PF usou brecha na nuvem e truque de Whatsapp para acessar celular de Cid
Informações são usadas nas investigações que miram Jair Bolsonaro, sua família e ex-assessores
A Polícia Federal levou meses até conseguir acessar todos os dados armazenados pelo tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), utilizados nas investigações que miram o ex-presidente, Michelle Bolsonaro e outros assessores presidenciais.
No inquérito sobre o vazamento da investigação do ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), embora a quebra de sigilo telemático de Cid tenha sido efetuada ainda em 2021, entre agosto e setembro, somente em junho do ano seguinte a PF produziu o primeiro relatório com as informações que hoje têm sido utilizadas em ao menos três frentes de apurações.
As mensagens encontradas na nuvem do Google Drive e do icloud de Cid embasam hoje as investigações sobre o suposto desvio de dinheiro da Presidência, as investidas golpistas de Bolsonaro (7 de setembro de 2021 e 8 de janeiro de 2023) e a fraude na inserção de dados no sistema de vacinação do Ministério da Saúde.
A Folha apurou que o acesso aos dados só foi possível após o caso sair da superintendência da PF no Distrito Federal e migrar para a DIP (Diretoria de Inteligência Policial), localizada no prédio-sede da corporação, em Brasília.
A mudança de local ocorreu após a delegada Denisse Ribeiro, então responsável por todos os inquéritos relatados por Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), entrar em licença maternidade, em fevereiro de 2022.
O caso então passou a ser conduzido pelo delegado Fabio Shor, que fazia parte da equipe de Denisse e foi indicado por ela ao ministro do STF. É ele quem atua na investigação até hoje. O delegado pediu a prisão de Cid e a busca contra Bolsonaro, cumpridas no último dia 3 de maio.
Antes da ida para a DIP, os policiais do Setec (Setor Técnico-cientifico) da PF no DF haviam conseguido acessar uma pequena parte do conteúdo, que gerou apenas um relatório de análise citado na conclusão do inquérito sobre o vazamento por Cid e Bolsonaro da investigação do ataque hacker ao sistema do TSE.
Na DIP, durante a direção-geral de Márcio Nunes na PF, peritos e técnicos se debruçaram sobre os arquivos e conseguiram encontrar um método para encontrar os dados armazenados nas nuvens.
Com o método e a determinação de Moraes em 2 de maio de 2022 para que fosse produzido um relatório minucioso sobre os arquivos de Cid, dezenas de informes devassaram o dia a dia da Presidência.
No primeiro relatório após o acesso, datado de junho de 2022, a PF explica como os dados estavam armazenados.
“O material da empresa Apple foi submetido a uma nova forma de processamento e organização dos dados. Isso resultou em uma categorização mais otimizada das informações e, consequentemente, uma maior facilidade para análise do material no contexto da investigação”, diz a PF.
Nas pastas relacionadas ao Whatsapp encontradas em nuvem, por exemplo, não apareceram os números de todos os participantes, apenas o número de identificação daquele grupo seguido pelo número de telefone de quem, provavelmente, o criou.
Ao enviar o relatório a Moraes, o delegado Fabio Shor sugeriu que os dados encontrados com Cid fossem analisados com os coletados pelo inquérito das milícias digitais.