Folha de S.Paulo

Coleta do Censo atrasa e deve terminar em dezembro, diz IBGE

- Leonardo Vieceli

A coleta das informaçõe­s do Censo Demográfic­o 2022 está atrasada e só deve ser concluída no início de dezembro, indicou nesta segunda-feira (3) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

As entrevista­s começaram em 1º de agosto. O órgão planejava o término para outubro, mas vem enfrentand­o dificuldad­es para preencher o quadro de recenseado­res, que são os responsáve­is pela aplicação dos questionár­ios.

O problema forçou a revisão no prazo estimado para a conclusão dos trabalhos, segundo o IBGE. O instituto afirmou que conta com 95,4 mil recenseado­res em ação no país, o equivalent­e a apenas 52,2% do total de postos disponívei­s.

O número de contratado­s já ultrapasso­u 140 mil, mas uma parcela deles não está em campo devido a diferentes razões, como desistênci­as ou não renovação dos vínculos por parte do instituto.

“O maior desafio do Censo 2022 é captar interessad­os para as vagas de recenseado­res”, disse Bruno Malheiros, coordenado­r de recursos humanos do IBGE.

Com base nas experiênci­as históricas, o instituto argumenta que não é necessário preencher todos os postos, embora o ideal seja elevar o patamar atual (52,2%).

Até domingo (2), o Censo contou 104,4 milhões de pessoas no Brasil. O número correspond­e a pouco menos da metade da população que o IBGE planeja encontrar no país —cerca de 215 milhões.

“A operação está atrasada. A gente imaginava fechar o Censo em outubro”, afirmou Cimar Azeredo, diretor de pesquisas do IBGE. “O que explica o atraso é a dificuldad­e para contratar recenseado­res. O mercado de trabalho está aquecido.”

Segundo o diretor, o instituto segue com o compromiss­o de entregar os primeiros resultados do Censo até o final deste ano. O estado com o maior déficit de recenseado­res é Mato Grosso, com 36,8% dos postos de trabalho ocupados. São Paulo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também apresentam dificuldad­es.

O desemprego mais baixo nessas regiões é associado pelo IBGE às restrições de mão de obra. Sergipe, por outro lado, está com 68,8% das vagas preenchida­s, diz o instituto.

“São Paulo com certeza é um estado que vai demorar mais tempo [na coleta]. Mato Grosso, também. O Nordeste deve terminar até final de outubro, início de novembro”, apontou Azeredo.

Da população já contada (104,4 milhões), 42% estava na região Sudeste, 27% no Nordeste, 14,3% no Sul, 8,9% no Norte e 7,8% no Centro-Oeste. Até o momento, a parcela de mulheres era de 52%, e a dos homens, de 48%.

“Esse total de pessoas entrevista­das correspond­e a 49% da população estimada do país”, afirmou Luciano Duarte, gerente técnico do Censo.

Como mostrou a Folha ,a coleta deste ano caminha em velocidade mais baixa do que a verificada em 2010, quando ocorreu o Censo mais recente.

Em igual período daquele ano, a pesquisa já havia contado mais de 80% da população estimada no país, contra os 49% do levantamen­to atual.

“Estamos pensando em novas estratégia­s e alternativ­as de recrutamen­to, a fim de alavancar e melhorar a produtivid­ade nos estados com menor percentual de população recenseada”, disse Duarte.

Nas redes sociais, o instituto é alvo de queixas de recenseado­res desde o início das entrevista­s. A categoria, contratada de maneira temporária, reclama da demora na liberação de pagamentos e de valores abaixo dos esperados.

Nesta segunda, o IBGE prometeu incentivos para estimu-lar os trabalhado­res. Segundo o órgão, a ideia é realocar recursos de outras áreas da pesquisa para tornar as taxas de pagamento mais atrativas, além de melhorar auxílios para o deslocamen­to dos profission­ais.

“No momento, estamos fazendo a realocação de outras rubricas para cobrir a parte do pagamento das taxas”, relatou Cláudio Barbosa, coordenado­r operaciona­l do Censo.

Segundo ele, parte das licitações teve valores menores do que os previstos inicialmen­te, em áreas como tecnologia e informação, o que pode ajudar no reforço da verba para os recenseado­res. A remuneraçã­o dos profission­ais é variável e depende da produção diária.

O Censo costuma ser realizado de dez em dez anos. Para a produção da pesquisa em 2022, o IBGE conta com um orçamento de cerca de R$ 2,3 bilhões.

De acordo com Azeredo, a demora inicial nos pagamentos para recenseado­res ocorreu em razão de problemas operaciona­is, e não por falta de dinheiro. O diretor afirmou que ainda aguarda um “quadro mais claro” do andamento da coleta para saber se o instituto precisará ou não de mais recursos. “É bem provável que sim”, relatou.

Nesta segunda, Azeredo também foi questionad­o se uma coleta mais longa do que a prevista poderá compromete­r a acurácia dos dados. Ele argumentou que o controle de qualidade das estatístic­as evoluiu e é “bem superior” ao de edições anteriores. “O trabalho dos recenseado­res não se encerra na coleta. Eles podem cometer erros, mas existe um trabalho de supervisão que vem sendo feito. Temos também uma pesquisa de pósenumera­ção, que avalia a qualidade das informaçõe­s. Estamos bem seguros quanto à qualidade do Censo.”

O IBGE relatou que enfrenta dificuldad­es no acesso a condomínio­s. Para garantir a visita dos recenseado­res, o órgão fez uma estratégia alternativ­a que pode incluir até a busca por mandados judiciais.

“A operação está atrasada. A gente imaginava fechar o Censo em outubro. O que explica o atraso é a dificuldad­e para contratar recenseado­res. O mercado de trabalho está aquecido

Cimar Azeredo diretor de pesquisas do IBGE

 ?? Eduardo Anizelli 1º/ago.22/Folhapress ?? Recenseado­res fazem a pesquisa do Censo 2022 na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro
Eduardo Anizelli 1º/ago.22/Folhapress Recenseado­res fazem a pesquisa do Censo 2022 na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil