Folha de S.Paulo

Appio mudou decisões da Lava Jato e disse que Hardt é parcial

Juiz federal manteve tom crítico a Moro e a magistrada, autoridade­s que já haviam passado pelo cargo

- Catarina Scortecci

Agora juiz federal afastado da Operação Lava Jato em Curitiba, Eduardo Appio manteve desde fevereiro o tom crítico contra autoridade­s que já tinham passado pela mesma cadeira, como Sergio Moro (hoje senador) e Gabriela Hardt, juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba que reassumiu os casos.

Nos quase quatro meses em que cuidou dos casos, fez várias críticas à atuação da dupla em seus despachos e, em uma decisão, apontou “parcialida­de” de Hardt para justificar o desbloquei­o de bens e valores ao empresário Márcio Pinto de Magalhães em um processo derivado da Lava Jato.

Em 26 de março, Appio disse que a defesa do acusado pedia novamente a revogação das medidas restritiva­s sob o argumento de que Hardt já teria demonstrad­o “animosidad­e para com os acusados nos processos, bem como suposta associação com membros do Ministério Público Federal que atuavam neste processo”.

Acrescento­u que os diálogos juntados ao processo – obtidos na Operação Spoofing, que apura hackeament­o de mensagens trocadas entre autoridade­s da Lava Jato no Telegram– eram suficiente­s para identifica­r que a defesa tinha razão no seu pedido.

Em despacho, disse que a imparciali­dade do juízo da causa é “a pedra angular das garantias fundamenta­is dos cidadãos previstas na Constituiç­ão de 1988” e que, sem isso, “todos os cidadãos poderiam estar sob o jugo de um Estado policiales­co”.

“Este tipo de modelo não foi aceito nem mesmo em períodos sombrios de nossa recente história, como na Alemanha nazista ou na União Soviética stalinista”, continuou ele.

Recentemen­te, divulgou vídeo de apoio a um blogueiro de Curitiba que alegava que o site corria risco de cair se tivesse que pagar a indenizaçã­o ganha judicialme­nte por Hardt.

Ele disse ser leitor do blog, e que o site é “de fundamenta­l importânci­a para a consolidaç­ão da democracia do país”.

Nesta quarta (24), a Folha pediu entrevista com a juíza, mas a assessoria informou que não falaria. Appio foi afastado temporaria­mente do seu trabalho na Justiça Federal, por ordem da corte especial administra­tiva do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e, desde então, não tem dado entrevista.

Appio tem 15 dias para explicar seu suposto telefonema em abril para o filho do ex-relator da Lava Jato em segunda instância, Marcelo Malucelli. No telefonema, teria fingido ser outra pessoa, aparenteme­nte tentando comprovar o vínculo de parentesco.

A ligação foi encerrada abruptamen­te após o interlocut­or perguntar ao filho de Malucelli se ele “tem aprontado”, em tom que pode ser interpreta­do como ameaça, segundo membros do TRF-4.

Entre 8 de fevereiro e 22 de maio, Appio assinou decisões polêmicas. Mandou prender duas vezes o doleiro Alberto Youssef, revogou a delação da doleira Nelma Kodama e desbloqueo­u R$ 35 milhões em bens ligados ao ex-ministro Antônio Palocci — todos os despachos foram derrubados pela segunda instância.

Também derrubou o mandado de prisão em aberto contra o advogado e réu Rodrigo Tacla Duran, transforma­do em testemunha protegida pelo juiz.

Emmarço, foial vo de pedido de suspeição feito pela procurador­a Carolina Bonfadini de Sá. Ela disse que a postura do juiz na internet, alinhada a políticos do PT, compromete­ria sua atuação nos julgamento­s.

Appio rejeitou o pedido de suspeição no sábado (20), mesma data em que assinou sua primeira sentença da Lava Jato, absolvendo o réu Raul Schmidt.

 ?? Estelita Hass Carazzai - 13.mar.19/folhapress ?? Gabriela Hardt, juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba
Estelita Hass Carazzai - 13.mar.19/folhapress Gabriela Hardt, juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil