George Santos, pressionado a renunciar, diz que não vai participar de comitês da Câmara dos EUA
são paulo O deputado republicano George Santos disse a membros do seu partido nesta terça-feira (31) que vai se recusar a participar de comitês legislativos. O movimento foi lido como a primeira demonstração de fraqueza desde que ele se tornou alvo de uma série de investigações sobre as mentiras que contou acerca de sua trajetória pessoal e profissional.
A decisão foi tomada depois de uma conversa com o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, na noite de segunda-feira (30). Foi Santos quem fez a sugestão, afirmou o líder republicano, que disse ter considerado a ideia apropriada “até que ele pudesse esclarecer tudo”.
Santos tinha sido designado para dois painéis na Câmara: o Comitê de Ciência, Espaço e Tecnologia e o Comitê de Pequenas Empresas, responsável por supervisionar uma das maiores iniciativas de governo, o Programa de Proteção ao Salário, estimado em quase US$ 1 trilhão (R$ 5,1 trilhões), criado no começo da pandemia de Covid.
A participação de Santos nos comitês, porém, é criticada diante dos pedidos de renúncia e investigações contra ele. Após sua eleição, em novembro do ano passado, o jornal The New York Times mostrou que o deputado, que é filho de brasileiros, mentiu sobre vários aspectos de sua vida para atrair eleitores de seu distrito —do currículo acadêmico e profissional às fontes de renda e origens familiares. Ele depois viria a ser investigado também por suas contas de campanha.
O deputado é filho de brasileiros, e a série de acusações sobre ele inclui até mesmo um estelionato em Niterói, onde teria furtado cheques para fazer compras em uma loja de sapatos.
O caso aumentou a pressão sobre o Partido Republicano na Câmara, mas a legenda, até então, dava sinais dúbios. Enquanto Santos era cogitado para assumir cargos em comissões, parte do partido não poupou críticas públicas a ele.
No último dia 15, o deputado republicano e presidente do Comitê de Supervisão da Câmara, James Comer, afirmou que Santos é um “cara mau” e que ele perderá sua vaga no Congresso se houver comprovação de que ele violou as leis de financiamento de campanha.
O deputado foi acusado de usar um fundo misterioso para arcar com suas despesas eleitorais. Além disso, um órgão de fiscalização ligado ao governo dos Estados Unidos apontou que Santos teria ocultado doadores e usado parte da verba para pagar o aluguel
Kevin McCarthy presidente da Câmara dos EUA
de sua residência pessoal.
Paralelamente, a fragilidade do Partido Republicano na atual legislatura é um dos fatores apontado para segurá-lo no cargo. A legenda conquistou maioria na Câmara nas midterms, mas, com 222 cadeiras, só tem quatro deputados garantindo a vantagem —ou seja, margem mínima de dissidência interna.
Retirar Santos da Casa implicaria em nova eleição, porque nos EUA não há a figura de suplente. Ante o desgaste e o fato de seu distrito ser do tipo pêndulo, sem preferência partidária clara, o assento legislativo poderia voltar para um democrata.
Analistas dizem que McCarthy precisa de Santos ao seu lado porque, nesse processo, acabou enfraquecido politicamente. Para ser eleito, o atual líder da Câmara teve de ceder à ala radical da legenda e concordou com uma nova regra que permite a abertura de uma votação para tirá-lo do cargo a qualquer momento que um deputado queira fazê-lo.
“Acho que foi uma decisão apropriada. Até que consiga esclarecer tudo, ele [George Santos] está fora dos comitês a partir de agora