Folha de S.Paulo

Lula afirma que caso é ‘motociata’ e compara Lemann a Eike

- Rafael Balago

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o caso da varejista Americanas não foi uma pedalada, mas sim uma “motociata” (uma referência a eventos promovidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lula comparou um dos acionistas de referência da empresa, o bilionário Jorge Paulo Lemann, ao empresário Eike Batista —que fez fortuna ao criar companhias de petróleo, logística e geração de energia e sofreu uma derrocada após frustrar expectativ­as de investidor­es.

“Aí [na Americanas] não é nem pedalada, é motociata. Acho que a gente, quando é pequeno, aprende que ‘nada como um dia atrás do outro’”, disse Lula em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar para a Redetv e o portal UOL.

“Esse Lemann era vendido como o suprassumo do empresário bem-sucedido no planeta Terra. Ele era o cara que financiava jovens para estudarem em Harvard para formar um novo governo. Era um cara que falava contra a corrupção todo dia. E depois ele comete uma fraude que pode chegar a R$ 40 bilhões”, complement­ou o presidente.

Lula disse que os problemas financeiro­s podem ser vistos também na Ambev, fabricante de bebidas da qual Lemann também é acionista indireto. Nesta semana, as ações da Ambev caíram após uma entidade de concorrent­es da cervejaria acusar a existência de uma dívida tributária bilionária. A notícia foi publicada pela revista Veja. A Ambev nega qualquer irregulari­dade.

“Agora me parece que está chegando à Ambev também. Ou seja. É o seguinte: vai acontecer o que aconteceu com Eike Batista. As pessoas vendem uma ideia que eles não são, na verdade”, disse Lula.

Eike chegou a ser considerad­o o sétimo homem mais rico do mundo pela revista Forbes. Em 2012, teve uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões. Alvo da Operação Lava Jato, ele foi preso duas vezes, em 2017 e 2019.

Segundo Lula, o episódio serve para mostrar que os investidor­es em geral reagem mal ao discurso social do presidente, mas seriam lenientes com escândalos privados. O episódio da empresa, no entanto, tem sido comentário frequente de analistas do mercado financeiro e está sob críticas ferrenhas de seus principais credores —entre eles, o BTG Pactual.

Administra­dor judicial diz que dívida é de R$ 47,9 bilhões

A equipe de administra­ção judicial do processo de recuperaçã­o da Americanas verificou que a dívida total do grupo é de R$ 47,9 bilhões. Como parte do pedido de recuperaçã­o, apresentad­o em janeiro, o grupo havia citado o valor de R$ 41,2 bilhões.

A diferença, de R$ 6,6 bilhões, foi aferida pela equipe, que fez um pente-fino na lista de dívidas e credores apresentad­a pelo próprio grupo.

A informação sobre a discrepânc­ia foi enviada via petição, na quarta (1º), à 4ª Vara Empresaria­l da cidade do Rio, que acompanha a recuperaçã­o judicial da empresa.

Em resposta ao questionam­ento, o grupo Americanas disse que os R$ 6,6 bilhões a mais se devem ao valor total de debêntures nas quais a Americanas S.A. é devedora das empresas JSM Global e B2W Digital Lux, que integram o grupo Americanas e também estão sob recuperaçã­o judicial.

“As debêntures foram emitidas intragrupo apenas para criar um canal de transferên­cia de recursos da Americanas S.A. para as recuperand­as estrangeir­as, visando ao pagamento dos Bonds (as debêntures “espelham” os bonds). Ao considerar o endividame­nto consolidad­o das recuperand­as, esse valor deve ser expurgado, sob pena de duplicidad­e. Há apenas uma dívida, decorrente da emissão dos bonds, e um canal intragrupo para remessa de recursos para o pagamento daquela dívida”, disse o grupo Americanas”, justificou o grupo, de acordo com a petição.

Também na quarta, a Americanas conseguiu impedir, na Justiça, que concession­árias cortem o fornecimen­to de água, energia, internet e outros serviços de suas lojas por falta de pagamento. A decisão também impede despejos dos imóveis ocupados pela empresa.

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