Folha de S.Paulo

Regra fiscal focará gasto, diz secretário de Haddad

Guilherme Mello também afirma que meta de inflação não está em discussão e que legislação trabalhist­a terá ajustes

- Eduardo Cucolo

São Paulo O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que o controle de despesas é o melhor instrument­o para administra­r a trajetória da dívida pública e que essa ideia está sendo levada em consideraç­ão na elaboração do novo arcabouço fiscal pelo governo Lula. Ele participou do evento Latin America Investment Conference, promovido pelo Credit Suisse.

Mello afirmou que o próximo arcabouço fiscal brasileiro tem de dialogar com as novas tendências globais e ser uma regra que aponte a trajetória de algumas variáveis centrais, entre elas, a dívida pública. Segundo ele, com um instrument­o para lidar com isso, que é o resultado primário.

“E que tenha uma regra que trabalhe com um horizonte de gasto público, que é o que o governo tem mais controle. Ele tem algum sobre receita, mas tem mais controle sobre o gasto.”

Ele disse que o Ministério da Fazenda deve fechar uma proposta nos próximos meses, que precisará ainda passar pelo crivo da Presidênci­a da República. Mas a ideia é que seja apresentad­o a tempo de orientar a formulação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentár­ia) de 2024, em abril.

“Os gastos públicos são o instrument­o possível para fazer esse controle [da trajetória da dívida pública].”

O secretário afirmou que há uma terceira geração de regras pós-Covid no mundo, que visam garantir simplicida­de, a sustentabi­lidade da dívida, que é o grande objetivo da política fiscal, e um grau de flexibilid­ade para resistir a possíveis choques.

“Ainda estamos construind­o essa proposta. Não é algo que está pronto. A tendência internacio­nal é o frame work fiscal de médio prazo.”

Mello reafirmou que a as reformas do arcabouço fiscal e tributária podem, juntas, ajudar a melhorar o ambiente de negócios, reduzir prêmios de riscos e, assim, contribuir para a queda da inflação e da taxa básica de juros.

“Um novo arcabouço fiscal e um novo arcabouço tributário. Essas duas mudanças têm todas as condições de serem aprovadas no Parlamento e pôr o Brasil em outro patamar”, afirmou Mello.

Ele disse que o governo pode recuperar de maneira bastante veloz o resultado primário brasileiro, que foi superavitá­rio nos últimos dois anos, mas deverá ser negativo em 2023.

Quando lhe foi perguntado sobre possíveis mudanças nas metas de inflação, respondeu que esse debate é prematuro e que é desejo de todo governo reduzir a taxa de juros e, ao mesmo tempo, a inflação.

“Cabe a nós [Ministério da Fazenda] apresentar as reformas e medidas que garantam a diminuição dos prêmios de risco e permitam ao Banco Central tomar medidas do lado da política monetária.”

O secretário também foi questionad­o sobre possível revogação da reforma trabalhist­a e disse que o que está na pauta são ajustes na legislação que serão debatidos com empregador­es e trabalhado­res.

“O que se discutiu não foi nenhum tipo de revogação. Existem aspectos da legislação trabalhist­a que precisam ser repensados, inclusive à luz da experiênci­a internacio­nal”, afirmou, citando a questão da proteção a algumas categorias e a adaptação a novas formas de trabalho.

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