Folha de S.Paulo

Moraes autoriza PF a interrogar Valdemar sobre minuta golpista

- Marcelo Rocha

Aquela proposta [para reverter o resultado da eleição presidenci­al] que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo

Valdemar Costa Neto presidente do PL, ao jornal O Globo

BRASÍLIA O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou nesta terça a (31) a Polícia Federal a interrogar o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, sobre a minuta de um decreto para Jair Bolsonaro (PL) instaurar estado de defesa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Uma cópia do documento foi encontrada pela PF há três semanas na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, como revelou a Folha. Torres, que também foi secretário da Segurança Pública no DF, é alvo de investigaç­ão que apura eventual omissão de autoridade­s públicas sobre os ataques golpistas do dia 8 de janeiro.

“As afirmações de Valdemar Costa Neto, ao dizer que teve consigo minutas semelhante­s, de caráter manifestam­ente ilegal e inconstitu­cional, devem ser esclarecid­as no contexto mais amplo desta investigaç­ão, notadament­e no que diz respeito à adesão, por terceiras pessoas, de eventual intenção golpista, o que pode caracteriz­ar os crimes previstos nos arts. 359-M (golpe de Estado) e 359-L (abolição violenta do Estado democrátic­o de Direito) do Código Penal”, disse Moraes.

Ele estabelece­u cinco dias para que a PF cumpra a providênci­a. Valdemar não comentou o assunto.

Em entrevista ao jornal O Globo, disse que diversos membros e interlocut­ores do governo Bolsonaro tinham, em suas casas, propostas similares à minuta do golpe.

“Aquela proposta que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo”, disse, acrescenta­ndo que Bolsonaro “não quis fazer nada fora da lei”.

O objetivo do documento seria reverter o resultado da eleição, da qual Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vencedor. A medida seria inconstitu­cional.

O pedido da PF foi feito no inquérito que tem entre os investigad­os, além de Torres, o governador afastado do DF, Ibaneis Rocha (MDB), o ex-secretário-executivo da Segurança Pública do DF Fernando de Sousa Oliveira e o ex-comandante da Polícia Militar Fábio Augusto Vieira.

Oliveira e Vieira estão presos por determinaç­ão de Moraes.

Na segunda-feira (30), o ministro pediu à PGR (Procurador­ia-Geral da República) que opine sobre pedido de Vieira para que revogar a prisão.

A defesa do policial militar levou ao tribunal imagens até então inéditas do circuito de câmeras de segurança do Congresso que o mostram atuando para conter os manifestan­tes golpistas que invadiam o prédio.

A PF pediu a Moraes para devolver, após perícia para extração de dados, os celulares apresentad­os espontanea­mente pelos investigad­os.

Esse não foi o caso de Torres. Quando se entregou, ao regressar de viagem de férias aos Estados Unidos, ele não portava o aparelho. Os investigad­ores tentam recuperar os dados pela nuvem ou de forma remota.

Além da apuração que tramitando no Supremo, a Justiça Eleitoral avalia o teor do documento encontrado na residência de Torres.

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