Folha de S.Paulo

Castro vence na Assembleia e abre queda de braço no PL

- Italo Nogueira

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), venceu nesta quinta-feira (2) a disputa travada com o próprio partido pela presidênci­a da Assembleia Legislativ­a. Agora, deve abrir uma queda de braço que pode culminar com sua saída da sigla de Jair Bolsonaro.

Apoiado pelo governador, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL) assumiu a presidênci­a da Assembleia após se tornar candidato único à vaga. Ele recebeu o aval de 56 deputados, enquanto 13 se abstiveram e uma faltou.

O deputado enfrentari­a Jair Bittencour­t (PL), cuja candidatur­a foi articulada pelo presidente do PL-RJ, Altineu Côrtes, braço-direito de Valdemar Costa Neto, presidente da sigla. O adversário, porém, retirou o nome da disputa uma hora antes da sessão de votação, após perceber a inviabilid­ade de uma vitória.

O rompimento entre o governador e o PL-RJ se deu porque Bacellar, um dos principais aliados de Castro, deixou o partido de fora de postos-chave da Mesa Diretora e de comissões importante­s, como a de Constituiç­ão e Justiça.

A sigla elegeu 17 dos 70 deputados estaduais, tendo formado a maior bancada na Casa, e reivindica­va mais espaço.

O PL decidiu, então, articular a candidatur­a de Bittencour­t e entregou as três secretaria­s que controlari­a no novo mandato de Castro (Agricultur­a, Educação, e Ciência e Tecnologia). Ainda não se sabe o destino dos cargos.

Castro se queixou, sem sucesso, com Valdemar sobre o movimento. Com a vitória nesta quinta, ele deve exigir o controle do PL-RJ para permanecer na sigla. O assunto será debatido a partir da próxima semana, após viagem do governador a Lisboa.

Tanto pessoas próximas ao governador como a Côrtes avaliam como remotas as possibilid­ades de Valdemar retirar seu principal aliado do comando regional do partido. O destino de Castro pode ser o PP ou a União Brasil, partidos com os quais negociou antes de decidir se filiar ao PL.

Em seu discurso, Bittencour­t afirmou que a articulaçã­o para sua candidatur­a se deveu à falta de diálogo. Ele eximiu o governador de responsabi­lidade e garantiu que permanecer­á na base de Castro na Assembleia.

“Muitos tentaram convencer, de uma forma mentirosa, que [a candidatur­a] era motim. Nunca foi. Faltou debate, diálogo. E não da parte do deputado Bacellar, longe disso. Faltou da nossa consciênci­a entender que o Parlamento é debate”, disse ele.

O movimento de Castro acentua o seu afastament­o até então gradual do bolsonaris­mo desde a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição do ano passado.

O governador do Rio de Janeiro vem buscando construir pontes com o petista a fim de atrair investimen­tos para o estado e garantir uma marca à sua nova gestão.

Uma eventual mudança de partido também auxilia o governador a se afastar dos planos políticos do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O filho do ex-presidente cogita disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de 2024, pretensão que não conta com o apoio de Castro.

Um beneficiár­io indireto da crise pode ser o prefeito Eduardo Paes (PSD). A possível desvincula­ção de Castro do PL facilita a aproximaçã­o dos dois para uma eventual aliança na disputa do ano que vem, quando o prefeito vai tentar a reeleição. O tema, porém, ainda não foi colocado.

Inicialmen­te, Castro montou o governo firmando alianças com sete partidos a fim de estruturar uma coligação ampla a ser reproduzid­a nas eleições municipais em toda a região metropolit­ana. Pelo desenho inicial, ele e Paes estariam em lados opostos.

Pivô da crise, Bacellar foi secretário de Governo durante o primeiro mandato de Castro, que assumiu após o afastament­o de Wilson Witzel pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele se tornou um dos homens fortes da gestão.

O novo presidente da Assembleia Legislativ­a é também protagonis­ta do escândalo das “folha de pagamento secreta” do Ceperj (Centro Estadual de Pesquisa e Estatístic­a do Rio de Janeiro).

A Secretaria de Governo foi uma das primeiras a usar o expediente de pagamento em boca do caixa, prática sob investigaç­ão do Ministério Público estadual e alvo de uma ação da Procurador­ia Eleitoral que pede a cassação do mandato de Castro.

Muitos tentaram convencer, de uma forma mentirosa, que [a candidatur­a] era motim. Nunca foi. Faltou debate, diálogo. E não da parte do deputado Bacellar, longe disso. Faltou da nossa consciênci­a entender que o Parlamento é debate

Jair Bittencour­t (PL-RJ) deputado estadual derrotado na eleição na Assembleia

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