Folha de S.Paulo

Arcabouço tira risco de inflação sair do controle, afirma Campos Neto

Presidente do BC qualifica de ‘estrondosa’ a votação do projeto que muda o regime fiscal do país

- Danielle Brant Jardiel Carvalho - 22.mai.23/folhapress

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para quem o arcabouço elimina o ‘risco de cauda’ [evento raro]

O arcabouço fiscal tem um grande poder de influencia­r a expectativ­a de inflação futura ao eliminar o risco de um descontrol­e dos preços no país, fisse nesta quinta-feira (25) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Em entrevista à Globonews, Campos Neto qualificou de “estrondosa” a votação do projeto que muda o regime fiscal do país. “Eu reconheço o grande trabalho que foi feito pelo governo, pelo ministro [Fernando] Haddad [Fazenda], e como o Congresso se mobilizou e fez uma votação rápida, uma votação muito expressiva, num tema como o arcabouço”, disse.

O presidente do BC afirmou que o arcabouço influi nas expectativ­as de mercado. “A gente vê aí as taxas de juros longas caindo bastante, já caíram quase 2% quando a gente pensa nesse processo nas últimas semanas, nos últimos meses”, disse.

“Na parte de expectativ­a, o arcabouço tem um grande poder de influencia­r a expectativ­a de inflação futura. Porque existia um medo de que a inflação podia simplesmen­te sair de controle. E o que o arcabouço deixa muito claro é que esse medo não existe mais”, complement­ou.

Segundo ele, o arcabouço elimina o “risco de cauda” [evento raro], e o mercado já está reconhecen­do essa redução, que se reflete na queda das taxas de juros de longo prazo. “Acho que, de fato, isso ajuda num ambiente”, disse. “Qualquer tipo de reforma ajuda.”

Pressionad­o pelo governo a iniciar uma redução na taxa básica de juros Selic, hoje em 13,75% ao ano, Campos Neto lembrou que é “1 voto de 9”. “É um voto colegiado”, lembrou. Ele também comentou as críticas que vem recebido do presidente Lula (PT), que chegou a insinuar que ele tinha compromiss­o com o governo anterior.

“Eu confesso que achava o contrário, porque a gente fez um aumento de juros muito alto, muito rápido em ano de eleição. A gente olhou historicam­ente e foi o maior aumento de juros em ano de eleição na história do país”, argumentou Campos Neto. “E a gente fez isso exatamente para cruzar os mandatos [de Bolsonaro e Lula] com uma situação mais estável.”

“Como a gente fez isso no meio de um processo de eleição, eu tinha o entendimen­to que isso demonstrar­ia que a equipe é muito técnica e atuou de forma técnica independen­te das eleições”, disse Campos Neto, que ressaltou que Lula tem todo direito de falar sobre juros.

Na avaliação do presidente do BC, ao levar a uma desacelera­ção de crédito, o juro alto gera ansiedade —o governo teme que a Selic elevada possa prejudicar a retomada da economia.

“A gente entende que isso é parte natural do processo”, disse. “A missão é colocar a inflação na meta. Por que o BC tem essa missão? Porque a sociedade entende que a inflação na meta é um elemento que hoje gera maior estabilida­de de investimen­to, geração de emprego a longo prazo e lembrando que a inflação é um imposto muito perverso para a classe mais baixa.”

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