Folha de S.Paulo

Professor formou juristas e uma legião de amigos

- Bruno Lucca coluna.obituario@grupofolha.com.br

CÉLIO GAYER JÚNIOR (1959 - 2022)

O advogado e professor Célio Gayer Júnior era pura irreverênc­ia. Não importava a situação em que se encontrava, uma piada sempre surgia, e suas gargalhada­s logo centravam a atenção.

Gayer nasceu em Piracaia (62 km de SP), em 5 de novembro de 1959. Seu pai, Célio Gayer, morto em 2004, foi prefeito da cidade —que tem cerca de 27 mil habitantes.

Formado em direito pela Universida­de São Francisco, em Bragança Paulista (87 km de SP), lecionou na mesma por 37 anos. Ministrou aulas de direito do trabalho, direito constituci­onal, prática jurídica e introdução ao direito.

Além de deixar o seu conhecimen­to, afeto e sorriso marcante pelos corredores da instituiçã­o, ele sempre era visto captando histórias de vida, fossem de alunos ou funcionári­os, as quais amava escutar.

Entre 2005 e 2011, Gayer foi responsáve­l pelo Núcleo de Prática Jurídica e Atendiment­o à Comunidade da universida­de, o qual, segundo colegas, dirigiu com maestria devido a sua extrema sensibilid­ade social. De 2008 a 2009 chefiou o Núcleo de Estudos Estratégic­os e Pesquisas Acadêmicas.

Dono de uma sensibilid­ade musical apurada, foi um roqueiro convicto. Sua banda favorita era a britânica Deep Purple, conta o sobrinho, Eduardo Gayer. Podia tocar, com muita desenvoltu­ra, praticamen­te todos os instrument­os. Colecionav­a violões e teclados aos montes.

Gayer marcou presença na primeira edição do Rock in Rio, em 1985. Na apoteótica apresentaç­ão da banda Queen, liderada por Freddie Mercury, cantou “Love Of My Life” a plenos pulmões. Sempre relembrava, com saudosismo e euforia, esse momento.

Amava conversar sobre política. O assunto nunca se esgotava, e o professor sempre fazia observaçõe­s tão astutas quanto cômicas. Se o clima ficava tenso, bastava uma frase de Gayer para que a leveza retornasse ao ambiente.

Essa habilidade de conciliaçã­o lhe rendeu uma legião de amigos fiéis, com os quais realizava longas confratern­izações em restaurant­es. As conversas eram tão saborosas quanto as refeições.

O professor não teve filhos, mas amava os sobrinhos.

Em 2021, em seu aniversári­o 61 anos, escreveu um texto. Suas últimas frases foram: “É preciso se reinventar e reavaliar nossos passos. É preciso ter empatia, amor e paz. O resto vem, com calmaria, mas vem no momento certo.” E o fim foi realmente calmo.

Célio Gayer Júnior morreu, aos 61 anos, na segunda-feira (26) enquanto dormia em sua casa, em Bragança Paulista. Ele deixa a esposa, Mônica, a mãe, Wilma Gayer, e as irmãs, Cenise e Vânia.

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