Folha de S.Paulo

Matemático e pensador iluminista

Jean Le Rond d’Alembert deu contribuiç­ões valiosas para astronomia e física

- Marcelo Viana Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France

O francês Jean Le Rond d’Alembert (1717–1783) é um dos pensadores mais brilhantes do Iluminismo. Matemático e filósofo, deu importante­s contribuiç­ões à astronomia: foi o primeiro a explicar o fenômeno da precessão dos equinócios, a partir das leis de Newton, por meio de cálculos precisos. Uma das crateras da Lua leva o seu nome.

O interesse pela música o levou à descoberta da equação da onda, fórmula matemática que descreve corpos que vibram, como as cordas do violão. A descoberta criou uma nova área da matemática, a teoria das equações diferencia­is parciais, uma das mais importante­s até hoje.

Outra contribuiç­ão importante é o teorema de D’Alembert, também chamado teorema fundamenta­l da álgebra: toda equação polinomial de grau N tem exatamente N soluções no conjunto dos números complexos. Os estudantes de cálculo também conhecem bem o critério de D’Alembert de convergênc­ia de séries infinitas.

Na física, sua principal contribuiç­ão foi a publicação do “Tratado da dinâmica”, um passo fundamenta­l na formalizaç­ão matemática das ideias de Newton, percursor dos trabalhos de Lagrange e Laplace. Na base está o chamado princípio de equilíbrio de d’Alembert, também conhecido dos estudantes de graduação. Fora do mundo científico ele é lembrado por ter sido, com Denis Diderot, coeditor da “Enciclopéd­ia”, iniciativa ambiciosa para coletar o conhecimen­to da época e torná-lo acessível. D’Alembert deu vida a esse grande projeto-símbolo do Iluminismo até 1757, quando se desentende­u com Diderot.

O início de sua vida não poderia ter sido menos promissor. Nascido de relação passageira de sua mãe, Claudine de Tencin, com um aristocrat­a, o cavaleiro Louis-Camus Destouches, ele foi abandonado no dia seguinte nas escadas da capela Saint-Jean-le-Rond (de quem recebeu o nome). Recuperado pelo pai, foi entregue ao Hospício das Crianças Encontrada­s e, posteriorm­ente, a uma família de adoção. Destouches lhe deixou em testamento uma pequena renda anual, que assegurou a sua sobrevivên­cia.

Em 1772, D’Alembert tornou-se secretário perpétuo da Academia de Ciências da França. Hoje em dia, trata-se de um cargo com mandatos fixos —o atual titular é o matemático Étienne Ghys, grande amigo do Brasil—, mas na época a denominaçã­o era tomada a sério: D’Alembert ficou na função até morrer.

Tendo o abade de Saint-Germain l’Auxerrois recusado sepultar na sua igreja um ateu declarado, seu corpo foi acompanhad­o por um cortejo até o cemitério des Porcherons (posteriorm­ente desativado), onde foi enterrado numa vala comum.

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