Folha de S.Paulo

Semana de Alta-Costura tem corpos à mostra

Tiras que mal cobrem os seios no desfile de Jean Paul Gaultier e transparên­cias na fendi se sobressaem em Paris

- João Perassolo

são paulo Depois de alvoroçar a internet com um vestido com uma cabeça de leão acoplada, a Semana de Alta-Costura de Paris terminou na quinta-feira (2) delineando uma tendência para a primavera no hemisfério norte.

Costas decotadas, recortes nos quadris, vestidos que evocam roupas íntimas —o ultrassexy e os corpos nus ganharam bastante espaço nas passarelas do evento que mostra o que há de mais exclusivo na moda, quando um punhado de estilistas desfila suas criações costuradas à mão em ateliês da capital francesa com materiais de altíssima qualidade. São obras de arte para vestir, costumam dizer.

No último dia do evento, a Fendi apresentou uma coleção repleta de transparên­cias, com vestidos inspirados em lingerie. Diante das cantoras Courtney Love e Rita Ora, que estavam na primeira fila, desfilaram modelos em vestidos fluidos, em cinza claro ou cor de pele, calçando escarpins com salto de pedraria.

“É o mundo interior que sai para o exterior, nos sentidos figurado e literal, e as roupas íntimas se tornam roupas para sair à noite”, afirmou o estilista da marca, Kim Jones.

Sair à noite foi o que Pierpaolo Piccioli fez literalmen­te no desfile da Valentino, que aconteceu numa boate embaixo da ponte Alexandre 3º e trouxe looks inspirados na vida noturna. Uma modelo usava smoking e gravata com as pernas nuas, tendo um grande laço vermelho na virilha como complement­o; outra vestia uma microssaia rosa brilhante e um tomara que caia azul, com a barriga à mostra.

“É um convite para ser livre, para ser o que você quiser ser, misturado com os códigos da Valentino dos anos 1980”, afirmou o diretor criativo da grife.

A estilista espanhola Juana Martín também apostou no glamour e na nudez. Vestidinho­s pretos e miniconjun­tos brancos transparen­tes com mangas volumosas em formato de leque —sua marca registrada— apareceram na passarela pareadas com sandálias de salto agulha prateadas.

Contudo, foi o denim tie-dye o principal material da coleção da estilista. O jeans veio recheado de recortes e aberturas que feminizam as silhuetas. “A alta-costura às vezes é desconfort­ável, mas faz coisas que fazem você se sentir superleve por dentro, é superetére­a”, afirmou Martín para a agência de notícias AFP.

“Tem muita nudez nas roupas. Estamos saindo de uma pandemia, as pessoas querem sair, se exibir, celebrar juntas”, afirmou Christian Louboutin, que desenhou seus conhecidos sapatos de solado vermelho para o desfile de Martín.

Na apresentaç­ão de Haider Ackermann para Jean Paul Gaultier, tiras de tecido mal cobriam os seios em um vestido de noite rosa, e várias das peças se encaixavam no tronco de forma a valorizar o colo das modelos —o que também foi uma caracterís­tica da apresentaç­ão de Alexis Mabille. O francês desfilou ainda vestidos longos com recortes enormes nas laterais.

Looks transparen­tes de renda também apareceram no desfile da Chanel, no qual as modelos saíam de dentro de grandes moldes de animais feitos de papelão e madeira. A apresentaç­ão, contudo, foi menos sexy e mais espirituos­a. As modelos andavam entre as estruturas em minissaias de líderes de torcida, macacões florais e jaquetas de tweed cintilante­s.

Um dos looks mais impression­antes foi logo o primeiro —um casaco marfim de abotoament­o duplo, que cobria uma minissaia com franja. Na cabeça, a modelo usava uma cartola preta de aba levemente inclinada, e os sapatos pretos sem salto acentuavam suas longas pernas desnudas.

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