Crise humanitária demanda cooperação internacional, diz ministra da Saúde nos EUA
Washington O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem condições de lidar com a crise yanomami, mas o assunto tem que ser encarado também por outros países, defendeu nesta terça-feira (31) a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em Washington, nos Estados Unidos.
“Creio que é muito importante que o tema esteja na agenda internacional. Até porque essa questão do garimpo ilegal, nós estamos vivendo uma situação muito crítica, mas pode ocorrer em outros territórios, pode ocorrer outros países da região amazônica. Então, é muito importante que haja uma compreensão internacional”, afirmou ela em conversa com jornalistas. A ministra fez a ressalva, porém, de que uma ajuda teria que ser “muito bem organizada”.
Trindade é a primeira ministra do governo Lula a visitar os Estados Unidos. O próprio presidente se encontrará com o americano Joe Biden em Washington no próximo dia 10. A ministra foi à capital americana para participar da posse do novo diretor-geral da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o brasileiro Jarbas Barbosa.
Na agenda da ministra também esteve uma reunião com o secretário de Saúde dos EUA, Xavier Becerra. Segundo Trindade, o tema dos yanomamis foi levado no encontro com o governo americano, entre outros assuntos, mas não foi acertada uma ajuda específica do governo Biden.
“Falamos sobre essa crise grave na região dos yanomamis, envolvendo todo esse quadro que vocês têm acompanhado de desnutrição gravíssima, mortes de crianças e também a população idosa muito afetada”, afirmou.
Segundo ela, Becerra deve visitar o Brasil ainda no primeiro semestre deste ano.
Trindade afirmou que levou ao Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) uma proposta de declaração sobre saúde indígena, a ser aprovada na próxima Assembleia Mundial da Saúde, órgão decisório da OMS.
Barbosa, o novo presidente da Opas, classificou as imagens dos indígenas como “chocantes”. “É impossível olhar aquelas imagens e não pensar o que fizemos de errado como continente, como país, como sociedade, para que pessoas estivessem naquela situação de desnutrição gravíssima, pessoas, crianças e adultos, numa situação totalmente inaceitável”, disse ele, que afirmou que a organização está em cooperação técnica com os ministérios da Saúde do Brasil e da Venezuela para tratar do assunto.
Além de Barbosa, Trindade se encontrou com o novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o também brasileiro Ilan Goldfajn, na segunda-feira (30), além de representante do IFC (International Finance Corporation), do Banco Mundial.
Segundo a ministra, nas discussões estiveram programas de financiamento para linhas de produção de vacinas e insumos no país e de um fundo de pandemias, para aumentar o preparo dos países a novos desastres em saúde.
Jarbas Barbosa é o segundo brasileiro a comandar a Opas, que completou 120 anos em 2022 —o primeiro foi Carlyle Guerra de Macedo, de 1983 a 1995. Médico sanitarista e epidemiologista, ele foi vice-diretor da Opas entre 2018 e 2022 e porta-voz da organização na pandemia. Antes, de 2015 a 2018, foi presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O mandato vai até 2028.