Folha de S.Paulo

Fã de Carnaval e de Nelson Rodrigues, militou pela cultura

WALMYR PEIXOTO (1952 - 2023)

- Lucas Lacerda coluna.obituario@grupofolha.com.br THOMAS WALTER WOLFF Aos 71, casado. Quinta (2/2). Cemitério Israelita Butantã, Jardim Educandári­o, São Paulo (SP)

Democrata, militante, compositor de sambas e pai dedicado, Walmyr Peixoto foi muitas coisas. Acima de tudo, tricolor de coração. O nome do time acompanhou o jornalista nos mais de 30 anos como repórter e editor no jornal O Fluminense, de Niterói (RJ), e também na presidênci­a do “Fluminensi­nho”,

apelido dado ao Fluminense Atlético Clube.

“Ele ensinava as pessoas a alçarem voos. Como pai, resumiria em duas palavras: diálogo e cultura”, diz a filha Fernanda Peixoto, 41.

A cultura chegava até as reprimenda­s. “Quando meu pai colocava a gente de castigo, era para fazer cópia de livro, era uma coisa muito forte para ele”, afirma.

Não por acaso, um de seus feitos foi se juntar com amigos para instalar o calçadão da cultura, espaço de mobilizaçã­o artística, literária e carnavales­ca. Foi ali que surgiu o bloco Filhos da Pauta, do qual Walmyr foi letrista.

“Ele era muito bom. Pegava um samba-enredo já conhecido e fazia as paródias, sempre em cima das tristes realidades da vida de jornalista, com crítica ao patrão”, lembra o amigo Webber Lopes, 61. Ele conta que Walmyr se tornou fã de Nelson Rodrigues, dedicando-se a escrever peças de teatro, além de livros e poemas.

O trabalho de jornalista na ditadura rendeu alguns sustos. Nos anos 1970, então repórter do jornal Última Hora, ele chegou atrasado a um jogo da seleção brasileira no estádio do Maracanã.

Para recuperar o tempo perdido, agachou-se durante a execução do hino para anotar a escalação dos times, quando foi visto por um dos figurões que estavam numa área acima, na tribuna de honra.

“Um dos generais viu e mandou dar voz de prisão porque era um indivíduo desrespeit­ando o hino. Ele não viu o jogo e não conseguiu trabalhar”, lembra Webber. Detido, seria liberado horas depois pela equipe jurídica do jornal.

Anos mais tarde, foi o responsáve­l por fazer a edição especial de O Fluminense para o dia seguinte à conquista do tetracampe­onato do Brasil na Copa do Mundo. “O jornal não circulava às segundas, e tive a chance de participar dessa edição com a Copa que o Brasil conquistou depois de 24 anos sem ganhar”, diz Eduardo Lamas, 56.

Walmyr Peixoto deixou duas filhas, um neto e uma coleção de poemas, letras de música e peças de teatro. Morreu no Rio, em 13 de janeiro, aos 70 anos, em decorrênci­a de problemas cardíacos.

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