Folha de S.Paulo

‘Heil Bolsonaro!’

- Ruy Castro

Reportagem de Isabella Menon na Folha (“Ideias nazistas em escolas acendem alerta”, 3/1) traz um retrato alarmante: a naturalida­de com que o Brasil tem convivido com atos de apoio ao nazismo, até mesmo em colégios e universida­des. Esses atos vão desde suásticas pichadas em muros, grupos autoprocla­mados neonazista­s, professore­s defendendo Hitler em aula e jovens que se fantasiam de Hitler e fazem seus gestos. Em dezembro, um adolescent­e em Aracruz (ES), portando uma braçadeira de suástica, matou a tiros quatro pessoas e feriu 13.

As causas são óbvias: a propaganda que esses jovens absorvem no submundo da internet e o discurso de ódio que escutam em casa. O envenename­nto digital não seria tão eficiente se detectado por pais responsáve­is e democratas. Mas, quando os próprios pais se identifica­m com aquelas teses, os garotos não têm chance. Como batismo de fogo, muitos foram levados para o quebra-quebra em Brasília.

Alguma dúvida quanto à presença de neonazista­s entre os bolsonaris­tas da baderna? Jair Bolsonaro, pivô do levante, flertou com o nazismo durante toda a sua vida política. Há farta documentaç­ão: mensagens, discursos, slogans, auxiliares adeptos da estética hitlerista, homenagem a uma neonazista alemã e muito mais. Segundo a antropólog­a Adriana Dias, o número de células neonazista­s no Brasil pulou de 72 em 2015 para 1.117 em 2022. Mera coincidênc­ia com o mandato de Bolsonaro?

Em 1944, o Exército brasileiro mandou 25 mil heróis para a Itália, a fim de ajudar os aliados a combater o nazismo. Destes, 467 voltaram mortos e repousam no Monumento aos Pracinhas, aqui no Rio. Os militares que ainda apoiam Bolsonaro fariam melhor se fossem em coluna por um ao monumento e cuspissem nas urnas gritando “Heil Bolsonaro!”.

Adriana Dias morreu neste domingo (29), vitimada por um câncer. É um duro abalo na luta contra o neonazismo no país.

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