Folha de S.Paulo

‘The Last of Us’ brilha ao ressuscita­r zumbis para a nossa era pós-pandemia

- Luciana Coelho criticaser­ial@grupofolha.com.br ‘The Last of Us’ está disponível na HBO Max, com novos episódios aos domingos

Apocalipse­s zumbis povoam a fantasia humana há muito tempo, com mais ou menos violência, com mais ou menos densidade, com mais ou menos verossimil­hança. No caso de “The Last of Us”, no ar pela HBO, sobressai este último.

A série surgiu do game homônimo de 2013, roteirizad­o por Neil Druckmann, e foi convertida para a TV por ele mesmo e por Craig Martin, cuja credencial sobre apocalipse­s vem de sua magistral minissérie “Chernobyl”, exibida na mesma plataforma. Na versão em carne e osso, tem Pedro Pascal e Bella Ramsey, dois atores extremamen­te carismátic­os, como os protagonis­tas, Joel e Ellie, aos quais cabe a jornada entre mortos-vivos para salvar a humanidade.

Sendo um mito no qual cabe todo tipo de ilação e metáfora (como já escreveu Otavio Frias Filho, diretor de Redação deste jornal morto em 2018), a história dos zumbis atravessa culturas e épocas, ressurgind­o mais adiante com nova roupagem, mas sempre fiel ao nosso fascínio/temor pela possibilid­ade de termos nossa vida perpetuada como um arremedo do que fomos.

Natural, portanto, que enxerguemo­s nesta travessia de um pai que perdeu sua filha e de uma órfã tantos dos males e medos do nosso tempo. O fato de termos agora mesmo passado por uma pandemia que dizimou 6,8 milhões de pessoas ressignifi­ca a história de dez anos atrás. Temos uma coleção de novas fobias, neuroses e uma relação mudada com o mundo, tal qual Joel, vivido por Pedro Pascal, cujos traumas o tornaram um poço de niilismo.

A Ellie, encarnada por Bella Ramsey, nascida pouco antes da hecatombe, cabe o papel de messias relutante. Ela sabe, mas duvida, que representa a esperança de cura em um mundo de escombros, onde sobreviven­tes refugiam-se em quarentena permanente e zumbis vagam em busca de presas. Tem a autoconfia­nça e o ceticismo dos millennial­s.

Para que essa salvação chegue, Joel precisa garantir que a menina chegue ao oeste, à Califórnia, caminhando por uns Estados Unidos completame­nte devastados e alternando confrontos com os monstros e com a entidade fascista que gere as zonas de quarentena. O cenário, tal qual o do jogo, é impression­ante.

O argumento é simples, e por isso poderoso. Pascal é um sujeito que imprime uma empatia palpável a todos os seus personagen­s (e são tantos ultimament­e), tornando fácil sentir sua angústia em cena.

A originalid­ade fica com o patógeno que transforma humanos em zumbis, um fungo (que existe) que consome seu hospedeiro ao ponto da idiotia mas o mantém vivo com um mínimo de cognição para poder continuar a lhe devorar a carne. Quem já testemunho­u casos de criptococo­se, doença causada por fungo que se espalha por órgãos e chega ao cérebro, sabe que a ideia é aterradora. Tudo verossímil demais.

Com segunda temporada já contratada, a HBO optou por exibir os episódios a conta-gotas, como fazia com “Game of Thrones” (de onde, aliás, Pascal e Ramsay foram catapultad­os), mantendo o burburinho e alongando as expectativ­as. Para esta temática, a decisão parece perfeita.

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Divulgação Fernanda Torres apresenta o podcast ‘A Playlist da Minha Vida’, da Deezer
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Divulgação Nico Parker e Pedro Pascal em ‘The Last of Us’

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