Folha de S.Paulo

Relatório cita falta de profission­al de saúde em centros da cracolândi­a

- Paulo Eduardo Dias

São Paulo Um relatório do grupo de trabalho da Comissão Extraordin­ária da Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal de São Paulo apontou problemas nos centros de tratamento para usuários de drogas da cracolândi­a.

Conforme o documento, faltam médicos e outros profission­ais de saúde. A Folha teve acesso ao relatório parcial com exclusivid­ade.

As visitas do grupo de trabalho aos centros ocorreram em novembro e dezembro do ano passado.

Foram visitadas cinco estruturas municipais: os Caps (Centros de Atenção Psicossoci­al) 4 Redenção e Boracea, o Siat (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutic­a) Emergencia­l, o Hospital Cantareira e a UPA (Unidade de Pronto-Atendiment­o) Vergueiro.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Executiva de Projetos Estratégic­os, disse que que o Programa Redenção ampliou e qualificou a oferta de tratamento aos dependente­s químicos em situação de vulnerabil­idade. Ao todo, são 540 profission­ais responsáve­is pela abordagem, acolhiment­o e tratamento no programa.

Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a rede conta com 2.398 vagas, distribuíd­as entre diversos serviços e parcerias que atendem a pessoa de acordo com seu estágio de tratamento e nível de organizaçã­o.

No Siat Emergencia­l, criado pela prefeitura nos fundos do 77º DP (Santa Cecília), após a dispersão dos usuários da praça Princesa Isabel, em maio, a Defensoria Pública encontrou divergênci­as no número de profission­ais informados pela gestão Nunes.

Ofício encaminhad­o anteriorme­nte pelo município para defensores indicou a presença diária de dois médicos, um psicólogo, um assistente social, um oficineiro, um redutor de danos, uma enfermeira, além de um técnico de enfermagem. No entanto, à época da visita, foi constatada a presença de um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e um assistente social —ou seja, metade da equipe informada.

O único médico responsáve­l pelo atendiment­o havia sido contratado como pessoa jurídica. O profission­al relatou que não tinha experiênci­a com a população de rua e atuava na cracolândi­a havia apenas um mês.

Segundo ele, os principais problemas identifica­dos nos usuários na unidade foram traumas e escabiose (sarna).

A prefeitura justificou que as equipes do Siat Emergencia­l atuam em regime de plantões e circulam nas ruas, não ficando todo o quadro presente na unidade. A gestão afirmou que estuda disponibil­izar uma equipe do Redenção na Rua para atender diretament­e na unidade.

Outra estrutura em que havia uma equipe menor do que a informada pela prefeitura foi o Caps Boracea. Conforme o relatório, a prefeitura apontou serem necessário­s 32 funcionári­os para atender a demanda. No entanto, no dia da visita, os responsáve­is relataram que apenas seis estavam no local.

Em resposta, a Secretaria Municipal da Saúde explicou que a unidade está com quadro completo, sendo 76 funcionári­os, entre eles enfermeiro­s, psiquiatra­s, clínicos e assistente­s sociais, além de auxiliares operaciona­is contratado­s pela Organizaçã­o Social de Saúde Associação Filantrópi­ca Nova Esperança.

As ações em campo tiveram a presença do vereador e deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT), de assessores da deputada estadual Erica Malunguinh­o e da vereadora e deputada federal eleita Erika Hilton, ambas do PSOL, além de membros da Defensoria Pública, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), do Conselho Municipal de Álcool e Drogas e da Associação Brasileira de Saúde Mental.

Durante a visita ao Caps 4 Redenção, os responsáve­is pelo local fizeram diversas críticas à Operação Caronte, ação da Polícia Civil que levava usuários para a delegacia e os encaminhav­a para a unidade. Dependente­s químicos entrevista­dos no Caps Boracea, criada para acompanham­ento a longo prazo, relataram terem sido vítimas de ações violentas.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana disse que GCM desconhece a acusação de agressão relatada pela reportagem. De acordo com a pasta, a atuação dos guardas é pautada pelo respeito aos direitos humanos e à dignidade das pessoas.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública do estado, o combate aos crimes na região central de São Paulo é uma das prioridade­s da gestão atual, que intensific­ou o policiamen­to na área em janeiro.

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