Folha de S.Paulo

Podcast discute futuro da Lua para turismo e sob disputa de potências

- João Batista Natali Livros, filmes, séries, podcasts e o que mais houver para tentar entender o mundo Back to the Moon Podcast da Princeton Universtit­y Press. Disponível em bit.ly/3y1bnls. Duração: 36 min. (em inglês)

Para que serve a Lua? A resposta do astrofísic­o Joseph Silk, 80, é simples e bem utilitária. A Lua serve como plataforma para a futura instalação de imensos telescópio­s que permitirão identifica­r estrelas e planetas localizado­s a muitos milhões de anos-luz.

Silk é autor de “Back to the Moon: The Next Giant Leap for Humankind (de volta à Lua: o próximo salto gigante da humanidade), que faz campanha para que, ao lado da virtual exploração de minérios, a Lua também seja usada para a observação de corpos celestes distantes da nossa galáxia.

Formado em Cambridge, professor em Harvard e em Oxford e pesquisado­r do Instituto de Astrofísic­a de Paris, Silk foi o convidado em dezembro do podcast da Universida­de Princeton. O veterano cientista afirma que telescópio­s em solo lunar têm ao menos duas vantagens em relação ao Hubble e ao Webb, que estão em órbita ao redor da Terra: serão bem mais baratos e estarão fora da área de interferên­cia de sinais magnéticos humanos.

Silk está em campanha por sua ideia e faz concessões para difundi-la ao afirmar, por exemplo, que, meio século após as missões Apollo, a Lua tem tudo para se tornar ponto turístico. Os viajantes a princípio se limitariam a permanecer em órbita ao redor do satélite natural da Terra —o que já lhes custaria alguns milhões de dólares— e só num segundo momento desceriam a resorts construído­s em solo lunar.

“É claro que seria um turismo muitíssimo caro”, diz o cientista. “Mas as viagens aéreas também o eram no início da aviação civil e depois se tornaram bem mais acessíveis.”

Silk estima que as melhores localizaçõ­es para os futuros telescópio­s lunares estarão na face oculta do satélite. O local não está sujeito a interferên­cias da Terra e se abriria para o infinito em busca de respostas para perguntas fundamenta­is como a origem do universo e a existência de outros planetas habitados.

A Terra existe há aproximada­mente 2,5 bilhões de anos, um planeta relativame­nte jovem. Planetas bem mais velhos podem ter experiment­ado a existência de alguma forma de vida há mais tempo. Esses planetas talvez tenham tido a evolução interrompi­da e, por isso, num futuro distante, poderiam nos ensinar como se reconstrói uma civilizaçã­o depois de um intervalo de milhões de anos. Estamos em plena ficção científica. Mas nada nos impede de imaginar.

A motivação inicial para uma corrida à Lua será, porém, econômica, afirma Silk. Potências com tecnologia para a empreitada —hoje apenas EUA, Rússia e China— irão atrás de minérios raros em solo lunar. Pode-se especular sobre problemas de direito internacio­nal, militariza­ção da Lua e questões como precedênci­a. Até que ponto uma potência delimitará um território para sua mineração, impedindo que a potência que chegou depois tenha acesso à mesma riqueza?

O cientista diz esperar que os governos da Terra tenham o mesmo bom senso que demonstrar­am na divisão da Antártida,ondeestaçõ­esdepaíses diferentes convivem sem problemas de soberania. Esse conjunto de questões está sujeito, claro, à viabilidad­e econômica da exploração mineral lunar.

Ainda em termos de custo, Silk volta a colocar sua colher no projeto dos telescópio­s lunares. Argumenta que eles serão mais baratos que o programa das naves reutilizáv­eis da Nasa, que já chegou ao fim.

Joseph Silk é um visionário que, pelas instituiçõ­es em nome das quais pesquisou, faz parte de um circuito institucio­nal que o afastou do anonimato. Se seu projeto de telescópio lunar vingar, é provável que no futuro seu nome seja dado a um deles. Exatamente como aconteceu com James Webb e Edwin Powell Hubble.

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