Cem anos de maldição para quem tentar desvendar a idade dela, diz Zeca Camargo

Virou um folclore. A aura misteriosa que envolvia a idade da jornalista Glória Maria, morta nesta quinta-feira, vítima de um câncer, se tornou um enigma, guardado a sete chaves pela própria apresentadora. A imprensa atribuía 73 anos àaglória, mas ela não confirmava nem desmentia o número.

Em dezembro de 2021, numa entrevista a Mano Brown, no podcast “Mano a Mano”, Glória disse que gostava de driblar a curiosidade das pessoas. Quanto mais curiosos todos ficavam, mais Glória se divertia com a brincadeira. “Não tem dados para provar, e eu invento. Ninguém vai conseguir bater ‘lé’ com ‘cré’ porque eu confundi tanto que ninguém vai conseguir fazer a conta. E não é para esconder. É questão de cultura familiar”, ela afirmou.

No rastro da charada, o jornalista Alvaro Leme publicou, em 2014, no Instagram, que a data de nascimento da apresentadora poderia ser 15 de agosto de 1949. Ela de fato teria 73 anos. Leme compartilhou a foto da tela de um computador que mostrava dados de Glória. A origem deles, segundo a pista enviada ao jornalista, é a renovação do plano de saúde da Globo feito naquele ano. “Divulgar minha idade não faz parte dos meus interesses”, Glória respondeu a Leme, na ocasião.

Três anos atrás, no programa Que História É Essa, Porchat?, do GNT, a jornalista brincou com o mistério e disse que não queria datas nem uma frase final em sua lápide. “Na minha lápide, não vai ter do ano tal ao ano tal. Isso aí, fora. Nasceu tanto e morreu tanto? Nem pensar! Só colocaria assim ‘a mulher que morreu sem idade’”, disse Glória.

Na manhã desta quinta, anunciada a morte da apresentadora —e quantos anos tinha—, as redes sociais caíram em mais uma polêmica. Havia quem ficasse ainda mais curioso para desvendar o enigma, mas muitos não gostaram da especulação sobre a idade da jornalista. Seria, então, ferir a aura do mistério ou se apegar a um detalhe que, em vida, Glória poderia considerar deselegante.

Em artigo neste jornal, o jornalista Zeca Camargo, que ao lado de Glória apresentou o Fantástico, da TV Globo, enumerou anedotas sobre o tema.

Quando fez 45 anos e decidiu dar uma festa para toda a equipe do dominical, Camargo foi chamado sorrateiramente num canto dos estúdios. Glória diria a ele parar de contar a idade a cada aniversário. O apresentador disse que não ligava para o assunto e ouviu como resposta um exclamativo “mas eu ligo!”. “As pessoas fazem contas, se você fica mais velho, eu fico também!”, ela teria dito ao colega. Os parceiros de longa data caíram na gargalhada.

Aos primeiros cabelos brancos de Camargo, Glória também resolveu se pronunciar sobre o tema, em certo domingo à noite. “Eu nunca vou ter cabelos brancos! Na minha família ninguém tem, só mamãe que agora começou a ter um ou outro fio branco. E mamãe está com o quê? Sessenta e dois, 63 anos”, disse.

Atrás das câmeras, a equipe do Fantástico ficou incrédula. “Como assim? Sua mãe teve você com três anos de idade?”, perguntaram os câmeras. Glória começou a rir, dizendo que ninguém da equipe sabia fazer conta.

A grande piada, que ela própria promovia, também fazia parte da elegância que nutriu durante toda a vida. Cidadã do mundo, Glória era uma habituée de Saint-tropez, na Riviera Francesa, uma das mais glamorosas das glamorosas cidades da região. Certa vez, disse que, em Saint-tropez, encontrava paz.

Sempre chique,a jornalista inspirou o guarda-roupa de muitas mulheres, todas as vezes que aparecia no Fantástico ou, mais recentemente, no Globo Repórter. Além de tudo, se preocupava com a aparência mesmo, fazendo questão de manter a jovialidade até o fim da vida. Na visão de Camargo, Glória sabia perfeitamente a importância de construir uma imagem e, para tanto, zelava para que tudo estivesse impecável no ar.

Diante da grandeza da personagem, Camargo argumenta que, no fim das contas, seria um tanto irrelevante —além de um desserviço— informar a idade de sua amiga. “Cem anos de maldição ao jornalista que, em qualquer obituário, tentar cravar a idade que Glória Maria tinha ao morrer”, afirmou o colega de profissão.