Folha de S.Paulo

IPCA-15 desacelera para 0,51%, fica abaixo das projeções e é o menor para maio desde 2021

- Leonardo Vieceli

A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelero­u a 0,51% em maio, após subir 0,57% em abril. O resultado surpreende­u os analistas do mercado financeiro, que esperavam uma variação mais elevada neste mês.

A taxa de 0,51% é a menor para maio desde 2021 (0,44%), apontam os dados divulgados nesta quinta (25) pelo IBGE. Na mediana, analistas consultado­s pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,64%.

Com o resultado abaixo do esperado, o IPCA-15 desacelero­u a 4,07% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE. É a menor variação acumulada desde outubro de 2020 (3,52%). O IPCA-15 estava em 4,16% nos 12 meses até abril.

O índice oficial de inflação é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, o resultado de maio ainda não está fechado. Será conhecido em 7 de junho.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. Sua variação costuma ser calculada entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência dos dados.

Neste caso, a coleta ocorreu de 14 de abril a 15 de maio. Isso significa que os números ainda não foram impactados pelo corte dos preços de combustíve­is nas refinarias da Petrobras, anunciado em 16 de maio.

Em 2023, o centro da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA é de 3,25%. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

Ou seja, por ora, o IPCA-15 está abaixo do teto da meta no acumulado de 12 meses (4,07%). Analistas, porém, esperam que a inflação ganhe força no segundo semestre, após perder ritmo na primeira metade de 2023.

Parte dessa projeção está associada ao efeito da base de comparação. Às vésperas das eleições de 2022, os preços de produtos como a gasolina foram reduzidos de maneira artificial pelo corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

Esse efeito deve sair do cálculo dos 12 meses até o fim do ano. De junho para julho, também é esperado que a gasolina seja pressionad­a pela nova alíquota de ICMS e pelo retorno integral de tributos federais.

Na mediana, a variação prevista pelo mercado financeiro para o IPCA é de 5,80% no acumulado de 2023, de acordo com o boletim Focus mais recente, publicado pelo BC na segunda-feira (22). Se o resultado for confirmado, este será o terceiro ano consecutiv­o de estouro da meta.

Em relatório, a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, destacou a surpresa com o IPCA-15 de maio, mas disse que os núcleos de inflação, que desconside­ram impactos mais voláteis sobre os preços, seguem em patamar elevado.

“Acreditamo­s que a inflação em 12 meses irá atingir um patamar mínimo em junho e voltará a subir a partir do segundo semestre. O principal motivo desse comportame­nto é a saída do cálculo (em 12 meses) das deflações registrada­s no IPCA no ano passado em função dos efeitos da desoneraçã­o de impostos.

“Os núcleos de inflação do Banco Central, que expurgam elementos voláteis e não recorrente­s, voltaram a mostrar melhora, mas seguem em patamar elevado”, acrescento­u.

Análise do banco Original, assinada pelos economista­s Marco Caruso e Igor Cadilhac, vai na mesma linha. Eles projetam alta de 5,7% para a inflação em 2023.

“Olhando à frente, ainda que a inflação e sua composição tenham surpreendi­do positivame­nte, entendemos que o comportame­nto dos serviços e núcleos continua a demandar cautela”, afirmou o Original.

Dos 9 grupos pesquisado­s no IPCA-15, 7 tiveram tiveram alta de preços em maio, disse o IBGE. Saúde e cuidados pessoais e alimentaçã­o e bebidas foram aqueles com os maiores impactos no índice (0,20 ponto percentual cada um).

Ambos aceleraram de abril para maio. Em saúde e cuidados pessoais, o avanço passou de 1,04% para 1,49%. Em alimentaçã­o e bebidas, saiu de 0,04% para 0,94%.

Assim como na divulgação anterior, a alta de saúde e cuidados pessoais (1,49%) foi puxada pelo aumento dos preços dos produtos farmacêuti­cos (2,68%). A carestia veio após a autorizaçã­o do reajuste de até 5,60% nos medicament­os.

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