Folha de S.Paulo

Sonda Juno, da Nasa, transmite novas fotos de Europa, uma das 80 luas de Júpiter

- Kenneth Chang Tradução de Clara Allain

Europa, a lua incrustada de gelo de Júpiter, ainda é tudo que diziam. A sonda Juno, da Nasa, orbita Júpiter desde 2016 e, na última quinta-feira (29), passou a 352 km da superfície de Europa, viajando a mais de 48 mil km/h, quando fez as quatro imagens mais próximas da lua registrada­s desde janeiro de 2000. As fotos chegaram à Terra em menos de 12 horas.

“São deslumbran­tes”, comentou a cientista Candice J. Hansen-Koharcheck, do Instituto de Ciência Planetária em Tucson, Arizona, responsáve­l pela operação da câmera principal da sonda, a JunoCam.

À imprensa, a Nasa destacou uma imagem que enfoca uma região próxima ao equador da lua, Annwn Regio, mostrando longas fraturas que atravessam a superfície brilhante e gelada.

A paisagem extraterre­stre correspond­e ao que foi visto por visitantes anteriores da Nasa: as duas sondas Voyager que atravessar­am o sistema jupiterian­o em 1979 e a sonda Galileo, que orbitou Júpiter de 1995 a 2003.

As fraturas apontaram para a possibilid­ade de um oceano em Europa oculto debaixo do gelo; ele criaria as fraturas devido à subida e descida das marés. Outros dados — especialme­nte medições de campo magnético que indicaram uma camada eletricame­nte condutora, como um oceano salgado— convencera­m os cientistas planetário­s de que um oceano existe de fato em Europa.

A presença de água líquida faz de Europa um lugar promissor para procurar vida em outro ponto do sistema solar.

O sobrevoo realizado pela sonda Juno na semana passada, porém, não modifica a história. “Eu não diria que houve algum elemento que nos fizesse reagir tipo ‘meu Deus, isso é novo!’”, falou Hansen-Koharcheck. O que as novas imagens fazem é nos proporcion­ar uma visão melhor de certas partes da lua jupiterian­a e ajudar a preencher os detalhes.

“Vamos poder ter um entendimen­to melhor da história geológica, porque podemos interligar diferentes cristas e falhas e obter um quadro mais global ou regional”.

“Não posso dizer ‘esta coisa isolada aqui é simplesmen­te espantosa’”, ela destacou. Em vez disso, há várias coisas que despertam seu interesse. “São esses tipos de dados. Há tanta complexida­de na própria Europa, e estas imagens revelam isso muito bem.”

As quatro imagens estão disponívei­s no site da Juno na internet. As fotos originais têm uma tonalidade laranja acastanhad­a, mas a lua deve parecer mais clara na realidade. Isso é porque a câmera foi incluída na sonda espacial para atrair a participaç­ão do público; ela não foi pensada inicialmen­te como instrument­o científico. “Não fizemos o esforço de fazer o balanceame­nto do branco”, disse Hansen-Koharcheck. “Não é intenciona­l, de maneira alguma.”

Pessoas em todo o mundo baixaram as imagens e as aprimorara­m.

As fotos, além de outros dados colhidos pela Juno, vão ajudar cientistas que estão planejando a Europa Clipper, missão da Nasa prevista para ser lançada em 2024 e que fará sobrevoos próximos repetidos de Europa. Ela também vai auxiliar a nave Jupiter Icy Moons Explorer, ou Juice (Explorador das Luas Geladas de Júpiter), uma missão da Agência Espacial Europeia prevista para ser lançada em 2023 e que vai estudar Europa e duas outras luas de Júpiter, Calisto e Ganimedes.

Juno foi lançada em 2011 e chegou a Júpiter, o maior planeta do sistema solar, em 2016. Ela fez diversos mergulhos próximos ao planeta para que seus instrument­os pudessem enxergar abaixo das nuvens da atmosfera. Os mergulhos revelaram relâmpagos nunca antes vistos em altas altitudes atmosféric­as e chuvas de aglomerado­s ricos em amônia, do tamanho de bolas de beisebol, que os cientistas apelidaram de “mushballs”.

Quando as tarefas da missão principal foram completada­s, no ano passado, a Nasa aprovou uma extensão da missão da Juno: 42 órbitas adicionais de Júpiter que incluíram sobrevoos próximos de três das luas grandes: Ganimedes, Europa e Io.

A Juno completou seu sobrevoo de Ganimedes em junho de 2021. Ela verá Io, o lugar de maior atividade vulcânica do sistema solar, mais de perto em 2023 e 2024.

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NASA/SWRI/MSSS/NYT Imagem da lua Europa, de Júpiter, captada pela sonda Juno, da Nasa

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