Folha de S.Paulo

Guerra Fria

- Joana Cunha painelsa@grupofolha.com.br com Paulo Ricardo Martins e Diego Felix

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça (31) que ninguém o abordou para criticar a medida de seu pacote fiscal que devolve ao governo o voto de desempate no contencios­o com a Receita Federal no Carf (Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais). Mas nos últimos dias vem se formando uma grande batalha em torno do tema na Justiça. É um assunto que envolve bilhões a serem julgados nesta semana e tem mobilizado tributaris­tas de grandes companhias.

PESSOA JURÍDICA Petrobras, Rumo, Santander, Ambev, Marfrig, Santher, Telefônica, Transpetro, Yolanda, Parker Hannifin e Furnas estão entre as companhias que foram à Justiça. Elas tentam evitar, com liminares, que seus casos sejam julgados enquanto o Congresso não decidir sobre a medida provisória que acabou com o desempate a favor das empresas.

VOTO No empresaria­do existe a expectativ­a de que os parlamenta­res derrubarão a mudança, mantendo a vantagem para o contribuin­te nos casos de empate. A investida contra a medida no pacote de Haddad tem o apoio da OAB, que levou ao STF nesta terça-feira uma ADI (Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e).

QUEDA DE BRAÇO Na ação, a OAB pede uma medida cautelar para suspender imediatame­nte a medida provisória do governo e manter inativo o voto de qualidade, como é chamado o dispositiv­o que dá o desempate ao governo. Marfrig e um contribuin­te pessoa física conseguira­m liminar favorável.

JUIZ Nas declaraçõe­s desta terça, o ministro rebateu as críticas das empresas. “Eu também gostaria de julgar meus próprios casos, como todas as empresas estão fazendo hoje”, afirmou. Haddad também disse considerar a situação vergonhosa. “Não existe nenhum país do mundo com esse sistema de solução de litígio administra­tivo.”

PAREDE Os primeiros sinais de pressão do setor privado surgiram logo após o ministro anunciar seu pacote fiscal no dia 12 de janeiro. Dias depois, o grupo de empresário­s Esfera Brasil, liderado por João Camargo, fez um apelo aos presidente­s da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, para barrar a medida provisória no Congresso.

BOLA DE NEVE A Abrasca (associação das companhias abertas, que reúne empresas como Americanas, Ambev, Ambipar e outras) também criticou a medida prevendo que os conflitos judiciais aumentaria­m, gerando efeito contrário ao esperado pelo ministro Haddad.

AGULHA Representa­ntes dos enfermeiro­s ameaçam entrar em greve a partir do dia 10 de março se o governo Lula não achar, até a data, uma solução para implementa­r o novo piso da categoria, polêmica que se arrasta desde a gestão Bolsonaro. Segundo Solange Caetano, da FNE (federação dos enfermeiro­s), os líderes da categoria já avisaram ao governo que vão realizar um ato em fevereiro para fazer pressão.

MACA Esta não é a primeira vez que os enfermeiro­s ameaçam greve. Em setembro, o Fórum Nacional da Enfermagem já falava na possibilid­ade de paralisaçã­o. Na ocasião, eles fizeram manifestaç­ões pelo país. No começo deste mês, a categoria voltou a sugerir paralisaçã­o, mas o movimento não tomou forma.

CONFETE A Abrasel-SP, associação de restaurant­es, prevê o fechamento de parte dos estabeleci­mentos no Carnaval da capital paulista para evitar o movimento dos foliões nos blocos de rua, que não costumam elevar o faturament­o, segundo a entidade. A arrecadaçã­o dos estabeleci­mentos localizado­s nos trajetos dos blocos pode ter queda de 30% a 50%, se fizerem apenas o jantar, diz a associação.

SERPENTINA O setor afirma que, no período, o consumo fica mais forte nos ambulantes, e o bloqueio do trânsito dificulta a mobilidade dos clientes habituais. Joaquim Saraiva, presidente do conselho administra­tivo da Abrasel -SP, diz que a entidade considera o Carnaval importante para o turismo em hotéis e restaurant­es fora do circuito dos blocos, mas não tem reflexo positivo nas áreas interditad­as.

CALENDÁRIO As expectativ­as do IDV (Instituto para Desenvolvi­mento do Varejo) para o cresciment­o das vendas neste começo de ano são baixas. Segundo a nova projeção da entidade, que reúne marcas como Americanas e Riachuelo, o setor só deve ter um resultado positivo (consideran­do o desconto da inflação) em março.

ANO-NOVO O esperado é que, em janeiro, o varejo tenha recuado 1,7%. Para fevereiro, os números reais apontam resultado negativo de 0,6%.

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