Copom faz 1ª reunião sob Lula pressionado por Planalto e inflação
brasília Pressionado por uma piora nas expectativas do mercado financeiro para a inflação, o Banco Central deve manter nesta quarta-feira (1º) a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) —a primeira desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse.
Apesar do intenso choque de juros promovido pelo BC na tentativa de frear a inflação, incertezas fiscais e ruídos gerados pelo alto escalão do governo —incomodado com o alto patamar dos juros— têm contribuído para a deterioração das projeções sobre preços.
Para Tony Volpon, ex-diretor do BC, a atenção estará toda voltada para a comunicação da autoridade monetária sobre a piora nas expectativas. “O mercado espera que isso seja endereçado de alguma maneira”, afirma. “O grande ponto desse Copom é o que o BC vai dizer sobre as expectativas de 2024, 2025. Tudo lá na frente tem subido bastante nessas últimas semanas no [boletim] Focus.”
A pesquisa Focus, que capta a percepção dos economistas da iniciativa privada, mostra que a projeção para o IPCA para este ano saltou de 5,08% desde o encontro anterior do colegiado, em dezembro de 2022, para 5,74% no dado divulgado na segunda-feira (30).
Isso indica que as expectativas para 2023 já se encontram quase um ponto percentual acima do teto da meta de inflação. Os alvos centrais estabelecidos pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) são 3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Para 2024, período de maior relevância para a atuação do Banco Central hoje, a expectativa passou de 3,5% para 3,9% em quatro semanas —já acima do objetivo central a ser perseguido.
A piora na percepção do mercado financeiro também se refletiu em projeções de prazos mais longos, mesmo nos anos que ainda não estão na mira do Copom.
O movimento se dá na esteira da perspectiva de alta nos preços administrados com a possível reoneração de tributos federais sobre gasolina e etanol a partir de março. De acordo com o ministro Fernando Haddad (Fazenda), “até o presente momento” não há nenhuma nova decisão sobre o tema.
Um dos primeiros atos do novo governo Lula foi o envio de uma medida provisória prorrogando a desoneração dos tributos federais sobre combustíveis até o fim de fevereiro.
“O mais provável é que tenhamos um recuo das taxas de inflação até meados do ano e, no período de julho a setembro, a inflação em 12 meses deverá subir”, projeta o economista Heron do Carmo, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo).
A alta será sentida em relação ao ano passado, quando houve três meses consecutivos de deflação (de julho a setembro). A queda nos preços naquele período foi impulsionada pelos cortes de impostos sobre combustíveis, energia elétrica e outros itens.
A redução na carga tributária se deu em meio aos planos de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), que acabaram frustrados pela derrota para Lula nas urnas.
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos e ex-assessor no Ministério da Economia, espera que o Copom fale sobre a importância das expectativas inflacionárias nos próximos passos do BC.
Diante da piora do cenário, ele projeta que a autoridade monetária mantenha a Selic no atual patamar de 13,75% ao longo de todo o ano. “Acho difícil o BC, que está olhando para 2024, com projeções de mercado de inflação acima [do centro da meta] e subindo, conseguir cortar taxas de juros [neste ano]”, diz.