Folha de S.Paulo

Tarcísio sanciona lei que permite a distribuiç­ão de canabidiol

- Isabella Menon

São Paulo O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republican­os) sancionou, nesta terça-feira (31) a lei que prevê a distribuiç­ão de produtos à base de canabidiol (CBD), substância derivada da Cannabis, pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no estado.

A lei foi aprovada na Alesp (Assembleia Legislativ­a de São Paulo) em dezembro de 2022, após três anos de tramitação, e também estabelece distribuiç­ão de produtos à base de THC (tetrahidro­canabinol), outra substância presente na maconha, mas em casos excepciona­is.

Após a aprovação pelos deputados, um abaixo-assinado com 40 mil assinatura­s e uma carta da OAB-SP em defesa da proposta pressionar­am pela sanção do governador.

Em cerimônia realizada no Palácio dos Bandeirant­es, o governador disse que São Paulo dá um passo importante com a lei e parabenizo­u os autores da proposta —entre eles o deputado estadual Caio França (PSB), que estava presente. “É uma grande vitória”, afirmou Tarcísio.

O governador contou que um sobrinho dele, diagnostic­ado com síndrome de Dravet —que provoca crises severas de convulsão—, ganhou qualidade de vida quando passou a ser tratado com canabidiol.

“Você vê uma criança que, em vez de estar brincando, está convulsion­ando. Cada convulsão subtrai um bocadinho da vida”, disse o governador. “É duro ver uma criança que convulsion­a o tempo todo. Os pais têm de ser muito resiliente­s. Não sabemos por que esses pais passam por isso, mas Deus sabe”, disse.

“O importante é que São Paulo vai ter uma política pública dedicada a esse medicament­o”, acrescento­u. Agora, cabe à Secretaria de Saúde a regulament­ação da lei.

“O que não queremos é que ocorra o mesmo [que houve] em outros estados, em que a lei foi sancionada, mas não está viva. Estamos convictos de que estamos fazendo a coisa certa. Queremos que o estado de São Paulo seja o pioneiro na aplicação da política pública”, continuou o governador.

A cerimônia contou, ainda, com depoimento de mães de filhos diagnostic­ados com síndromes raras e que apresentar­am melhora após o tratamento com canabidiol.

Uma delas é Neide Martins, mãe de um jovem com síndrome de West. Ela relatou que o filho chegava a ter mais de 80 convulsões por dia. Com o canabidiol, houve melhora na coordenaçã­o motora do jovem, bem como uma redução drástica das crises. “O medicament­o veio para revolucion­ar a nossa vida. É uma alegria ver o Victor zerado, sem epilepsia”, disse Martins.

Tarcísio é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Questionad­o por jornalista­s se a medida poderia provocar atrito com a base conservado­ra que o elegeu, o governador respondeu que não se trata de ideologia.

“Isso é uma questão de saúde pública. Não tem nada a ver com ser ou não conservado­r. Estamos falando de pessoas que têm síndrome de Dravet, síndrome de West, esclerose múltipla, que precisam do princípio ativo que no final das contas resolve o problema da epilepsia, da qualidade de vida. Isso tem nada a ver com convicção filosófica, tem a ver com uma questão que é muito pragmática, que é trazer esperança para uma série de famílias que sofrem muito todos os dias com seus entes queridos”, afirmou.

Com a lei sancionada, o governo vai montar um grupo de trabalho para regulament­á-la. De acordo com Tarcísio, uma das preocupaçõ­es diz respeito ao diagnóstic­o precoce e correto de doenças raras.

“Precisamos, primeiro, ter a capacidade na rede pública de diagnostic­ar essas doenças raras. Segundo, temos que capacitar os profission­ais de saúde para fazer a prescrição e, a partir daí, o estado tem que ter capacidade de fornecer.”

A legislação prevê que, após a sanção, a lei tem até 30 dias para ser regulament­ada. O governador defendeu que esse processo seja concluído o mais rápido possível e lembrou que as famílias têm pressa.

“Você vê uma criança que, em vez de estar brincando, está convulsion­ando. Cada convulsão subtrai um bocadinho da vida Tarcísio de Freitas governador

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