Líderes da UE visitam Kiev em meio a alertas de nova mobilização russa
Aproximação com bloco não significa celeridade de processo de adesão como Zelenski deseja
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante cerimônia de 80 anos da Batalha de Stalingrado, em Volgogrado
Vista como demonstração da aproximação entre Ucrânia e União Europeia, a visita de líderes do bloco a Kiev nesta quinta-feira (2) ocorre em meio a uma escalada dos conflitos no leste do país —e à expectativa de um cenário ainda mais devastador no final do mês, quando a guerra completa um ano.
O prognóstico foi anunciado pelo ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Keznikov, no dia anterior. À imprensa francesa ele afirmou que a Rússia planeja uma grande ofensiva para coincidir com o primeiro aniversário dos combates, em 24 de fevereiro, pondo em campo as tropas mobilizadas pelo Kremlin no fim do ano passado. O número oficial de soldados convocados é de 320 mil, mas Keznikov alegou que o efetivo parece estar mais próximo dos 500 mil homens, que já estariam se organizando nas fronteiras.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, também indicou que seu país prepara uma surpresa para a data, mas numa fala enigmática: segundo ele, diplomatas trabalham para garantir que eventos organizados pelo Ocidente no dia “não sejam os únicos a atrair a atenção mundial”. A Rússia comemorou nesta quinta os 80 anos da Batalha de Stalingrado, quando os soviéticos derrotaram os nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Parakeznikov,oataqueseria concentrado em duas regiões do país já disputadas —o leste e o sul. A primeira, aliás, tem se transformado no ponto focal da guerra. Entre a noite de quarta e manhã desta quinta, outra ofensiva russa foi registrada, com mísseis atingindo a cidade de Kramatorsk. Ao menos três pessoas morreram e outras 18 ficaram feridas, além de um prédio ter sido completamente destruído.
Batalhas mais sangrentas têm ocorrido em Bakhmut, onde as forças de Moscou conseguiram interromper as linhas de suprimento do Exército ucraniano. Ao estilo do que ocorreu em Mariupol, tomada no mais violento cerco da guerra até aqui, a cidade hoje virou ruína. Dos cerca de 70 mil habitantes que abrigava, sobraram 6.500 —o prefeito implorou a eles que saíssem dali no início desta semana.
“Temos notado um aumento das operações ofensivas no leste do país”, disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em pronunciamento em vídeo na quarta. “A situação se tornou mais difícil.”
Nesta quinta, ao comentar o ataque a Kramatorsk, ele voltou a pedir mais ajuda militar do Ocidente. “A única forma de impedir o terrorismo russo é derrotá-lo. Com tanques. Aviões de caça. Mísseis de longo alcance”, afirmou —só os EUA já doaram mais de US$ 20 bilhões em auxílios militares ao país invadido, de acordo com dados compilados pelo Instituto da Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.
A depender da UE, que já enviou quase US$ 35 bilhões à Ucrânia e prometeu uma mesada bilionária para o território neste ano, de cerca de Us$1,65bilhão(r$8,2bilhões), mais ajuda está a caminho.
Entre os tópicos que as autoridades do bloco pretendem discutir com Zelenski na viagem de dois dias a Kiev estão o aumento das remessas de armamentos e de dinheiro e a cobertura das necessidades energéticas do país, cuja infraestrutura tem sido alvo dos bombardeios russos nos últimos meses.
“Estamos aqui juntos para mostrar que a União Europeia apoia a Ucrânia tão firmemente quanto sempre”, afirmou Ursula von der Leyen, líder da Comissão Europeia —o braço executivo da UE—, após chegar de trem à capital, acompanhada de uma dúzia de representantes do grupo.
A primeira conversa foi concluída com o anúncio de mais um pacote de sanções contra Moscou, a ser lançado até o aniversário da guerra. Von der Leyen afirmou que as medidas têm sido responsáveis por erodir a economia russa e fazê-la retroceder uma geração —uma fala exagerada, dada a pouca efetividade das punições para deter o conflito em si e a resistência demonstrada pelo mercado do país liderado por Vladimir aliança militar ocidental, estabeleceu que os países-membros deveriam reservar 2% de seu PIB para gastos militares.
A meta, porém, raramente é atingida, e nunca foi seguida por todos os 30 membros do grupo. Em 2014, só três nações gastaram o valor estabelecido —o maior número foi em 2020, quando dez chegaram lá.
Após a invasão da Ucrânia, muitos países declararam que chegarão aos 2%, entre os quais a Dinamarca. Mas, nesse caso, a meta seria alcançada apenas em 2033. Com o feriado a menos, o governo estima que chegaria aos 2% em 2030. No ano passado, o orçamento da defesa da Dinamarca foi de cerca € 3,5 bilhões, o que dá 1% do PIB do país. Assim,
Putin, embora analistas afirmem que elas podem, sim, ter impacto crescente no futuro.
A alemã também anunciou a criação de um centro internacional para coletar evidências de crimes de agressão —isto é, o “uso de força armada por um Estado contra a soberania, a integridade territorial ou a independência política de outro”— de Moscou contra Kiev. Segundo ela, o órgão responderia à equipe da Eurojust (Agência Europeia para a Cooperação Judiciária Penal) que investiga matérias do tipo.
O centro tem sede em Haia, na Holanda, onde fica o Tribunal Penal Internacional — que apura supostos crimes de guerra cometidos pelos invasores na Ucrânia, mas não pode abrir ações por infrações ligadas ao crime de agressão por países não signatários do seu estatuto, caso da Rússia.
Von der Leyen evitou, por outro lado, tocar no tema da inclusão da Ucrânia na UE, frustrando os desejos ucranianos para acelerar a adesão. Kiev pediu para entrar no bloco quatro dias após os russos cruzarem suas fronteiras. Na sequência, Moldova e Geórgia, outras ex-repúblicas soviéticas e que, assim como a Ucrânia, lutam contra separatistas em regi
os € 400 milhões extras do feriado cancelado seriam uma ajuda, mas nem de longe o suficiente, para que o gasto militar chegue aos € 7 bilhões que a Otan gostaria.
“Com o ataque de Putin à Ucrânia, há guerra na Europa. A ameaça se aproximou”, disse um comunicado do governo de Frederiksen no final do ano passado. “Para financiar o aumento dos gastos militares nos próximos anos, o governo proporá uma lei que abolirá um feriado que entrará em vigor em 2024. Os dinamarqueses devem contribuir para nossa segurança comum.”
Isso significa que o feriado deste ano, em 5 de maio, está garantido, mas a folga do próximo ano, não. O Dia da Grande Oração é uma data móvel, sempre na quarta sexta-feira após a Páscoa. O dia é uma escolha popular para datas de casamento no país. E isso sem falar na tradição: ões ocupadas por Moscou, seguiram o mesmo caminho.
A UE deu sinal verde para a candidatura de Kiev em meados do ano passado, num gesto acima de tudo simbólico em meio à guerra. Ainda na quinta, Zelenski disse a Ucrânia merece que o bloco avance com as negociações ainda neste ano e que esse processo inspiraria seus soldados a lutar contra as tropas russas.
Mas o caminho da adesão pode levar anos, já que o processo exige reformas profundas no país. Uma delas é a adoção de uma série de medidas anticorrupção. O governo de Zelenski vem realizando operações nesse sentido nas últimas semanas, com o afastamento de autoridades.
Com Reuters
Em Stalingrado, Putin volta a associar Ucrânia ao nazismo
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez da comemoração dos 80 anos da Batalha de Stalingrado uma oportunidade para atacar a Ucrânia e seus aliados do Ocidente —exatamente como era esperado. O chefe do Kremlin visitou a cidade, palco da disputa mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial e agora chamada de Volgogrado, e reiterou o discurso de que sua ofensiva no país vizinho seria parte de uma luta renovada contra grupos neonazistas.
“De novo e de novo temos que repelir a agressão do Ocidente. É incrível, mas é um fato: estamos novamente sendo ameaçados por tanques Leopard alemães com cruzes neles”, disse Putin a uma audiência formada por oficiais do Exército e por membros de grupos patrióticos locais.
O líder russo faz dupla referência: aos blindados anunciados por membros da Otan como reforço ao arsenal de Kiev e aos símbolos utilizados por forças ucranianas que guardam semelhanças com insígnias nazistas.
“Infelizmente, vemos que a ideologia do nazismo em sua forma e manifestação modernas novamente ameaça diretamente a segurança de nosso país”, prosseguiu Putin em seu discurso. Não é a primeira vez que o russo ou membros do alto escalão do Kremlin associam a Ucrânia ao neonazismo, mas, desta vez, o local das declarações não poderia ser mais sugestivo.
Stalingrado foi o ponto de virada da Segunda Guerra. Foi a partir dessa vitória que a União Soviética começou a avançar sobre a Alemanha de Adolf Hitler (1889-1945).
A associação com o nazismo é rechaçada por Zelenski, que é judeu, e não é levada a sério por nenhum país do Ocidente, que entende que a Rússia é a agressora desta vez.
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De novo e de novo temos que repelir a agressão do Ocidente. É incrível, mas é um fato: estamos novamente sendo ameaçados por tanques Leopard alemães com cruzes neles
Vladimir putin
o “Store Bededag” é feriado na Dinamarca desde 1686.
Entre críticos ao cancelamento, estão os dez bispos luteranos que lideram a Igreja Evangélica-luterana Nacional, à qual 73% dos dinamarqueses dizem pertencer, embora apenas 3% frequentem as missas com regularidade. Os bispos reclamam que não foram consultados. Enquanto isso, sindicatos lançaram uma petição virtual para abandonar a proposta, com quase meio milhão de assinaturas.
A oposição —à direita e à esquerda da coalizão centrista— se uniu em um movimento raro para criticar a gestão. “O governo está nos expulsando [da coalizão]”, disse Pia Olsen Dyhr, líder do Partido Social Popular, de esquerda.
Já Søren Pape Poulsen, líder dos conservadores, disse que “é importante proteger a cultura em que a sociedade dinamarquesa se baseia”.