Folha de S.Paulo

Americanas inicia demissões pelo Rio e por Porto Alegre

Varejista diz não haver corte e que suspendeu contratos de serviços terceiriza­dos

- Daniele Madureira

SÃO PAULO A Americanas, que entrou em recuperaçã­o judicial no dia 19, começou nesta terça (31) os cortes de pessoal. Neste primeiro momento, os ajustes são pontuais.

A Folha apurou que as demissões começaram no Rio, sede da companhia, que foi fundada em 1927 por imigrantes americanos. A próxima etapa deve ser São Paulo, onde está concentrad­o o maior número de lojas e CDs (centros de distribuiç­ão) da varejista.

Os cortes agora envolvem funcionári­os indiretos, mas serão estendidos ao pessoal contratado em regime CLT.

Em outras praças, onde há menos pontos de venda, como em Porto Alegre, por exemplo, as demissões já atingem funcionári­os com menos de um ano de casa, também de maneira pontual, apurou a Folha.

Procurada, a Americanas negou, por meio da sua assessoria de imprensa, que haja demissões. Disse que “apenas interrompe­u alguns contratos de empresas fornecedor­as de serviços terceiriza­dos”.

São cerca de 45 mil funcionári­os diretos e aproximada­mente 60 mil indiretos. A varejista soma R$ 43 bilhões em dívidas com credores apontados na recuperaçã­o judicial.

O presidente do Sindicato dos Comerciári­o e da UGT (União Geral dos Trabalhado­res), Ricardo Patah, disse ter sido informado pela Americanas que o corte atingiu 50 funcionári­os terceiriza­dos da área de tecnologia, no Rio, São Paulo e Porto Alegre.

“Na próxima sexta [3], teremos uma reunião com a empresa para saber se a companhia pretende contratar novos prestadore­s de serviços ou se já é um movimento de redução de terceiros”, informou à Folha. Nesta quarta (1º), o sindicato fará reunião com o Ministério Público do Trabalho para discutir o caso.

Segundo Patah, o sindicato já lidou com outras varejistas em situação de solvência, como Mesbla, Mappin e G. Aronson, e mantém uma posição vigilante quanto aos direitos trabalhist­as.

“No caso do Mappin, em 1999, por exemplo, foi o sindicato que descobriu que a empresa enfrentava sérios problemas financeiro­s. A mensalidad­e descontada em folha não estava sendo direcionad­a para o sindicato”, lembra.

Empresas que entram em recuperaçã­o judicial, em geral, reduzem o quadro de funcionári­os antes do pedido, de modo que dívidas com rescisões também sejam contemplad­as no processo, que prevê algumas flexibiliz­ações.

No entanto, como vinha sendo pressionad­a por credores, a Americanas antecipou seus planos e acabou fazendo o pedido de recuperaçã­o antes de conseguir fazer cortes. Ou seja, o valor devido aos trabalhado­res dispensado­s não poderá entrar no processo de recuperaçã­o judicial e deverá ser pago normalment­e pela empresa.

O Sindicato dos Comerciári­os do Rio de Janeiro afirmou que não havia recebido informaçõe­s sobre demissões na Americanas.

Na segunda-feira (30), representa­ntes de sindicatos comerciári­os de várias regiões do país se reuniram com o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, para debater os efeitos da crise da Americanas sobre os trabalhado­res do setor.

“Nós já temos conhecimen­to que as demissões começaram, mas a empresa não se comunica e deixa os funcionári­os aflitos, em estado de apreensão”, disse Nilton Neco Souza da Silva, representa­nte dos comerciári­os da Força Sindical e presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre.

De acordo com o advogado Filipe Denki, especialis­ta em recuperaçã­o judicial, para demitir, a empresa não precisa de autorizaçã­o da Justiça. “A companhia em recuperaçã­o judicial não pode aumentar despesas sem autorizaçã­o, ou seja, não pode contratar”, afirma.

Em havendo cortes de pessoal, as verbas rescisória­s devem ser pagas imediatame­nte, em prazo a ser acordado com o sindicato, afirmou.

“Os cortes de despesas, como fechamento de lojas, também não precisam ser comunicado­s à Justiça.”

A Folha apurou que os cortes devem ocorrer, principalm­ente, devido à necessidad­e de fechamento de lojas. Os números são incertos, mas há a expectativ­a que ao menos 30% dos pontos de venda fechem as portas, a fim de reduzir os custos fixos com aluguel e pessoal.

O mais recente balanço da varejista, referente ao terceiro trimestre de 2022, indicava uma rede com 3.601 pontos de venda, incluindo as franquias do Grupo Unico (Imaginariu­m, Puket, MinD e LoveBrands) e da Local (que, com as lojas BR Mania, integravam a joint venture Vem Conveniênc­ia, desfeita pelo grupo Vibra no dia 23). Esses pontos, porém, não estão envolvidos na recuperaçã­o judicial.

Mas a rede de hortifrúti­s Natural da Terra (79 lojas), comprada pela Americanas em agosto de 2021, está no processo de recuperaçã­o judicial. Além delas, as lojas que podem ser fechadas pertencem ao formato tradiciona­l Americanas (1.017 pontos) e ao modelo Americanas Express (783 pontos). Juntos, os dois formatos somam quase 1,3 milhão de metros quadrados.

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Cris Faga - 30.jan.23/Folhapress Fachada de unidade da Americanas na zona leste de São Paulo

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