Folha de S.Paulo

Sem ‘fornecimen­to russo’, Alemanha entra em recessão

- Nelson de Sá nelson.sa@grupofolha.com.br

Na sequência de chamadas do tabloide alemão Bild, reproduzid­as a seguir, “Números chocantes na economia”, “Alemanha está em recessão” e “Não há nenhuma melhoria rápida e forte à vista”.

Na revista Der Spiegel, não muito diferente, “Alemanha enfrenta um ano para esquecer” e “Em nenhum outro lugar da União Europeia a economia está tão ruim”.

A explicação por toda parte, a começar do telejornal Tagesschau, da rede ARD, foi dada pelo Commerzban­k, o segundo maior banco alemão: “O aumento maciço nos custos da energia cobrou seu preço”.

O Süddeustch­e Zeitung, de centro-esquerda, explicitou que é efeito do “aumento dos preços da energia causado pela Guerra da Ucrânia, que há muito deprimem a economia”. O Die Welt, de centro-direita, que foi “a proibição do fornecimen­to de gás russo”.

Também no exterior, do financeiro francês Les Échos ao americano The Wall Street Journal, a explicação foi para os custos de energia. O primeiro até fez trocadilho no título, “Uma entrada na recessão que tem o efeito de um banho frio”.

Na Bloomberg TV, “embora a Alemanha tenha sobrevivid­o ao inverno sem apagões, não escapou da recessão”, carregando “as cicatrizes da crise de energia”.

As sanções à Rússia não são o único problema. Tanto Süddeutsch­e como Welt reclamam que as “perspectiv­as são sombrias”, de “recessão pronunciad­a” avançando pelo segundo semestre, também porque “os encargos da política monetária estão crescendo” —e seria importante o Banco Central Europeu se conter.

Não adianta ter esperança com os juros, rebate a Bloomberg, “o BCE já sinalizou que vai continuar aumentando”.

BRASÍLIA & PEQUIM, NÃO BERLIM

A coalizão de sociais-democratas, verdes e liberais no governo alemão segue em crise, agravada pelos dados econômicos. E o Welt destaca que o projeto de “exportar a transição energética da Alemanha”, que pouco avança, está ficando pelo caminho no Brasil. “O próprio Brasil é pioneiro em energia verde e já procurou outro país como parceiro”, sem esperar mais por Berlim, avisa o jornal. “Brasília e Pequim estão assinando os contratos.” Um dos focos do acordo seria a produção de hidrogênio de fontes renováveis.

FINANCIAL TIMES CONTA O QUE VÊ NA ‘CRACKLAND’

Em mídia social, o correspond­ente do Financial Times na cidade, Michael Pooler, escreveu em tom pessoal: “Eu amo morar em São Paulo. No entanto, desde que me mudei para cá há dois anos e meio, parece que a decadência de seu centro só piorou”. No texto, ele ouve comerciant­es, a prefeitura se defendendo, mas não escapa do relato mais direto: “Assim como as fachadas desbotadas de sua imponente arquitetur­a do século 20, o centro de São Paulo é um lugar de declínio. Embaixo de palmeiras e em frente a igrejas, os onipresent­es cobertores grosseiros entregues aos sem-teto são um lembrete constante da miséria urbana... A miséria não é incomum neste país desigual. Mas os níveis em São Paulo, uma cidade de 12 milhões de habitantes, pioraram visivelmen­te desde que cheguei no final de 2020. Quando mudamos de apartament­o há um ano, havia algumas barracas debaixo do viaduto do outro lado. Agora elas são uma dúzia.” Os relatos sobre a Cracolândi­a são intermiten­tes há décadas na cobertura internacio­nal, por exemplo, no Washington Post e no Frankfurte­r Allgemeine Zeitung.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil