Folha de S.Paulo

Polícia Federal prende ex-deputado federal bolsonaris­ta Daniel Silveira por ordem do STF

- Fabio Serapião Colaborou Bruna fantti, do Rio.

O ex-deputado bolsonaris­ta Daniel Silveira foi preso na manhã desta quinta (2) pela Polícia Federal.

A prisão foi ordenada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) após o ex-parlamenta­r descumprir medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes.

Além da prisão, Moraes ordenou a realização de busca e apreensão na residência de Silveira e suspensão pela PF e pelo Exército dos registros de armas em seu nome.

Também foram cancelados os passaporte­s de Silveira, que está proibido de receber visitas fora familiares e advogados, e de conceder entrevista­s sem autorizaçã­o prévia do STF.

Silveira foi detido na cidade de Petrópolis (RJ), e agentes federais encontrara­m ao menos R$ 270 mil em espécie na sua residência.

Procurado, o advogado de Daniel Silveira, André Rios, afirmou que soube pela imprensa da prisão.

“Ainda estou me inteirando dos fatos que soube há pouco pela imprensa. Cabe salientar que o Daniel Silveira obteve a graça constituci­onal. O que torna qualquer medida dessa natureza mais um triste capítulo no Estado democrátic­o de Direito. Entrando para o rol das arbitrarie­dades cometidas. Mais uma aberração jurídica que o Brasil ainda vai sentir os efeitos desse triste capítulo da história.”

Nesta quarta (1º), com o fim do mandato e da perda de foro especial, a vice-procurador­a-geral da República, Lindôra Araújo, pediu a Moraes o envio de um inquérito contra Silveira para a primeira instância.

A apuração foi instaurada pelo descumprim­ento anterior de medida cautelar de prisão domiciliar com monitorame­nto eletrônico. A violação, segundo os autos, ocorreu 30 vezes entre os meses de março e maio de 2021, segundo relatórios de monitorame­nto.

“As condutas do réu, que insiste em desrespeit­ar as medidas cautelares impostas nestes autos e referendad­as pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, revelam o seu completo desprezo pelo Poder Judiciário, comportame­nto verificado em diversas ocasiões durante o trâmite desta ação penal”, afirma Moraes na decisão que ordenou a prisão.

Silveira foi condenado, por 10 votos a 1 no STF, a 8 anos e 9 meses de prisão por ofender e ameaçar ministros da corte. Também aprovaram cassar o mandato, suspender os direitos políticos e pagamento de multa de cerca de R$ 192 mil.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) concedeu o benefício da graça a ele, livrando-o do cumpriment­o da sentença.

O caso do deputado acumula ao longo de mais de dois anos controvérs­ias jurídicas e políticas em temas sensíveis à democracia.

Consideran­do só um episódio recente, o perdão concedido por Bolsonaro, provocou discussão inédita sobre o alcance do instituto do indulto, que extrapola o meio jurídico.

Na decisão que ordenou a nova prisão de Silveira, Moraes cita o benefício concedido por Bolsonaro e afirma que “enquanto não houver essa análise e a decretação da extinção de punibilida­de pelo Poder Judiciário a presente ação penal prosseguir­á normalment­e”.

Oficialmen­te, a prisão desta quinta não está relacionad­a com relatos do senador Marcos do Val (Podemos-es) de que Silveira tinha um plano de tentar gravar conversa com o ministro Moraes.

No decorrer do caso, uma das leis que baseou a denúncia contra Silveira, a Lei de Segurança Nacional (LSN), foi revogada pelo Congresso, complicand­o o processo.

Temas como liberdade de expressão, imunidade parlamenta­r e possíveis excessos do STF também permeiam o processo que começou no chamado inquérito dos atos antidemocr­áticos.

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