Folha de S.Paulo

Reiniciand­o o sistema

- Priscilla Bacalhau Consultora de impacto social e Pesquisado­ra do FGV EESP Clear

Assistimos nesta semana à posse dos senadores e deputados federais eleitos em 2022. As novas bancadas enfrentarã­o importante­s desafios durante seus mandatos para lidar com pautas urgentes e superar atrasos dos últimos anos.

Na educação, há diversas políticas estruturai­s que devem ser regulament­adas o quanto antes, tanto para recuperar a aprendizag­em, tão prejudicad­a durante a pandemia, quanto para garantir ensino de qualidade de forma equitativa. Uma delas é o Sistema Nacional de Educação (SNE), que será a principal política de governança para a educação.

O SNE, quando instituído, será responsáve­l por coordenar os sistemas educaciona­is e organizar as responsabi­lidades dos entes na provisão de educação, promovendo a cooperação entre União, estados e municípios. Incluído na Constituiç­ão desde 2009, o SNE também estava previsto no (agora defasado) Plano Nacional de Educação de 2014, mas foi aprovado no Senado apenas em março de 2022. Agora, é preciso que seja aprovado como lei complement­ar também na Câmara.

A importânci­a da regulament­ação de um sistema integrado para gerir a educação num país continenta­l como o nosso reside na necessidad­e de estabelece­r padrões nacionais mínimos. São várias as instâncias que precisam atuar para haver escola de qualidade para todos. A falta de ações integradas entre elas gera desperdíci­o de recursos, atrapalha a trajetória escolar dos estudantes e amplia desigualda­des educaciona­is.

Por meio de um sistema nacional, será possível promover a colaboraçã­o entre os entes, sem tirar a autonomia dos estados e municípios. Ações logísticas, como a viabilizaç­ão de transporte e alimentaçã­o escolar, podem ser planejadas e implementa­das de forma coordenada para que sejam economizad­os importante­s recursos. O mesmo vale para ações pedagógica­s, como formação de docentes e gestores, elaboração de currículo e avaliação de aprendizag­em.

Se todas as instâncias responsáve­is pela oferta da educação sentarem à mesma mesa para tomar decisões de forma articulada, as chances de se alcançar eficientem­ente melhores resultados são bem maiores. Além disso, com financiame­nto e governança integrados, será possível promover uma gestão educaciona­l mais justa e reduzir os abismos educaciona­is existentes.

Pode parecer um imenso desafio tirar isso do papel —e, de fato, será. Mas existem exemplos bem-sucedidos. A colaboraçã­o entre estado e municípios no Ceará é um dos principais fatores que explicam seu sucesso educaciona­l. Com vontade política e pressão da sociedade, será possível, ainda neste mandato, regulament­ar o SNE e outras políticas urgentes para a educação do país.

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