Folha de S.Paulo

Fases da economia

- Deirdre McCloskey Economista, é professora emérita de economia e história na Universida­de de Illinois, em Chicago. Escreve às quartas

A economia avançou desde 1776, lentamente, mas os atuais defensores de teorias obsoletas ainda estão por aí vendendo suas coisas. Seria como se alguns astrônomos ainda acreditass­em que o Sol gira em torno da Terra ou que a Via Láctea é todo o universo.

A escola mais antiga era mercantili­sta, economista­s que não sabiam que o comércio é mutuamente benéfico. Os tratados comerciais ainda são negociados supondo que tais “economista­s” estejam corretos. Na América Latina, o defensor foi Raul Prebisch (1901-1986). Tanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto Jair Bolsonaro (PL) acreditam nisso, assim como a maioria das pessoas na rua.

O herói da minha juventude, Karl Marx, e o herói da minha velhice, Adam Smith, substituír­am o mercantili­smo por uma teoria das etapas de cresciment­o. Eles pensavam no valor como quanto trabalho havia sido incorporad­o em, digamos, um quilo de café ou uma casa limpa. A quantia era uma “estrutura”, que continua sendo uma palavra favorita dos marxistas, que não entendem o que veio a seguir:

O herói dos meus 20 anos, Paul Samuelson (1915-2009; Nobel em 1970), disse: “Não. Os bens têm receitas variadas. Portanto, se você conhecer o livro de receitas, pode prever o futuro planejando”. Como planejar suas compras de supermerca­do. Simples. O que significa que a maioria dos economista­s ainda não entendeu o que veio a seguir:

“Não”, disse Milton Friedman (1912-2006; Nobel em 1976), o herói dos meus 30 anos: “A economia não funciona segundo uma fórmula conhecida, mas por tentativa e erro. Isso tem um nome: liberdade”. Na Escola de Chicago, um realismo cínico é o termo divino, que ensinei aos “Chicago Boys” na década de 1970.

“Não”, disseram os heróis dos meus 50 e 60 anos, Friedrich Hayek (1899-1992; Nobel em 1974), Frank Knight (1885-1972) e James Buchanan (1919-2013; Nobel em 1986). “O conhecimen­to é o problema. Como dizem em Hollywood, ninguém sabe nada. O truque é encontrar uma constituiç­ão de liberdade.” Liberdade como seu termo divino, mas imposta de cima para baixo.

“Não”, dizemos eu (nascida em 1942) e alguns outros estudiosos da economia, como a cientista política Elinor Ostrom (1933-2012; Nobel em 2009), o holandês Arjo Klamer (n. em 1953) e o economista experiment­al Bart Wilson (n. em 1969). “Os humanos são humanos. Ideias, ideologia, conversa, discussão, ética, criativida­de são importante­s para eles.” E devem ser. O termo divino pode ser, e no meu caso é, Deus respondend­o à pergunta: “E daí?”. Nós o chamamos de humanomia.

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