Tratamento em idosos precisa ir além do tumor e da sobrevida
Diante do envelhecimento populacional crescente no mundo, aumenta a incidência de tumores em idosos e se intensifica a demanda por avaliações oncogeriátricas, que calculam o risco-benefício do tratamento contra o câncer considerando aspectos como comorbidades, cognição e capacidade funcional de cada um.
O tema foi apresentado na terça-feira (27) pela hematologista Tathiana Braz durante o 9º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, evento promovido pela Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). O painel foi mediado pela enfermeira Thais Gambarini e organizado pelo Instituto Oncoclínicas.
A maior incidência de câncer nessa população ocorre porque a longevidade pode significar contato mais prolongado com gatilhos para tumores, como tabagismo e sedentarismo.
Assim, além do processo natural de senescência, conjunto de alterações comuns ao envelhecimento, como perda de massa muscular, somam-se, em alguns casos, as consequências da senilidade, relacionadas a doenças crônicas.
Por ser diversa, a população idosa demanda avaliações oncológicas e geriátricas individualizadas antes da prescrição de um tratamento, diz Braz. Pessoas com idades próximas podem apresentar estados distintos de saúde e, por isso, as recomendações devem ser feitas com base em informações obtidas pela equipe médica por meio de análises do paciente.
Uma delas, a AGA (Avaliação Geriátrica Ampla), considera, além do quadro clínico (que inclui idade, presença de comorbidades e estágio do câncer), aspectos psicológicos e socioeconômicos do paciente.
Observam-se mais fatores, portanto, que na avaliação oncológica, para compreender a capacidade de resposta a tratamento e efeitos colaterais. Assim, é possível tentar prever a resposta do organismo quando se decide por um determinado tratamento, como a quimioterapia, e a expectativa de vida do idoso de acordo com sua saúde.
Quando o paciente é idoso, o foco não deve estar no tumor e na sobrevida, mas na qualidade de vida. Braz exemplifica que, em um indivíduo com bom estado de saúde, é possível seguir com um tratamento convencional contra o câncer.
Já em idosos com algum grau de fragilidade, a abordagem deve ser personalizada. Quando a pessoa é dependente, iniciam-se cuidados paliativos precoces.
Além desses critérios, é fundamental ouvir a opinião do paciente, uma vez que o conceito de qualidade de vida é subjetivo.
Para que a oncogeriatria avance, Braz afirma que é preciso incluir idosos em pesquisas clínicas, sobretudo os com quadros mais complexos de saúde, pois hoje as diretrizes oncológicas se concentram no câncer e isso limita a aplicação dos protocolos em pessoas com comorbidades.
A especialista acrescenta que é necessário promover educação continuada entre os profissionais de saúde para que avaliações oncogeriátricas sejam cada vez mais valorizadas e implementadas