‘Subtract’, novo álbum de Ed Sheeran, traz uma versão mais amadurecida do artista britânico
MÚSICA Subtract ★★★★ ★ Artista: Ed Sheeran. Gravadora: Asylum Records. Disponível nas plataformas de streaming
O álbum “–”, ou “Subtract”, chega como síntese da jornada recente do britânico Ed Sheeran. Milionário e consagrado, capaz de se conectar emocionalmente com pessoas de todo o tipo, o britânico é uma pessoa para quem talento e fortuna sorriram com intensidade. O que poderia dar errado em sua vida?
De 2022 para cá, muita coisa. Em fevereiro do ano passado, sua esposa Cherry Seaborn, então grávida de seis meses da menina Jupiter, o segundo filho do casal, descobriu um tumor no braço.
No mesmo mês, um dos melhores amigos do cantor e responsável por lançar sua carreira, o empresário Jamal Edwards, morreu aos 31 anos depois de uma noitada movida a álcool e cocaína.
Mais recentemente, Sheeran foi alvo de um processo por parte da família do cantor americano Marvin Gaye. Segundo a ação, “Thinking Out Loud” havia plagiado “Let’s Get It On”, clássico de Gaye. Recentemente, um júri de Nova York absolveu Sheeran.
A ideia de subtrair, presente no título, expressa bem a intenção acústica do álbum. São faixas que trazem poucos elementos sonoros e em que a voz do cantor tem mais presença e nuance.
A ideia de subtração se alinhou também com as adversidades recentes do cantor. Como Sheeran contou no Instagram, “Subtract” vinha sendo preparado há muito tempo, mas as circunstâncias forçaram uma mudança de rota brusca. “Assim, em pouco mais de uma semana, troquei uma década de trabalho pelos meus pensamentos mais sombrios e profundos”, afirmou.
Em muitas maneiras, é o registro de um artista ficando mais maduro e calejado pela vida e suas experiências difíceis. Letras que falam de vulnerabilidade, sofrimento e fraqueza atravessam o trabalho.
Já na segunda música, “Salt Water”, Sheeran canta sob a perspectiva de um suicida que escuta o vento dizer que “tudo bem fugir de toda essa dor”.
Em “Curtains”, segundo explicação do próprio Sheeran, a letra descreve um amigo que usava mangas compridas para esconder marcas de automutilação. O tom aqui, no entanto, é mais esperançoso: “Você pode abrir as cortinas? Deixa eu ver a luz do Sol”.
“Dusty” traz um contraponto positivo ao descrever a convivência entre Sheeran e sua filha ao som de discos da cantora inglesa Dusty Springfield. “Que maneira de começar o dia com você”, canta o artista. É um sentimento de procurar “beleza quando as coisas estão sombrias” —um trecho da faixa “Boat”.
É possível questionar diversos aspectos da obra de Sheeran, em especial letras que frequentemente se apoiam em frases pouco originais.
São formulações que funcionam, mas raramente brilham —“as ondas não irão quebrar meu barco” ou “os pássaros pretos voam e fazem o céu franzir”.
Nada disso, porém, tira a força e a sinceridade do que se ouve aqui. Sheeran abriu muito o coração, e sua música só ganhou com isso.