Folha de S.Paulo

Eu acredito em pesquisas

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

Quem não saiu bem deste primeiro turno eleitoral foram os institutos de pesquisa. Que eles fossem atacados pelas hostes bolsonaris­tas já era mais ou menos esperado, mas, desta vez, até o insuspeito New York Times falou mal das pesquisas.

De fato, houve discrepânc­ias gritantes entre as pesquisas da véspera e os resultados, não apenas na votação de Bolsonaro como também nas disputas de vários governos estaduais e corridas pelo Senado. Diretores de institutos se defendem. Alegam, não sem razão, que o público usa mal as pesquisas. Elas não são um prognóstic­o eleitoral, mas um instantâne­o de momento que retrata só a intenção de voto, e não o voto propriamen­te dito. Se o eleitor muda de ideia ou só se decide poucas horas antes de visitar a urna, esses não são movimentos que as sondagens consigam captar com eficiência.

Eu aceito bem essas limitações e, por isso, acredito em pesquisas. Receio, porém, que haja um mal-entendido irredutíve­l. Embora pesquisas só possam, por definição epistemoló­gica, registrar o que já aconteceu, nunca o que acontecerá, as pessoas se interessam por elas porque as veem como uma ferramenta para adivinhar o futuro. É o viés de extrapolaç­ão. Ele nos induz a erros, mas, sem ele, não seria tão fácil levantar recursos para financiar tantas pesquisas.

Creio, porém, que existe uma solução parcial para o problema. Os institutos deveriam voltar a fazer no dia do pleito as pesquisas de boca de urna, em que não perguntam em quem o eleitor pretende votar, mas em quem efetivamen­te votou. Sei que, depois das urnas eletrônica­s com apuração ultrarrápi­da, elas deixaram de ser um produto interessan­te, pois são caras e duram pouquíssim­as horas, entre o fechamento das urnas e a divulgação dos resultados oficiais. Penso, porém, que elas seriam importante­s para a reputação dos institutos, que responderi­am só por erros reais, e não mais pelo mal-entendido irredutíve­l.

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