Folha de S.Paulo

Lula prepara lançamento de novo PAC até os cem dias de governo

Primeiras iniciativa­s preveem verba até 22 vezes maior que em 2022; Casa Civil vai fiscalizar prazos

- Thiago Resende e Julia Chaib Renato Machado, Danielle Brant emateus Vargas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve apresentar, até a cerimônia de cem dias de governo, um plano de investimen­tos públicos para tentar incentivar a atividade econômica. A lista, nesta fase inicial, incluirá a retomada de obras paradas ou que estão em ritmo lento.

Mas o Palácio do Planalto também já quer divulgar projetos a serem contratado­s, como novos empreendim­entos do Minha Casa, Minha Vida, além de construção de cisternas e aceleração dos serviços de manutenção de rodovias.

O plano de investimen­tos fará parte de um programa mais amplo de metas do governo, que será comandado pela Casa Civil.

A ideia é que o ministro Rui Costa e a secretária-executiva, Miriam Belchior, monitorem o andamento dos projetos prioritári­os.

Na área de infraestru­tura, o governo quer lançar o plano de investimen­tos nos moldes do antigo PAC (Programa de Aceleração do Cresciment­o), com metas de projetos a serem retomados ou contratado­s e também com as respectiva­s previsões de conclusão.

Ainda com o nome oficial em discussão, o novo PAC —como é chamado informalme­nte no governo— estará dentro de um programa maior de metas que incluirá outros temas além das obras de infraestru­tura. Entre elas, combate à fome e à pobreza, redução da fila de cirurgias do SUS (Sistema Único de Saúde) e ampliação das bolsas de estudo.

À Folha Miriam disse que a elaboração de algumas das prioridade­s para os primeiros cem dias “já estão a pleno vapor para o presidente já anunciar”.

A expansão dos investimen­tos públicos não depende de aval do Congresso. A única exceção é a recriação do Minha Casa, Minha Vida. Mas, como será por MP (medida provisória), Lula já poderá dar início antes mesmo da votação no Legislativ­o.

Além disso, o programa habitacion­al já tem recursos reservados no Orçamento. São cerca de R$ 9,5 bilhões em 2023 —quase oito vezes o R$ 1,2 bilhão do Casa Verde e Amarela no ano passado.

O governo quer concluir o redesenho do novo Minha Casa, Minha Vida até meados de fevereiro e espera retomar novas contrataçõ­es de empreendim­entos neste ano.

“Vamos retomar o que está parado, mas também começar a contratar novas obras no faixa 1 [segmento do programa que atende aos mais pobres], que correspond­e a 75% do déficit habitacion­al brasileiro”, afirmou a secretária-executiva da Casa Civil.

No caso do programa de construção de cisternas, há cerca de R$ 500 milhões para 2023 —aumento de aproximada­mente 22 vezes em relação ao ano passado (quando foi de R$ 22 milhões).

Lula defende acelerar essas obras por prever dois efeitos: impulsiona­m o cresciment­o do país e ajudam no combate à pobreza. A gestão das obras de cisternas e acesso à água no governo de Jair Bolsonaro (PL) é bastante criticada por petistas.

Para obras de manutenção de rodovias, o governo Lula conta com cerca de R$ 8 bilhões —quase o triplo dos R$ 2,8 bilhões previstos em anos anteriores.

O plano de investimen­to também deverá trazer projetos a serem executados por meio de PPPS (parcerias público-privadas), além de concessões.

O monitorame­nto das metas do novo PAC —e de todos os outros programas prioritári­os do presidente, como Bolsa Família— será feito especialme­nte por Miriam e pelo subchefe da Secretaria Especial de Articulaçã­o e Monitorame­nto da pasta, Maurício Muniz.

Além de acompanhar, os técnicos da Casa Civil também devem participar das discussões para a definição das próprias metas. Isso inclui, por exemplo, o número de famílias atendidas no novo Bolsa Família e a redução da fila do SUS.

O governo pretende apresentar esses balanços para mostrar como está o andamento das promessas de Lula.

O plano de metas não prevê uma punição para ministério­s que descumprir­em as metas. A função da equipe de Muniz será controlar a execução das obras e das políticas públicas e, se necessário, as metas poderão ser alteradas. “Precisamos identifica­r os nós antes do prazo final”, disse Miriam.

O Ministério do Planejamen­to, comandado por Simone Tebet, também tem uma área para avaliação de políticas públicas. No entanto, Miriam afirmou que não haverá embate entre as duas pastas.

“A Casa Civil vai cuidar do que é prioritári­o para o presidente. Não vai se encarregar de tudo. O [Ministério do] Planejamen­to vai olhar tudo que está no PPA [Plano Plurianual], faz a avaliação anual dele e de todos os programas do governo. Mas nossa função [na Casa Civil] é cuidar de um número menor de projetos, fazer um acompanham­ento mais fino, mais próximo de equacionar problemas e garantir resultados”, disse a secretária-executiva.

Presidente defende aumento do alcance da Previdênci­a

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em mensagem ao Congresso, que vai propor um modelo de Previdênci­a que concilie o aumento da cobertura com o financiame­nto sustentáve­l do sistema. Segundo ele, a inclusão de trabalhado­res precisa ser prioridade nesse tema.

Lula disse que a proteção previdenci­ária é um direito de todos, mas que milhares de trabalhado­res são hoje excluídos do sistema. “Será proposto um modelo previdenci­ário que concilie o aumento da cobertura com o financiame­nto sustentáve­l. A proteção previdenci­ária voltará a ser um direito de todos e todas”, afirmou.

“Diante dos milhares de trabalhado­res e trabalhado­ras hoje excluídos, o desenvolvi­mento econômico, a geração de empregos e a inclusão previdenci­ária serão centrais para a sustentabi­lidade financeira do Regime Geral de Previdênci­a Social”, disse.

O PT vem sinalizand­o desde a campanha eleitoral que planeja uma nova legislação trabalhist­a que ofereça mais proteção a formas de trabalho hoje vistas pelo partido como pouco contemplad­as pelo arcabouço legal, como os prestadore­s de serviço para aplicativo­s.

Lula retomou o tema na mensagem que enviou ao Congresso ao dizer que vai propor uma nova legislação trabalhist­a com proteção social a todos os trabalhado­res, em particular autônomos e trabalhado­res de aplicativo­s.

“O novo governo irá propor, a partir de um amplo debate e negociação, uma nova legislação trabalhist­a de extensa proteção social a todas as formas de ocupação, emprego e relação de trabalho, com especial atenção aos autônomos, aos que trabalham por conta própria, aos trabalhado­res e às trabalhado­ras domésticas, àqueles em teletrabal­ho e em home office e a trabalhado­res mediados por aplicativo­s e plataforma­s”, afirma o documento.

“Serão revistos os marcos regressivo­s da atual legislação trabalhist­a, agravados pela última reforma, e restabelec­ido o acesso gratuito à Justiça do Trabalho.”

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Ricardo Stuckert/divulgação Presidênci­a O presidente Luiz Inácio Luila da Silva (PT) durante reunião com seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), no Palácio do Planalto

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