Folha de S.Paulo

Câncer de pulmão com metástase no cérebro é comum

De acordo com estimativa­s do INCA, 32.560 novos casos da doença são esperados para o triênio 2023 a 2025

- Ana Bottallo

Nesta quinta-feira (2), a jornalista Glória Maria morreu três anos após o diagnóstic­o de um câncer no pulmão que evoluiu para metástases cerebrais.

Os tumores sólidos, como câncer de pulmão e de mama, estão associados com uma alta incidência de metástases no cérebro nos estágios mais avançados da doença.

Segundo o oncologist­a do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax do Hospital A.C. Camargo, Helano Freitas, é importante ter em mente que pacientes diagnostic­ados com um desses tipos de câncer podem —e devem— ser examinados para metástases cerebrais em todas as fases da doença.

“Todo mundo que foi diagnostic­ado com alguns tipos de câncer, e câncer de pulmão é um deles, precisa investigar metástase cerebral. E o quanto antes for feito esse diagnóstic­o melhor em termos de tratamento”, explica.

O câncer de pulmão, de acordo com Freitas, é dividido em três tipos principais: os tumores de pequenas células, que são mais agressivos e correspond­em por cerca de 13% dos casos; os tumores não pequenas células (non-small cell lung cancer, em inglês), menos agressivos; e, dentro deles, o mais comum é do tipo adenocarci­noma, que pode ter uma incidência de até 40% no desenvolvi­mento de metástases cerebrais. O outro tipo de câncer de pulmão não pequenas células é o carcinoma de células escamosas.

Metástases são focos de células tumorais que podem se espalhar pelo corpo, a partir do ponto de origem (no caso, do tumor inicial) e continuam a replicação, provocando novos focos da doença em outros órgãos. As metástases em pacientes com câncer de pulmão ocorrem com mais frequência no cérebro, no fígado, nas glândulas adrenais (antigament­e chamadas suprarrena­is) ou nos ossos.

De acordo com o oncologist­a clínico do INCA (Instituto Nacional do Câncer), Luiz Henrique Araújo, o câncer de pulmão é um dos que têm maior incidência de metástases cerebrais, podendo atingir até metade dos pacientes, e cerca de 10% dos novos casos que são diagnostic­ados já apresentam o estágio metastátic­o no cérebro.

As causas, segundo o médico, são da biologia e do tipo do tumor, e não têm ligação a fatores de risco, como idade, sexo e comorbidad­es. Quanto mais tempo desde o aparecimen­to do câncer, porém, maior o risco de focos metastátic­os, explica.

“Quando descobrimo­s câncer de pulmão em estágio muito inicial, com tumores ainda muito localizado­s nos pulmões, a chance de cura é de até 90%, mas à medida que ele se torna mais avançado e metastátic­o, o próprio tratamento torna-se mais complexo.”

De acordo com estimativa­s do INCA, para o triênio 2023 a 2025 são esperados 32.560 novos casos de câncer de pulmão, sendo 18.020 em homens e 14.540 em mulheres. O câncer de pulmão é o primeiro em mortes por câncer tanto em homens quanto em mulheres (nas mulheres, empata com o de mama), com uma taxa de mortalidad­e de cerca de 11,7%. As incidência­s de metástases cerebrais, porém, não são descritas pois variam de acordo com o subtipo do câncer de pulmão, afirma Araújo.

Existem ainda diferenças moleculare­s devido à mutação sofrida em determinad­os genes que levam a subtipos de adenocarci­noma. “Conhecendo o subtipo, é possível fazer um tratamento mais direcionad­o, especializ­ado, com terapias-alvo. Mas, invariavel­mente, pacientes com câncer de pulmão com metástase cerebral devem passar por tratamento radioteráp­ico”, ressalta Freitas, do A.C. Camargo.

Tradiciona­lmente, as metástases cerebrais são tratadas com radioterap­ia de crânio total, mas essa técnica, por aplicar o tratamento radioteráp­ico em todo o cérebro, precisa utilizar doses muito mais baixas para não causar danos ao tecido cerebral.

Nos últimos 15 anos, porém, tem progredido um tipo de radioterap­ia de alta precisão chamada radioterap­ia estereotát­ica (ou estereotáx­ica) fracionada craniana. Esse procedimen­to utiliza uma alta dose de radioterap­ia localizada, podendo tratar o foco de metástase sem danos ao restante do cérebro.

Uma outra alternativ­a é o tratamento com cirurgia, quando se tem um conhecimen­to detalhado das células tumorais, mas mesmo a cirurgia não é garantia de cura.

“Todo mundo que foi diagnostic­ado com alguns tipos de câncer, e câncer de pulmão é um deles, precisa investigar metástase cerebral

Helano Freitas

oncologist­a

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Aline Massuca - 26.out.11/valor A jornalista Glória Maria morreu nesta quinta-feira

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