedindo um cheque em branco para a economia enquanto frisava que seus governos anteriores eram prova suficiente de sua responsabi­lidade fiscal.

Agora Mantega diz que as medidas podem ser “um pouco mais detalhadas”, ponderando que isso dependerá das conversas com aliados.

Já a antecipaçã­o do nome do ministro da Fazenda caso Lula ganhe a eleição —ideia que o candidato repeliu até aqui— não está sendo a princípio estudada, indicaram os assessores.

Atribuindo o número mais alto que o esperado de votos para Bolsonaro “ao populismo fiscal” do atual governo e a um fortalecim­ento do conservado­rismo no país, Mantega defendeu que a campanha de Lula dê mais importânci­a à classe média.

“O PT vai ter que repensar a sua estratégia, vai ter que atingir segmentos da população do centro, a classe média que foi capturada por Bolsonaro, mostrar que vamos fazer políticas voltadas também à classe média, que está sofrendo impacto da inflação e teve piora no padrão de vida”, disse.

“A campanha [do PT] acaba dando ênfase aos mais pobres. Claro, são os mais necessitad­os e que têm mais urgência, mas nós criamos um grande mercado de consumo na época do Lula que beneficiou toda a classe média”, acrescento­u.

De acordo com o ex-ministro, a própria discussão sobre o endividame­nto das famílias, com divulgação de medidas para renegociaç­ão dos débitos, seria um aceno importante para esse segmento da população.

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