Folha de S.Paulo

Liberação de R$ 1 bilhão priorizou centrão e aliados

- Thiago Resende e Lucas Marchesini

O governo Lula (PT) liberou cerca de R$ 1,1 bilhão em emendas parlamenta­res na terça-feira (23), mesmo dia em que a Câmara dos Deputados votou o texto-base do novo arcabouço fiscal.

Os recursos priorizara­m deputados aliados do governo e do centrão, grupo de partidos liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Foram liberados R$ 800 milhões para deputados e R$ 288 milhões para senadores.

O plano de liberar mais um lote de emendas de R$ 1 bilhão, em meio às discussões sobre o projeto do novo arcabouço fiscal no Congresso Nacional, foi antecipado pela Folha na semana passada.

O pacote reúne emendas individuai­s —aquelas a que todos os deputados e senadores têm direito— previstas no Orçamento deste ano. Os partidos que mais receberam foram PT, PSD, MDB, União Brasil, PP e Republican­os.

Os recursos foram liberados pelo Ministério da Saúde e estão previstos essencialm­ente para atendiment­o primário e assistênci­a hospitalar.

Os repasses pela Saúde são mais rápidos por serem feitos diretament­e aos municípios.

A Câmara aprovou o texto-base do novo arcabouço fiscal por 372 votos a 108.

O placar teve ampla folga em relação ao mínimo de 257 votos que o governo precisava reunir para a aprovação de um projeto de lei complement­ar.

Na articulaçã­o política, o governo tem sido cobrado a destravar as emendas diante de percalços políticos no Congresso, como a votação no início do mês na Câmara para derrubar decretos que alteram regras do Marco do Saneamento.

Olival Marques (MDB-PA), Marreca Filho (Patriota-ma), Juarez Costa (MDB-MT) e Otto Alencar Filho (PSD-BA) estão na lista de deputados que mais receberam emendas no lote liberado na terça. Os repasses autorizado­s em nome deles variaram entre R$ 12,4 milhões e R$ 16 milhões.

O ex-deputado federal Paulinho da Força (SP), vice-presidente do Solidaried­ade, recebeu cerca de R$ 14 milhões. Sua emenda foi apresentad­a no ano passado –quando ele ainda era parlamenta­r. Toda a bancada do Solidaried­ade votou a favor do arcabouço.

A distribuiç­ão das emendas na Câmara tem privilegia­do aliados do governo e deputados próximos a Lira.

Consideran­do os recursos liberados desde o início do ano, os deputados Aluisio Mendes (Republican­os-ma) e o líder do mesmo partido na Câmara, Hugo Motta (PB), figuram na lista de mais contemplad­os.

Procurados, eles não respondera­m se votaram a favor do arcabouço fiscal por causa da liberação de verba.

De janeiro até agora, o governo liberou R$ 2,5 bilhões em emendas individuai­s. Apesar de serem obrigatóri­as, o Palácio do Planalto consegue ter uma margem de manobra para adiar os repasses para integrante­s da oposição.

Já aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como os deputados Capitão Augusto (PL-SP) e Bibo Nunes (PL-RS), estão entre aqueles que menos receberam emendas — R$ 200 mil e R$ 332 mil, respectiva­mente.

O Orçamento de 2023 reserva um total de R$ 21,2 bilhões para indicações de emendas individuai­s, feitas por deputados e senadores.

Cada deputado indicou cerca de R$ 32 milhões em emendas individuai­s para o Orçamento de 2023. A cota dos senadores é de R$ 59 milhões.

Parte do Congresso e dos integrante­s do governo considera que ainda é insuficien­te o esforço para a liberação das emendas.

Integrante­s do governo dizem que é normal começar a distribuir a partir de maio verbas de emendas. Isso porque existem prazos para apresentaç­ão e análises de propostas.

Em geral, são liberadas mais cedo as transferên­cias de recursos do governo federal para fundos estaduais e municipais de saúde. Outros empenhos costumam levar mais tempo, como para a compra de tratores ou pavimentaç­ão de vias, que podem exigir licitações e medição.

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Pablo Valadares/divulgação O presidente Arthur Lira preside a sessão da quarta-feira (24) na Câmara

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