Folha de S.Paulo

Novo Congresso segue conservado­r e tem mais nomes do bolsonaris­mo raiz

Esquerda ocupará apenas um quarto das cadeiras, e Lula busca ampliar base com centro e direita

- Ranier Bragon e Thaísa Oliveira

BRASÍLIA Os deputados federais e senadores que tomam posse nesta quarta-feira (1º) ampliarão levemente as bases fiéis a Jair Bolsonaro (PL) e a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso, mas, em geral, mantêm o padrão da legislatur­a passada, de maioria conservado­ra.

Com isso, o presidente da República tem tentado formar a sua base de apoio com distribuiç­ão de ministério­s e cargos do segundo escalão a partidos de centro e de direta.

A primeira leva de indicados incluiu PSD, MDB e União Brasil, que ocuparam 9 dos 37 ministério­s, mas Lula terá de avançar também sobre o centrão de Bolsonaro (PP, PL e Republican­os).

Se todos os parlamenta­res da esquerda e dos três partidos de centro e de direita atraídos apoiarem o presidente, ele teria 287 cadeiras na Câmara e 47 no Senado. O número garante maioria, mas é insuficien­te para aprovar emendas à Constituiç­ão (308 e 49, respectiva­mente).

Em outubro, os eleitores brasileiro­s escolheram os novos 513 deputados federais e 27 senadores do total de 81. No Senado, os mandados são de oito anos, ante quatro da Câmara; a cada eleição, se intercalam disputas por um terço ou dois terços das cadeiras.

O PL de Jair Bolsonaro ganhou 23 deputados e somou 99, se tornando a maior bancada eleita na Câmara nos últimos 24 anos, desde que o antigo PFL (que daria origem ao Democratas, hoje parte da União Brasil) fez 106 parlamenta­res na reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998.

O partido fez o campeão das urnas —o então vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira, dono de 1,4 milhão de votos— e três dos quatro parlamenta­res mais votados de São Paulo: Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Ricardo Salles.

Os outros dois maiores partidos do centrão, PP e Republican­os, tiveram queda em suas representa­ções, com o que a base bolsonaris­ta ficou mais ou menos do mesmo tamanho, com um leve reforço da ala mais radical.

Em outras palavras, a nova configuraç­ão do partido na Câmara tende a ter uma cara muito mais bolsonaris­ta do que a antiga, calçada em boa parte no fisiologis­mo que caracteriz­a o centrão. Mas a contabilid­ade das cadeiras do centrão como um todo não apresenta diferenças relevantes.

O PT de Lula também elevou sua bancada, de 56 para 68. Com a queda de desempenho de outras legendas da esquerda, porém, em especial o PSB, seu arco histórico de alianças também permaneceu estagnado, em cerca de um quarto das 513 cadeiras.

A composição partidária na Câmara é de suma importânci­a para qualquer governante. Além de ser a Casa que dá a largada em possíveis processos de impeachmen­t, é por lá também que começa a tramitação da maioria dos projetos de interesse do Palácio do Planalto.

No Senado, ocorreu fenômeno parecido. O chamado bolsonaris­mo raiz se fortaleceu, com a eleição, por exemplo, de Marcos Pontes (SP), ex-ministro de Ciência e Tecnologia, e de Magno Malta (ES), mas um troca-troca de legendas já levou o PSD de Rodrigo Pacheco (MG), hoje na órbita de Lula, a superar a bancada do PL, 15 a 13.

Os primeiros testes reais da base de Lula no Congresso ocorrerão já nesta quarta, com a eleição das presidênci­as da Câmara e do Senado — em especial esta última, em que Pacheco, apoiado por Lula, disputa a reeleição contra o bolsonaris­ta Rogério Marinho (PL-RN).

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirma que o placar para a presidênci­a do Senado não é igual ao placar do apoio ao governo, e que não necessaria­mente os senadores que votarem em Marinho estarão na oposição.

“Não é a votação para presidente [da Casa] que indica quem vai ser ou quem não vai ser base governista. Não é isso que define. A eleição é um espaço muito mais restrito. É a direção do Poder Legislativ­o”, afirma.

Assim que o ano legislativ­o tiver início, nesta quinta-feira (2), outros testes virão.

Há 27 medidas provisória­s na fila de análise, 20 delas editadas ainda por Bolsonaro.

Entre essas medidas estão a que fixa o salário mínimo em R$ 1.302, a que mantém o Auxílio Brasil de R$ 600, a que prorroga a desoneraçã­o dos combustíve­is e a que aumenta o número de ministério­s de 23 para 37.

Alem disso, Câmara e Senado têm também na fila desse início de Legislatur­a a análise de 24 vetos presidenci­ais.

Três MPs são considerad­as cruciais no teste, já que, de acordo com parlamenta­res, é sobre elas que recaem as maiores chances de traição e derrota para o governo.

São elas a que restabelec­e o voto de qualidade no âmbito do Carf, o Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais (MP 1.160/23); a que transfere o Coaf (Conselho de Atividades Financeira­s) do Banco Central para o Ministério da Fazenda (MP 1.158/23); e a que extinguiu a Funasa, que é a Fundação Nacional de Saúde (MP 1.156/23).

Essas são as MPs em que há mais chance de parlamenta­res dos partidos de centro e direita atraídos para a base de Lula demonstrar­em na prática alguma insatisfaç­ão.

Após a distribuiç­ão dos ministério­s, o governo tem negociado com partidos a alocação de políticos em cargos de segundo e terceiro escalão. Essas definições também devem ser pautadas pelo grau de adesão das siglas ao governo durante essas votações.

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