Folha de S.Paulo

Polícia consegue recuperar mensagem apagada de aplicativo

- José Marques

A possibilid­ade de extração de mensagens apagadas de aplicativo­s como o Whatsapp em celulares apreendido­s ainda é um desafio para investigad­ores da polícia, que apontam restrições para acessar os dados que vão desde as configuraç­ões até o modelo do aparelho.

Além disso, os aplicativo­s têm implantado mudanças nos últimos anos que deixam as conversas mais seguras, como aquelas mensagens que são apagadas automatica­mente.

Os meios que têm sido utilizados pela Polícia Federal atualmente dependem de o

usuário do telefone ter, por exemplo, um backup automático. Essa forma, segundo investigad­ores, deixa rastros tanto em nuvem quanto no aparelho.

“Quem quer fazer coisa errada, se previne disso e tira o backup automático”, diz o presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais), Willy Hauffe.

Segundo ele, é possível ter acesso ao backup do Whatsapp, por exemplo, por meio do próprio Meta (dona do Facebook, Whatsapp e Instagram). “A gente oficia a Meta, e a Meta afirma ‘tem um backup aqui e nós mandamos’”, explica.

Um exemplo recente de acesso a dados da nuvem é o das investigaç­ões sobre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Uma quebra de sigilo ordenada ainda em 2021 permitiu à PF acessar a nuvem em que eram armazenada­s todas as conversas do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.

A partir do acesso às conversas de Cid, a PF teve ao menos outras cinco autorizaçõ­es de Moraes para quebra de sigilos bancário, telemático e fiscal de 13 pessoas e de uma empresa —incluindo três assessores de Bolsonaro e duas assessoras da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Outra forma que tem sido utilizada para recuperar informaçõe­s é tentar extraí-las do próprio aparelho, mas isso também depende do tipo de smartphone e das configuraç­ões que o usuário faz no Whatsapp.

Um exemplo é se houver o download automático de documento na máquina. “O download automático salva fisicament­e [arquivos] no drive do celular e, mesmo apagado, é possível recuperar isso. Como se fosse o computador. O dado apagado, enquanto não for sobrescrit­o, vai estar lá”, afirma Hauffe.

É mais difícil conseguir acesso a esses dados em aparelhos mais seguros, sobretudo os equipament­os da Apple, como iphones.

Em geral, os peritos têm mais facilidade de conseguir acesso a smartphone­s que usam o sistema operaciona­l Android. Isso, no entanto, também depende da configuraç­ão do aparelho e do modelo que é utilizado.

Computador­es que utilizam a versão web tanto do Whatsapp como do Telegram também facilitam a recuperaçã­o de mensagens. É possível buscar informaçõe­s dos aplicativo­s que são salvas no computador.

Por meio da versão web do Telegram foi possível hackear, em 2019, as mensagens trocadas por integrante­s da Operação Lava Jato que foram repassadas, inicialmen­te, para o site The Intercept Brasil e mais tarde apreendida­s pela Operação Spoofing, da Polícia Federal.

Para recuperar dados físicos dos celulares, os órgãos de polícia normalment­e utilizam ferramenta­s como o Cellebrite, que é israelense e já ajudou a recuperar imagens apagadas de aparelhos que basearam investigaç­ões de casos importante­s.

Uma dessas investigaç­ões é a do menino Henry Borel, morto em março de 2021 no Rio de Janeiro.

O ex-vereador carioca Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, e sua ex-companheir­a Monique Medeiros irão a júri popular pela morte de Henry, que tinha quatro anos. Os dois são acusados de homicídio triplament­e qualificad­o.

Mensagens obtidas pela polícia descrevera­m agressões reiteradas às quais o menino era submetido pelo padrasto, Jairinho, cerca de um mês antes de sua morte.

Elas também indicaram que a mãe do menino, a professora Monique Medeiros, sabia dos espancamen­tos e não avisou à polícia. A conversa foi encontrada em “prints” no celular de Monique.

Quem quer fazer coisa errada, se previne disso e tira o backup automático. O download automático salva fisicament­e [arquivos de Whatsapp] no drive do celular e, mesmo apagado, é possível recuperar isso

Willuy Hauffe presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, sobre a tecnologia de recuperaçã­o de mensagens trocadas em aplicativo­s como Whatsapp e Telegram

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