Sem ‘fornecimento russo’, Alemanha entra em recessão
Na sequência de chamadas do tabloide alemão Bild, reproduzidas a seguir, “Números chocantes na economia”, “Alemanha está em recessão” e “Não há nenhuma melhoria rápida e forte à vista”.
Na revista Der Spiegel, não muito diferente, “Alemanha enfrenta um ano para esquecer” e “Em nenhum outro lugar da União Europeia a economia está tão ruim”.
A explicação por toda parte, a começar do telejornal Tagesschau, da rede ARD, foi dada pelo Commerzbank, o segundo maior banco alemão: “O aumento maciço nos custos da energia cobrou seu preço”.
O Süddeustche Zeitung, de centro-esquerda, explicitou que é efeito do “aumento dos preços da energia causado pela Guerra da Ucrânia, que há muito deprimem a economia”. O Die Welt, de centro-direita, que foi “a proibição do fornecimento de gás russo”.
Também no exterior, do financeiro francês Les Échos ao americano The Wall Street Journal, a explicação foi para os custos de energia. O primeiro até fez trocadilho no título, “Uma entrada na recessão que tem o efeito de um banho frio”.
Na Bloomberg TV, “embora a Alemanha tenha sobrevivido ao inverno sem apagões, não escapou da recessão”, carregando “as cicatrizes da crise de energia”.
As sanções à Rússia não são o único problema. Tanto Süddeutsche como Welt reclamam que as “perspectivas são sombrias”, de “recessão pronunciada” avançando pelo segundo semestre, também porque “os encargos da política monetária estão crescendo” —e seria importante o Banco Central Europeu se conter.
Não adianta ter esperança com os juros, rebate a Bloomberg, “o BCE já sinalizou que vai continuar aumentando”.
BRASÍLIA & PEQUIM, NÃO BERLIM
A coalizão de sociais-democratas, verdes e liberais no governo alemão segue em crise, agravada pelos dados econômicos. E o Welt destaca que o projeto de “exportar a transição energética da Alemanha”, que pouco avança, está ficando pelo caminho no Brasil. “O próprio Brasil é pioneiro em energia verde e já procurou outro país como parceiro”, sem esperar mais por Berlim, avisa o jornal. “Brasília e Pequim estão assinando os contratos.” Um dos focos do acordo seria a produção de hidrogênio de fontes renováveis.
FINANCIAL TIMES CONTA O QUE VÊ NA ‘CRACKLAND’
Em mídia social, o correspondente do Financial Times na cidade, Michael Pooler, escreveu em tom pessoal: “Eu amo morar em São Paulo. No entanto, desde que me mudei para cá há dois anos e meio, parece que a decadência de seu centro só piorou”. No texto, ele ouve comerciantes, a prefeitura se defendendo, mas não escapa do relato mais direto: “Assim como as fachadas desbotadas de sua imponente arquitetura do século 20, o centro de São Paulo é um lugar de declínio. Embaixo de palmeiras e em frente a igrejas, os onipresentes cobertores grosseiros entregues aos sem-teto são um lembrete constante da miséria urbana... A miséria não é incomum neste país desigual. Mas os níveis em São Paulo, uma cidade de 12 milhões de habitantes, pioraram visivelmente desde que cheguei no final de 2020. Quando mudamos de apartamento há um ano, havia algumas barracas debaixo do viaduto do outro lado. Agora elas são uma dúzia.” Os relatos sobre a Cracolândia são intermitentes há décadas na cobertura internacional, por exemplo, no Washington Post e no Frankfurter Allgemeine Zeitung.