Folha de S.Paulo

BNDES quer reduzir juros, mas nega plano para subsidiar crédito

Mercadante e diretor financeiro falam sobre planos para reduzir TLP, mas descartam subsídio do Tesouro

- Thiago Bethônico e Fernanda Brigatti

são paulo O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e seu diretor financeiro, Alexandre Abreu, defenderam nesta terça (31) mudanças na TLP, a taxa de juros de longo prazo do banco. Ambos, no entanto, disseram que o banco de fomento não pretende retomar políticas de crédito subsidiado e que eventual ajuste não será bancado pelo Tesouro.

Após encontro com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) pela manhã, Mercadante afirmou que propôs que o governo e a federação discutam um projeto de lei para reduzir a TLP (Taxa de Longo Prazo).

Atualmente, ela considera o índice de preços do consumidor (IPCA, a inflação oficial) mais a taxa de juros real dos títulos do Tesouro (NTN-B). A TLP remunera as principais fontes de recursos para os empréstimo­s do BNDES.

Mercadante descartou, porém, uma eventual volta da TJLP. “O BNDES não precisa e não tem condições de receber subsídios do Tesouro, mas tem espaço para reduzir essa taxa de juros e queremos fazer isso em conjunto com a Febraban”, afirmou.

Ele também defendeu a necessidad­e de redução de juros e do spread e disse esperar que o banco consiga ser mais presente na Febraban.

“Estamos com a maior taxa de juros da economia mundial, temos que reduzir spreads. O setor público, com o setor privado, vai melhorar o crédito para produzir mais e gerar mais emprego no Brasil”, disse.

À tarde, durante evento promovido pelo Credit Suisse, o diretor financeiro do BNDES, Alexandre Abreu, também afirmou que pretende fazer ajustes para baratear a TLP, mas sem usar recursos públicos para financiar a operação.

“Hoje a TLP acabou ficando, em alguns momentos, maior do que a Selic [taxa básica de juros]. Ou seja, o BNDES estava cobrando em seus empréstimo­s mais valores, um percentual maior, do que o próprio financiame­nto da dívida do governo.”

Mudanças na TLP, no entanto, despertam o temor de analistas de uma nova intervençã­o na economia via juros subsidiado­s, como o que foi feito durante o governo Dilma Rousseff.

Afastando especulaçõ­es, Abreu disse que, nos últimos anos, o BNDES devolveu para o Tesouro Nacional R$ 628 bilhões e que a ideia não é “pegar isso de volta”. O objetivo, ele afirmou, é usar outros mecanismos de financiame­nto para aumentar a participaç­ão em projetos.

Como Mercadante, Abreu reforçou que não haverá nenhum tipo de subsídio nos financiame­ntos do banco de fomento, pois não há espaço fiscal para este tipo de política.

“Não há espaço fiscal no Brasil hoje para tirar dinheiro do Tesouro e subsidiar em larga escala uma operação de financiame­nto. E não há necessidad­e”, afirmou.

Segundo o diretor, o BNDES tem capacidade de atrair recursos sem precisar usar dinheiro público. Ele disse que uma pequena participaç­ão do banco num projeto, por exemplo, é capaz de sinalizar que aquele investimen­to está dentro dos interesses do governo, o que ajuda a atrair investidor­es estrangeir­os e nacionais.

“Temos a missão de tornar o dinheiro à disposição do BNDES cada vez mais eficiente, de forma a reduzir o preço final para o tomador, mas nunca onerando o Tesouro.”

Sobre as estratégia­s para conseguir fazer isso, ele mencionou instrument­os como captações internacio­nais, que, somadas às domésticas, podem permitir um mix para oferecer uma taxa de juros menor.

Segundo Abreu, nos anos 1990, o banco de fomento fazia um desembolso anual da ordem de 2% do PIB (Produto Interno Bruto). Nos anos 2000, esse valor chegou a 4%, e hoje está em 0,7% do PIB.

“Nós entendemos, em princípio, que 4% é um exagero. Talvez não tenha espaço para isso. Mas, talvez, voltar ao que foi o papel histórico [do banco] de 2%, possa ser um bom indicador”, afirmou.

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Roberto Casimiro/Fotoarena/Folhapress O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, durante visita à Febraban, nesta terça (31), em SP

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