O excesso de falta
Encapsular a autoestima masculina nos levaria à barbárie
A piada de que a autoestima dos homens deveria ser vendida em cápsulas talvez tenha exagerado na dose. Eu mesma já manifestei minha inveja da capacidade masculina de se orgulhar das merdas que faz como se fossem ouro maciço.
No entanto, trago um alerta às leitoras a respeito da armadilha por trás dessa piada. Digamos que a autoestima elevada dos homens fosse vendida em cápsulas. Certamente
teria efeitos similares a uma infinidade de remédios que só tratam os sintomas, não a causa. Resolvem o problema superficialmente e podem até agravá-lo.
Vamos a um exemplo prático. Gabriel, do BBB 23, entrou na casa alegando que já pegou a Anitta, obrigando a cantora a se manifestar publicamente, dizendo que mal o conhece.
Como se não bastasse, um vídeo do programa circulou na internet no qual Gabriel, colocado no paredão, esbanja confiança entre os brothers, certo de que Anitta estaria mobilizando os fãs dela para mantê-lo na competição.
A cena constrangedora pipocava na minha timeline sempre com uma piada sobre autoestima masculina. Mas a postura delirante do brother é uma demonstração risonha e límpida de falta de amor próprio. Ele não acha que a Anitta tem esse apreço todo por ele. Ele se coloca nessa situação ridícula porque acha que o breve contato que teve é o que ele tem de mais valioso. Só se presta a esse papel quem sente um profundo desprezo por si mesmo.
Invejar o que chamamos de “autoestima masculina” é uma cilada sem tamanho, porque essa conduta nada mais é do que uma tentativa desesperada de mascarar um poço sem fundo de insegurança. Quem já teve o privilégio de conhecer um homem seguro de si sabe que ele não precisa agir como babaca para se autoafirmar.
Não é por acaso que o comportamento abusivo de Gabriel na casa também vem sendo apontado nas redes. A (baixa) autoestima masculina tem efeitos colaterais devastadores, já que não é um mecanismo de defesa, e sim de ataque. Para dissimular a própria fragilidade, o homem inseguro se aproveita da fragilidade alheia. Encapsular esse fenômeno nos levaria à barbárie.
A boa notícia para as mulheres é que nossos problemas de autoestima já não parecem tão graves assim. A má é que talvez sejam de visão, já que muitas ainda não enxergam a fraqueza dos homens que tentam botá-las para baixo.